Capítulo 3

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— Moças

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— Moças. — Eu as cumprimentei com um aceno de cabeça assim que elas se aproximaram. Brigite como sempre alargou o sorriso e estendeu a mão para apertar a minha, gesto que eu retribuí de imediato. Com a Nora, o negócio era mais embaixo.

Ela não parecia nenhum pouco feliz em me ver, o que não era uma novidade, não desde nosso encontro meses atrás que acabou em merda... Ela fugia de mim como se eu estivesse com alguma doença contagiosa, ou tivesse cometido um crime. Ok, o que ela viu não foi nada legal, mas eu não ia sentir vergonha pelo que tinha feito. Eu me recusava...

Mesmo assim eu tinha tentado falar com ela depois disso, mas tinha sido ignorado com sucesso, por isso achei melhor recuar. Era o melhor a se fazer. Pensei que com o tempo as coisas melhorariam entre nós, mas até o momento tudo o que eu tinha conseguido foi gelo puro. E, semanas atrás, as coisas só pioraram, quando a bela irmã da rainha parecia que ia soltar faíscas pelos olhos quando apresentei seus novos guarda-costas e seu novo plano de segurança.

Quando achei que ela fosse dar uma de Nicol e me jogar um vaso, Nora apenas respirou fundo e aceitou tudo. Não sabia qual era o pior, gelo e silêncio ou gritos e vasos.

Ainda assim foi como se eu a tivesse xingado em três línguas diferentes. Então o que já não era muito bom, azedou... E daí foi só ladeira abaixo. Ela me tratava com a cordialidade de alguém que era obrigada a falar com um parente distante, do qual não gostasse. Eu francamente podia me importar menos com isso, contanto que ela não discutisse comigo em relação à segurança.

Tudo bem eu gostaria sim que ela me dissesse alguma coisa, em algum momento...

— Como vai? — Brigite se aproximou e me deu um beijo de cada lado do rosto.

— Vou bem. E como foi a viagem? — Olhei dela para Nora que encolheu os ombros e ergueu os cantos da boca em um sorriso sem graça, a sobrancelha arqueada em uma expressão de desagrado.

— Foi... boa. — Nora respondeu sem parecer muito convicta. Eu poderia estar perguntando sobre as horas e ela com certeza me responderia do mesmo jeito. — Bastante promissora na verdade.

— Oh — Arregalei os olhos, um tanto surpreso por aquela resposta, quando achei que receberia o tratamento do gelo como sempre. — Sério?

— Sim. — Nora afirmou com um aceno de cabeça e antes que eu pudesse continuar a conversa ela simplesmente se virou e foi em direção ao carro, puxando a mala de rodinhas.

— E então está pronto para o festival? — Bri emparelhou acompanhando meu passo.

— Com certeza.

— Vai participar da maratona? — Os olhos dela cintilavam animados. Eu francamente não sabia que ela era do tipo maratonista, e olha que eu a conhecia bem antes de ser contratada pela família real, para trabalhar com a Nora. — Eu acho que devia ir.

— Não. Estarei trabalhando no dia — falei.

— Outro? — Bri lançou um olhar de esguelha para Nora, que ia a nossa frente, um sorrisinho nos lábios. — Nora acho que achei seu par. — Brigite falou alto o suficiente para ser ouvida por todos. Pude jurar que vi a Nora perder o compasso e seus ombros ficarem tensos. Ou pode ter sido só imaginação minha. De qualquer maneira ela não disse nada quanto a isso e continuou caminhando.

Um dos seguranças mal tinha aberto a porta do carro, ela entregou a mala de mão pra ele e se enfiou lá dentro como se sua vida dependesse disso.

— Então, guarda-costas — Bri se virou pra mim antes de seguir a chefe, para dentro do carro. — Vê se vai torcer por mim na corrida. — Aquilo não pareceu muito encorajador. — A Nora vai estar lá. — Ergui uma sobrancelha e ela alargou o sorriso.

— Mike vai com você? — Quis desviar do assunto.

