Bri se empoleirou em um dos assentos do jatinho particular, com sua garrafinha de água da Sailor Moon ao lado, que combinava com a capinha do celular e com a área de trabalho do tablet e do Macbook que agora ela tirava de dentro da mochila.
— Tenho que admitir, gosto disso aqui. — Ela observou o interior da aeronave, os olhos brilhando como se fosse uma criança em uma loja de doces.
O jato tinha sido alugado por Sebastian para que os membros da família pudessem viajar com mais segurança. Para mim não fazia diferença, eu podia muito bem viajar em um avião comum, mas Nicol também tinha feito questão. E como o lema ultimamente da família real era, segurança acima de tudo, longe de mim discutir ou criar caso. O jeito era aproveitar nem que fosse por um momento, as quase uma hora de viajem de Montreux até Kali.
— Só que por mais que eu goste da comodidade — comecei, pegando eu mesma minha garrafinha de água comum, na cor azul-celeste de plástico transparente que eu carregava orgulhosamente dentro da bolsa térmica. Um presente de uma das crianças do centro. O serviço de bordo não tinha começado e eu não queria incomodar as duas comissárias. — Mal posso esperar para chegar em casa. Não gosto de ficar separada do meu filho por tanto tempo assim.
Nicholas tinha acabado de fazer um ano, e, agora, se encontrava aos cuidados de sua babá, Lilian Barse, uma moça que tinha passado pelo mesmo treinamento que as babás da Nicol, além de ter estudado no mesmo lugar. Era uma moça gentil, bastante simpática e de confiança que tinha passado pelo escrutínio do chefe de segurança de Sebastian, Warren. Nick estar com ela, me deixava mais calma.
Eu podia trazê-lo nas viagens, sim, mas além de ser estressante pra ele, seria um custo ainda maior, trazer além das babás, seguranças pra mim e para ele, para quando precisasse ficar para trás, no hotel, enquanto eu trabalhava. Já tinha tido essa experiência. Então a opção de ficar com Lilian tinha sido a mais viável, infelizmente não a menos sofrida.
— Entendo. Também não gosto de ficar sozinha sem o meu bebê. — Bri deixou escapar uma risada baixa, os olhos com um brilho diferente ao mencionar o namorado de longa data, quase noivo, assim ela gostava de dizer. — Ele deve estar louco sem mim. — Ela abriu o mac no colo, depois deu um gole na garrafa de água. Eu fiz o mesmo.
— Como vai o Mike?
— Ele está ótimo. Completamente focado na maratona de domingo. — Ela sacudiu os ombros. — Mal posso esperar. — Brigite se referia à maratona de Pulon, que aconteceria no domingo, como parte das celebrações ao festival de Sarris. Festival esse que costumava ser muito celebrado anos atrás em homenagem a Ludo Sarris e Savino Pulon, fundadores da cidade, mas o antigo rei havia feito questão de deixar essa tradição morrer. Fazia uns dez anos que o festival não era realizado, e agora, os conselheiros reais, junto ao primeiro ministro e ao prefeito de Kadia acharam importante reviver algumas tradições e reanimar o povo.
— Você também vai correr?
— Sim. — Ela revirou os olhos, parecendo não tão animada assim. — Mike me convenceu. Sabe como é louco por esportes. Eu no máximo fico feliz de ir no crossfit uma vez sim outra vez não. Mas aí começamos a treinar juntos pra corrida e aqui vou eu, sabe... — Ela ergueu os olhos castanhos e me encarou. — Você devia participar de algum dos eventos também. Nem que seja pra correr por um quarteirão.
— Ah, obrigada pelo voto de confiança. — Sorri. — Mas esportes também não são o meu forte. E além do mais vou estar trabalhando no dia. — Bri tinha baixado os olhos para a tela do computador, então voltou a me encarar com a rapidez de um foguete subindo ao céu.
— Como assim? É domingo — disse ultrajada, como se eu a estivesse obrigando a trabalhar no domingo.
— Eu sei — dei de ombros. — Mas é o dia em que algumas crianças do centro vão se reunir e distribuir água para os corredores na linha de chegada, e eu vou estar lá coordenando e cuidando de tudo.
— Por quê?
— Porque essa atividade conta como carga horária para muitos dos nossos alunos e eles gostariam de participar.
— E você lógico, se ofereceu...
