Consequências

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A busca pelo saber do que vem depois da morte sempre fora uma questão para humanidade, seja ela bruxa ou trouxa. No entanto, Severus nunca queimou os miolos pensando no que viria depois do fim. Seja a escuridão ou algum tipo de punição, o jovem não dava a mínima. Afinal, o fim seria o fim, independente de se ter conhecimento sobre ele ou não. O jovem sempre optou por viver um dia de cada vez, se afastando das mórbidas reflexões. Contudo agora, face a face com a morte, temeu pelo o que viria quando seu corpo cansado se entregou.

      A princípio, abrir os olhos novamente tinha sido uma tarefa quase impossível. A claridade inundava as vistas e, mesmo que não o incomodasse fisicamente, Severus se sentia extremamente vulnerável com a intensidade da luz. Não fazia ideia de onde estava, o que por si só já era uma grande desvantagem, sendo assim, a exposição o tornava ainda mais como uma presa fácil.

       Enquanto se levantava, o jovem analisava cautelosamente ao seu redor, buscando por algo que soasse ameaçador. Porém, Severus se deparou com o mais profundo nada. As árvores apenas balançavam manhosas, assim como a vegetação rasteira abaixo de seus pés. O sentimento de déjà-vu tomava-lhe o peito e por um segundo jurou que reconhecia o lugar.

        O bosque denso e a trilha pouco sinuosa eram estranhamente familiar. As memórias lhe atingindo brutalmente. Como pode não reconhecer de primeira? Conhecia aquele lugar como a palma da mão. Afinal, jamais poderia se esquecer os detalhes de onde passara os melhores dias de sua vida. Era costume de Albus levar o filho para lugares especiais em seu tempo livre e aquela floresta, tinha sido o destino mais requisitado por Severus. O garotinho amava correr por entre as árvores despreocupado, se jogando nos braços do pai quando o cansaço surgia e recebendo aquele afago terno nos cabelos. O menino sempre voltava dos passeios com um sorriso enorme, o cabelo trançado e ostentando orgulhosamente as coroas de flores que tinha feito. Tudo tão simples e genuinamente feliz que Severus não pode conter um sorriso por estar de volta alí. Era vivo.

         Porém, a brisa fria e a cor alva que tingia as matas traziam o gosto amargo da realidade. Não estava onde pensava. Definitivamente, onde quer que fosse, estava longe do que seria a vida. Sentir desesperado foi inevitável, tateando o corpo em busca de sua varinha. A garganta em nó se embolando ainda mais quando não a encontrou. A floresta que antes parecia bela se tornando a cada segundo mais sufocante. Precisava de algum sinal mas ao redor só via um tenebroso mar de branco.

          A ansiedade revirava o estômago. Não podia ficar alí parado mofando sabe se lá onde. As pernas respondiam sozinhas ao mal sentimento de Severus, correndo trilha adentro. Os olhos buscavam por todos os lados algum sinal, desde uma relance de cor a algo que parecesse uma passagem. E foi ali, no meio dos troncos, que avistou a conhecida cabeleira ruiva. Os pés pararam de súbito quando a imagem de Albus Dumbledore entrou em seu campo de visão. Encostado de pé na madeira escuta, o homem focava na leitura em mãos. Calmo e, acima de tudo, vivo.

          - P-pai?- a voz saía embargada, ao passo que os olhos de Severus marejavam. O olhar de Albus rapidamente deixou de lado o livro, para voltar-se, repleto de confusão, para o filho à poucos passos de si.

           - Severus?- respondeu com o rosto contorcido em dúvida.

            Aquilo foi a gota d'água para Severus. Ouvir o pai novamente e tê-lo tão perto depois de tudo era avassalador. Sendo assim, o jovem não pensou duas vezes em se jogar nos braços do mais velho que não titubeou em agarra-lo, mesmo que sem entender totalmente.

            As lágrimas desciam desenfreadas pelo rosto, encharcando as roupas de Albus que apenas o acolhia mais no abraço. O coração apertava como o inferno fazendo o jovem soluçar sem pudor enquanto enfiava o rosto no meio do peito do mais alto. Queria ouvir os batimentos cardíacos de novo e ao não ouvi-los, o choro aumentou. Agarrava-se cada vez mais ao outro. Não queria o soltar nunca mais. Não podia deixar que fosse embora mais uma vez. Precisava de Albus por perto, do carinho e do apoio que o outro o proporcionava.

O HerdeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora