Dois

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Adorava os dias frios. Sentir a pele arrepiada pelo vento gelado, precisar se enfiar debaixo do enorme edredom fofinho para ficar aquecido. E claro, a facilidade em ficar pequeno, poderia passar o dia todo assistindo desenho enquanto bebia toddy na mamadeira do ursinho pooh.

Mas dias frios eram nublados e assustadores quando se estava triste.

Havia passado a noite inteira trancado no antigo quarto da casa onde nasceu. Mic tentou arranjar respostas junto de Aizawa, mas, logo de manhãzinha, o arroxeado já havia ido embora, e desligado seu celular.

Sua cabeça doía por causa do choro, os olhinhos estavam inchados e o rosto terrivelmente avermelhada. Uma chupeta do ursinho pooh residia em seus lábios, o corpo deitado no sofá luxuoso da casa nova parecia pequeno encolhido daquele jeito. Bakugou, que tentava animá-lo brincando com os cachinhos de seu cabelo, havia perdido a paciência no quesito chamado Denki Kaminari, e se levantou minutos atrás, começando a logo enviar áudios enfurecidos para o namorado.

— Kirishima, eu sei que o Kaminari está com você. — Falava novamente, o barulho alto assustava o arroxeado, que mesmo estando bem próximo de entrar no baby space, ficava sensível a tudo naquele momento. — Ou você obriga ele a vir aqui, ou eu vou cortar as bolas de vocês dois e vender no Ebay!

Encerrou rapidamente o áudio, encarando enraivecido os quarenta áudios que havia mandado e nada do Ruivo ter visualizado. Também tinha deixado cem ligações para Denki, mas o maldito telefone sempre caia na caixa postal. Não aceitava que ele ignorasse ou rompesse o namoro do melhor amigo somente pelo arroxeado ser um regressor.

Se virou de imediato na direção do arroxeado, o coração doeu imensamente ao vê-lo encolhido abraçando o próprio corpo enquanto fazia sons baixinhos com a chupeta. Foi rapidamente ao seu encontro, sentando-se ao lado do melhor amigo e começando a fazer carinho nos cachinhos roxos do rapaz.

— Shinshin… — Chamou, preocupado quando Hitoshi ergueu o olhar marejado e vermelho em sua direção. — Quer colocar algum desenho? Eu faço aquele toddy gelado na mamadeira que você tanto gosta!

Ele negou com a cabeça, e voltou a abaixa-lá, mais uma vez os cachos cobriram completamente parte de seu rosto. Bakugou suspirou, Shinsou adorava aqueles dias frios para comer besteiras e assistir muitos desenhos, mas agora ele sequer dizia ou reagia da antiga forma.

Queria matar Kaminari. Tudo o que conseguira entender do melhor amigo chorando muito, foi "Ele me odeia", ou "Ele foi embora, perdi o amor da minha vida". De imediato Katsuki já havia entendido, e só não saiu da casa nova do arroxeado para caçar Denki e castra-lo pois Shinsou o impediu lhe segurando pelo pulso. Então decidiu que precisava dar mais atenção a ele, poderia matar Kaminari depois.

— Olha, nós aprendemos a fazer umas comidas brasileiras também, lembra? — Se arriscou a perguntar, mas Hitoshi apenas assentiu, sem olhá-lo diretamente. — E se, eu fizesse canjicão, e a gente pode fazer uma maratona de cocoricó?!

Um pequeno manejar de cabeça, o arroxeado a virou minimamente na direção do melhor amigo, vendo Bakugou arqueando as sobrancelhas pela possibilidade do rapaz ter se animado um pouquinho com a ideia. Mas, para a sua tristeza, Shinsou deu de ombros, voltando a ficar encolhido e com uma expressão entristecida.

O negócio estava ficando preocupante.

Pensou em entrar no próprio little space para lhe fazer a devida companhia, ou até se oferecer em ser o caregiver do melhor amigo, já viu casos daquele tipo, quando o barulho da campainha ecoou várias vezes.

Shinsou ergueu-se, arrastando seu corpo pelo sofá ou tão rápido quanto retirou a chupeta dos lábios.

Bakugou respirou fundo, já preparado para manter quem quer que fosse embora quando se levantou, cada passo parecia pesado assim como os punhos cerrados. O coração de Hitoshi bateu num ritmo desesperador no momento em que a porta fora aberta, não queria ver ninguém, e perceber de quem se tratava, fizera a sua alma gelar.

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