— E eu lógico me ofereci. — Ninguém mais tinha se disposto, porque era domingo e algumas das crianças e dos jovens que cuidávamos queriam participar, então me dispus. Meredith disse que tinha recebido um e-mail da coordenação ontem e estavam desesperados. Eu nem pensei muito. — Já conversei com a Lilian, ela vai ficar com o Nicholas...
— Precisa trabalhar menos e se divertir mais, Nora.
— Estarei me divertindo.
— Sabe o que quero dizer. Dançar, cinema... — Eu conhecia aquela lista interminável. Já tinha ouvido mais de uma vez e vinda de diferentes pessoas. — Precisa de um namorado isso sim. — Dei um gole demorado na garrafa. Desta vez, a água desceu arranhando minha garganta, mas infelizmente o nó que se formou não desfez. Senti calafrios só em ouvir aquilo. Olhei para o lado, rapidamente, para os guarda-costas, mas nenhum deles parecia prestar atenção à conversa. Ao menos nisso eram discretos.
Respirei fundo e sustentei o sorriso pelo máximo de tempo que consegui, até que ela baixou de novo os olhos para a tela do computador e eu senti a tensão se esvair aos poucos. O nó claro, continuava ali.
— Enfim... vejo você lá na maratona. — Os cantos da boca dela se ergueram em um sorriso sincero.
— Vou ser aquela distribuindo água. — Nós duas rimos.
Em seguida a comissária de bordo passou por nós e pediu que colocássemos os cintos, e em questão de minutos, decolamos.
Chegamos em Kali dentro do horário previsto. Respirei aliviada quando finalmente tocamos o solo, e ao olhar para o lado, vi uma sonolenta Bri resmungando no assento ao quase perder sua garrafa. O jato terminou de taxiar na pista e, momentos depois, tivemos autorização para descer. Peguei minhas coisas correndo, seguindo Brigite para fora, e antes de sair, cumprimentamos as comissárias de bordo, piloto e copiloto.
Assim que cheguei à porta o vento gelado do fim de março, acoitou meu rosto, jogando os fios soltos do coque que eu usava, contra os meus olhos. Quase me desiquilibrei nos saltos. Tive que me segurar com força na lateral da escada, pois se caísse levaria Brigite comigo.
— Parece que a cavalaria chegou, madame. — Cuspi o cabelo da boca e ergui o rosto para ver do que ela falava.
Arregalei os olhos ao notar a fileira de carros do outro lado, e em seguida cravei os olhos na figura parada diante do grupo de guarda-costas nos esperando. Droga.
Ele estava ali. Ele não deveria estar ali. Bem, era o trabalho dele, mas ainda assim não deveria. Nora pelo amor de Deus se recomponha, não é nada de mais.
Obriguei minha mente a focar no aqui e agora e não no passado... Mesmo assim minhas bochechas ficaram quentes sem que eu pudesse impedir. Maravilha.
Eu não conseguia tirar os olhos dele e me vi analisando cada detalhe.
Warren estava impecável em um terno escuro, usando óculos de sol, camisa, sapato social preto e gravata cinza. Tudo isso debaixo de um casaco de frio, o uniforme padrão dos guarda-costas da família real, que pertenciam ao DOE (Diretório de Operações especiais), grupo montado por Garret, Warren e Brant com o aval de sua majestade. Warren era o chefe, o superintendente. Eles protegiam a família junto com a guarda real e funcionavam tipo um serviço secreto.
Engoli em seco e continuei descendo os degraus, indo em direção ao grupo que nos esperava, e quanto mais eu me aproximava, o bolo no meu estômago aumentava. E quanto mais eu chegava perto, mais ciente ficava da presença de Warren, parado ali, nos observando. Mesmo que estivesse de óculos escuros eu podia sentir aquela energia estranha pairando no ar ao meu redor.
E quando ele tirou os óculos, os olhos cravados nos meus, senti quase como se o chão tivesse desaparecido debaixo de mim.
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Meu conto de fadas secreto (DEGUSTAÇÃO)
ChickLitNora Bouvier foi treinada à vida inteira para ser perfeita em tudo, a filha perfeita, a esposa perfeita. Hoje, as coisas mudaram. . E tudo o que ela quer é cuidar de seu filho em paz, e ter uma vida tranquila. Isso se os inimigos que a rodeiam permi...