01: Prólogo; Lepidoptera.

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Me ligue além da fronteira
Tudo muda, tudo desmorona
Estendo a mão para além da porta trancada
A dor me recebe, é um festival de sede

Na verdade, estou assustado
O meu reflexo no espelho é estranho
A verdade patética por trás dessa máscara
Mas eu nunca escapo
Drunk-Dazed ENHYPEN.

13 de outubro de 2017, 01:56 AM, algum lugar no mar próximo à Incheon.

O som da música reverberava tão alto por toda parte, que pareceu que seus tímpanos certamente explodiriam a qualquer instante. Era como se, só mais um nível de volume a mais, e seus miolos estariam espalhados pelas paredes psicodelicamente coloridas e vibrantes daquele navio.

Porém, só pôde pensar nisso por um mísero instante. O nível de álcool somado a algumas outras substâncias ilícitas navegando em seu organismo juntamente de todo o calor e suor que emanava de todas aquelas pessoas enérgicas e igualmente bêbadas tornava quase impossível que tivesse qualquer tipo de pensamento lúcido.

Ele passou pelos corpos agitados com certa dificuldade, sentindo seu próprio corpo um pouco leve demais. Com toda a certeza esbarrou em muitas pessoas, assim como virou vários copos no chão, mas nada fez além de gargalhar e continuar seu próprio caminho titubeante. Pensou ter sentido meia dúzia de mãos passarem por seu corpo de forma obscena, mas ignorou; estava louco demais para se importar com qualquer coisa. Na verdade, em seu estado atual, provavelmente não saberia dizer se notaria caso alguém lhe desse um soco bem no meio da cara.

Ao chegar onde sua mente confusa queria que estivesse, olhou para o espelho manchado de batom e outras coisas de natureza duvidosa com uma expressão forçadamente séria. Passou a ponta dos dedos por toda a face do rosto bonito com força, e gargalhou enquanto encarava seu próprio reflexo, pois seus olhos vazios pareceram um pouco grandes demais para sua própria cabeça e pensou sobre como seria se os arrancasse.

Para quem visse de fora, seu estado pareceria no mínimo deplorável e, se fosse a mesma pessoa de antes, digo, se estivesse fora de sua atmosfera nublada e eufórica atual, certamente sentiria repulsa de seu próprio reflexo.

Mas, ah! Que se fodesse! Não fazia nada menos do que todos eles disseram que deveria fazer: estava curtindo o momento. E era fácil, certo? Ele sempre foi um menino bom e obediente, afinal.

Após algum tempo inerte em seu próprio mundo falsamente alegre, quase não sentiu o celular esquecido vibrar dentro do bolso de sua calça. Ele levou as mãos até o aparelho com certa dificuldade, uma vez que sua coordenação motora se encontrava num estado decadente.

Pegou o celular e o segurou com as duas mãos de forma desajeitada, fazendo um bico ao ver o nome que brilhava na tela. Após aceitar a ligação, se dirigiu a pessoa do outro lado da linha com um tom irritado.

— O que você quer?

Jimin? a voz disse. Onde você está?

Por que quer saber de mim agora, hm? Sua voz saiu tremendamente seca, e embora embargada pelo seu estado beirava o deboche. — Não deveria perder seu tempo comigo, querido.

Um ruído foi ouvido do outro lado da linha e tudo ficou quieto por alguns minutos. Já estava levando o dedo até o aparelho para encerrar a chamada quando a pessoa continuou; dessa vez, com um tom sussurrado impaciente, ou, tremendamente desesperado:

Fala de uma vez em que parte do navio você está, merda!

Por que quer tanto saber? Sorriu com exímio sarcasmo, se encostando na pia. Eu valho tanto assim pra você? Sabe, meu bem, isso não ficou muito claro depois de você ter-

Foda-se, Jimin! disse, aflito. — Ele está no navio.

Um silêncio assustador se instaurou por toda parte. Tanto do outro lado da linha, quanto onde ele mesmo estava. A música havia parado, e não conseguiu escutar nada além do ruído fraco que havia deixado escapar por sua boca. O mesmo que, antes disso, havia morrido em sua própria garganta, assim como o som longínquo das ondas que o cercava.

Uma sensação horrível passou por todo o seu corpo quando finalmente pôde assimilar o que estava acontecendo ali.

Mesmo que estivesse longe de estar sóbrio, uma pequena parcela de sua lucidez pareceu ter sido puxada de dentro pra fora de maneira brutal ao ouvir aquelas quatro palavras. Eram poucas, mas fortes e significativas o suficiente para fazer com que seu estômago revirasse em agonia e a bile subisse à garganta, tamanho desespero.

O horror perpassou seus olhos com a mesma velocidade com que o som de um tiro cortou o ar, e ele sufocou um grito, deixando que o celular deslizasse por seus dedos trêmulos e fosse de encontro ao chão num baque alto e opaco.

O fato de estar no meio do nada lhe pareceu algo tenebroso e sua adrenalina subiu tão rápido que toda a sua medula espinhal gelou.

Porque Jungkook estava no navio.

Porque Jungkook estava no navio

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PSYCHE • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora