Capítulo 6

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No dia seguinte, a cidade estava em polvorosa com o festival. Parecia que todo mundo tinha acordado cedo no sábado para ver a abertura que aconteceu no centro da cidade, com uma parada que teve a participação de várias escolas, depois dos vários agrupamentos locais. A fanfarra municipal também arrastou multidões. As ruas estavam lotadas, decoradas com bandeirinhas coloridas e fitas. Havia bancas de comida, vendedores ambulantes circulando com algodão doce e balões. Eu tinha saído com Nicholas, a babá e os seguranças para dar uma volta rápida pela cidade e para irmos ao parque. E pelo pouco que vi fiquei, impressionada.

Eu não me lembrava de ver nossa cidade tão colorida e feliz em anos. Não que eu fosse de sair muito. Sempre tinha vivido a maior parte da minha vida trancafiada dentro dos muros da escola, realizando atividades que as freiras julgassem serem apropriadas para uma mocinha da minha idade.

Quando retornei, dois anos atrás, tudo tinha mudado, estava diferente do que eu lembrava e o povo estava revoltado. Agora, com Sebastian no poder, havia promessa de renovação, o que acontecia aos poucos. Claro havia os desgostosos que sempre tinham uma palavra ou outra sobre o modo como o rei governava. Mas em sua maioria, eram elogios vindo de todas as partes do mundo, e a mídia se dividia em enaltecer e às vezes criticar. Tudo dentro do esperado em se tratando da realeza.

Como as coisas tinham ocorrido bem no sábado, era esperado que no domingo tudo desse certo também. O frio do final de março até parecia mais ameno que de costume, não havia uma nuvem carregada no céu até o momento, então para todos os efeitos esse seria um dia perfeito. E as crianças do centro estavam animadas. Éramos um grupo de dez. Cinco adolescentes e quatro outros entre dez e catorze anos todos afoitos trabalhando para carregar a caminhonete na frente do centro, com coolers de água e todo resto que precisaríamos para arrumar a tenda.

— Ano que vem quero correr também — disse Cecily, uma das meninas do meu grupo, ao me entregar um pacote de água mineral para colocar atrás, da caminhonete. Ela parecia uma mini corredora, usando legging escura, moletom de capuz rosa, luvas e tênis pretos e os cabelos cacheados presos em um rabo de cavalo. Ela era nossa esportista. — Não era pra ter restrição por idade. Não quero correr na maratona das crianças. — Ela torceu o nariz o que me fez rir. — Nora, você bem que podia falar com o rei.

— Cel? — A mãe dela, Julia vinha logo atrás trazendo uma cesta grande na mão que parecia pesada. — Isso é jeito de falar com a princesa?

Engoli em seco, um sorriso no rosto, tentando ignorar o ligeiro frio no estômago ao ouvir aquilo. Eu não era princesa, nunca tinha sido. Não quando meu pai era um usurpador e Sebastian sempre tinha sido o rei por direito. No máximo eu era a irmã da rainha e tinha me recusado quando Nicol me ofereceu um título de duquesa, como que para compensar minha perda de status. Ainda assim, não costumava corrigir aqueles próximos a mim, e os que trabalhavam no centro. Eles estavam acostumados a isso e seria um hábito que talvez perdessem com o tempo.

— Desculpa, Nora. — A menina lançou um olhar arrependido na minha direção.

— Não tem problema. Na verdade, eu posso sim falar com Sebastian sobre ano que vem, que tal? — Seria mais uma sugestão apenas.

Cecily deu um pulo erguendo os braços, um sorriso largo no rosto e os olhos brilhando de entusiasmo.

— Essa menina não tem jeito. — A mãe dela balançou os densos cabelos escuros, em seguida estendeu os braços na minha direção me entregando a cesta. Olhei para o objeto, piscando algumas vezes sem entender nada. Havia garrafas ali dentro? — Um lanche pra quando der fome no meio da corrida.

— Não precisava, Julia. — Peguei a cesta finalmente, lançando um olhar de compaixão na direção da mulher que era sempre gentil comigo. — Mas muito obrigada.

Meu conto de fadas secreto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora