O Herdeiro

O palácio

A beira de um colapso.

        Era assim que Remus Lupin se sentia desde que a carta anunciando a morte de Dumbledore chegara em suas mãos. Antes mesmo de receber a correspondência, o jovem já estava exausto. Não que fosse algo incomum. Todo mês, desde os 4 anos de idade, o mesmo cansaço o atingia religiosamente. Assim que a lua cheia atingia seu ponto mais alto, Remus deixava a forma humana para a de lobisomem.

        Quando era criança, o menino tinha esperança de que algum mês, por algum acaso, aquilo pararia e as transformações nunca mais viriam. Porém, os sonhos infantis já tinham deixado sua mente a muito tempo. O jovem já estava familiarizado com os efeitos das transformações, desde cair naquela maldita inconsciência até tratar os cortes recém abertos na manhã seguinte. De todo o jeito, pelo menos não precisava passar por aquilo sozinho. Tinha Pontas e Almofadinhas consigo, o acompanhando noite a dentro e cuidando do corpo frágil pelo amanhecer.

         Mesmo assim, se dissesse que não era desgastante estaria mentindo descaradamente. E, por infelicidade do destino, poucos dias antes da carta fúnebre chegar, havia sido noite de lua cheia. Tudo que Remus queria era se recuperar no conforto da cama, mas as responsabilidades falaram mais alto.  Logo o problema da morte de Albus que já era grave foi se tornando uma enorme bola de neve, tornando a ideia de sossego um sonho distante. A proposta de casamento e a fuga do príncipe no mesmo dia só pioraram a situação para Remus, que a esse ponto já não se lembrava do que era ter uma boa noite de sono.

         Ainda que tivessem achado o príncipe com vida e adiado o casamento por um mês, o lupino não pôde descansar. Precisava organizar uma série de coisas voltadas ao casamento e a chegada de Severus ao reino. Apesar de ter a ajuda dos amigos, ainda tinha muita coisa sobre si. Sequer teve tempo para parar desde então. Quando finalmente podia relaxar o corpo no fim do dia, demorava horas para silenciar a mente agitada, resultando em uma insônia irritante.

          Porém, agora a situação parecia muito perto de acabar. A cerimônia já havia sido feita e a parte burocrática estava por um triz. Apenas faltava agendar o transporte das coisas que Severus deixara no reino de Sonserina e poderia finalmente respirar em paz. Por isso, assim que pisou de volta ao castelo, se apressou para seu escritório para que pudesse resolver a questão o mais rápido possível. Quando recebeu a correspondência com o selo de Salazar dizendo que as coisas de Severus seriam enviadas e chegariam ainda a noite, não pode evitar de suspirar aliviado. Parte do peso que carregava nas costas se aliviando subitamente.

           Entretanto, ainda restava uma coisa a ser feita antes de folgar o resto do dia, parando enfrente ao quarto de Severus. Tinha ficado responsável por apresentar o palácio para o sonserino. Parte de Lupin temia que alguma discussão surgisse. Estava exausto de mais para isso, mas já conhecia o temperamento ruim de Severus e não tinha tanta confiança em na própria paciência naquele momento. Controlar as emoções era uma de suas especialidades, mas com todo cansaço aquilo se tornava muito difícil. Por isso, o jovem respirou fundo antes de bater na porta a sua frente.

            Demorou alguns minutos para que algum sinal de vida fosse dado. Quando Remus já estava cogitando ir embora, a porta foi aberta. O sonserino parecia ter acabado de se levantar. Ainda usava a mesma roupa que chegara, mas agora só vestia a calça social e a blusa preta com os botões abertos. O rosto zangado e amassado, tal como o cabelo desgrenhado, diziam que estava tendo um ótimo sono até ser interrompido. Engolindo em seco , Remus pensou se não seria melhor ir embora.

           - Oi! Eu vim para te mostrar o lugar.- sorriu gentilmente.

           - Um segundo.- Severus disse depois depois de bufar, fechando a porta do quarto mais uma vez.