— Quem você acha que me obrigou? — Ela revirou os olhos.

— Bem a cara dele isso. — Voltei a colocar os óculos escuros.

— Você sabe, as coisas que nós fazemos em nome do amor. — Ela entrou finalmente. Eu apenas balancei a cabeça concordando, mesmo que Bri não pudesse ver, e entrei em seguida.

A viagem de volta ao palácio foi silenciosa. Bri ficava mexendo no celular digitando qualquer coisa e só falava o indispensável com a Nora, sentada a minha frente, com os olhos grudados na janela. Pernas cruzadas, o pé batendo de leve no assoalho em um ritmo acelerado e irritante. Ela ficava apertando os dedos enluvados como se fosse estalá-los, então parava e começava tudo de novo. Eu até tentei puxar assunto mais de uma vez, mas como o esperado, apenas Bri aceitou de bom grado engajar em alguma conversa, antes de ser distraída pelo telefone em uma chamada bastante entusiasmada, com o namorado.

Então aproveitei o momento e a proteção que os óculos escuros me permitiam, para analisar a figura silenciosa da Nora. Observei os lábios rosados nem tão grossos nem tão finos, enquanto ela os umedecia de leve passando a língua, e as vezes mordia antes de pressioná-los em uma linha fina. Pequenos movimentos que observei fascinado e intrigado, tentando imaginar o que passava pela cabeça dela. Com certeza devia estar pensando no filho, ou do jeito que me ignorava, podia estar contando os segundos para sair deste carro. Capaz de até abrir a porta e sair correndo agora mesmo.

De repente ela ajeitou a gola da camisa revelando um pouco mais do pescoço elegante e esguio. Algumas mechas loiras que tinham escapado do coque, roçavam os ombros tensos, enquanto ela tentava afastá-las parecendo incomodada. E embora estivesse focada em algo bastante interessante do lado de fora — e o pé balançasse como se fosse sair decolando, e apertasse os dedos novamente —, sua respiração era calma, contida. Se não estivesse prestando atenção, poderia imaginar que Nora era uma estátua, de tão imóvel que estava agora... Só que esse era o problema, eu estava prestando atenção demais e não conseguia tirar os olhos, agradecendo mentalmente por estar de óculos escuros. Se ela pudesse me ver com certeza ficaria aborrecida

Houve um momento que a Nora ficou tão quieta que achei que tivesse congelado. Abri a boca para falar com ela... qualquer coisa que a fizesse sair daquele transe, mas fui distraído pelo toque do celular. E só com o barulho, as duas mulheres olharam pra mim rapidamente, antes de voltar a me ignorar.

— Alô! — Atendi depois de ver que era o Garret.

— Não se esqueça da reunião. — Ele disse de imediato, em tom de aviso, assim que atendi.

— Não me esqueci, já estou indo. — Bufei sem conseguir esconder minha irritação.

— Onde você está?

— Trabalhando, oras, onde mais?

— Não era seu dia de folga hoje? — Me ajeitei desconfortável no assento e lancei um olhar rápido para Nora, antes de encarar o chão.

— Lembra que eu troquei com o Brant? Vou participar do festival.

— Quer dizer, trabalhar no festival?

— Você me entendeu. — Como aquela criatura era irritante. Tinha horas que eu me perguntava como a Alice aguentava. Devia ser uma santa.

— Sempre trabalhando... Sebastian tinha te liberado. — Ele fez questão de me lembrar. Sebastian tinha insistido que eu tirasse alguns dias de folga, eu francamente não tinha nada pra fazer, então aceitei minha sina de bom grado.

— Só me ligou pra isso?

— Sim, querido. Pra isso e pra saber onde você estava. Vem pra cá assim que chegar... — Bufei, alto o suficiente para que ele ouvisse do outro lado. — Pera... você não disse onde estava...

— Tchau, Garret. — Desliguei antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa. E em seguida voltei a enfiar o celular no bolso do paletó.

Meu conto de fadas secreto (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora