09: Descobertas fúnebres e úmidas.

236 26 21
                                    

A única coisa que posso fazer
Neste jardim
Neste mundo
É cultivar uma linda flor que assemelha-se a você
E respirar como o eu que você conhece
The Truth Untold.

Há uma relação curiosa entre a racionalidade e a loucura.

Primeiro crescemos com a nossa sanidade pressuposta, aquela a qual não nascemos portando. Porque nós, humanos, tão animais quanto qualquer outro, nascemos totalmente suscetíveis aos valores de nossos pais e demais figuras de exemplo.

Quando criança, observamos os mais velhos agindo de tal maneira, então aquilo automaticamente é tido como certo para nós, inconscientemente ou não. Geralmente, nem podemos questionar.

Nosso pensamento individual vem com o mais tardar, mas ainda assim pode ser influenciado pelos impulsos primitivos desses valores adormecidos dentro de nós, de tão fortificadas que são essas raízes. São como infiltrações numa parede de concreto.

É questionando esse primeiro ensinamento que podemos nos discernir como indivíduos numa sociedade, sejam esses ideais bons ou terríveis. É bem nessa parte do nosso desenvolvimento que definimos se seremos de fato inofensivos ou nocivos para as pessoas que nos cercam.

Mas e o indivíduo que sequer tem a capacidade de passar por esse estágio de cogitação, por que ele é assim?

Este é mau e sem empatia por genética, tornando sua mudança de conduta algo ainda mais difícil. Você sabe, não tem como ajudar alguém que não quer ser ajudado, pior ainda se esse alguém sequer tem a capacidade de reconhecer que seus valores estão errados. Para ele não importa o que os outros pensam, já que são todos insetos insignificantes que podem ser esmagados com a sola de seu sapato quando bem entender.

Ele pode até ter sido influenciado por fatores externos como uma criação violenta e abusiva durante a infância, mas, no caso dele, sua resposta à essa criação está necessariamente condicionada a algo que vem de dentro. Uma negritude que ocupa uma pequena parte de seu DNA. Não há algo neste pequeno espaço, muito pelo contrário: essa escuridão tão abominável consiste em ausência. Algo devia estar ali, mas não está.

É desesperador, pois a humanidade está tomada pelos valores da psicopatia que, lembrando, trata-se principalmente da falta de empatia pelo próximo. Não é estranho pensar que, ainda que a humanidade seja a única espécie racional, é apenas ela quem vem acabando com o planeta e causando sofrimento aos seus iguais pelos motivos mais fúteis e cruéis?

Desastres ambientais, ondas de violência movidas por intolerâncias, assassinatos hediondos e casos numerosos de estupro são apenas algumas de toda uma infinidade de coisas horríveis que vêm acontecendo pela mão da humanidade contra todas as formas de vida do planeta. Toda essa desgraça acontece a partir da racionalidade que, infelizmente, insiste em tender para o mal, levando a todos nós para a destruição em diferentes escalas. Você não acha isso insano?

Não é preciso ser um assassino ou receber uma confirmação da psiquiatria para ter os mesmos pensamentos ou atitudes que uma pessoa insana teria. Basta sentir prazer ou indiferença ao ver seus iguais sucumbirem e, principalmente, não sentir qualquer pingo de remorso por isso mais tarde.

Já se passaram duas semanas e a morte de Jennie ainda estava sendo noticiada e comentada por todos na cidade de Incheon. Não se falava em outra coisa a não ser na terrível morte da filha do deputado Kim Hongyun. As campanhas de reeleição foram subitamente interrompidas. Pelo que era exibido na televisão, a família estava desolada e determinada em colocar o assassino de sua filha atrás das grades.

Encolhido sobre a cadeira propositalmente desconfortável da sala de interrogatório, Jimin tentava buscar respostas para o que diabos levou aquela figura a ser alguém tão cruel.

PSYCHE • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora