08: Um bilhete especial.

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Meu amante retrô
Essa é a cidade do pecado
Você não sente minha falta?
SHADOW — Lexie Liu.

Jimin havia caído num sono curto depois de algumas horas sintetizando a espiral. Não sabia exatamente quanto tempo havia dormido, talvez duas ou três horas? Quando acordou, checou o celular. Meia noite e meia. Pelas vozes e ruídos, os amigos de Hoseok ainda estavam lá em baixo.

Sentiu um vento frio acometer seu corpo e olhou para a janela aberta fazendo uma careta. Que estanho, jurava que tinha a fechado quando subiu. Se aproximou dela com uma sensação ruim e a fechou.

Ele estava se sentindo muito estúpido, mas não conseguia deixar de repassar em sua mente com alguma obsessão adormecida o que havia acontecido na cozinha há algumas horas atrás, logo depois de Namjoon sair do cômodo levando consigo o mesmo clima ameno que havia trago. Jimin havia ponderado sobre aquilo antes do cochilo e após.

Segundo as palavras duvidosas de Yoongi, supostamente havia algo no porão daquela casa; algo que de alguma maneira responderia suas perguntas, seja lá quais fossem elas. Foi reforçado por Yoongi que se tratava meramente de sua espiral, mas algo parecia errado aos olhos de Jimin. Não poderia ser só isso.

Porque os gestos, o modo como ele falara e o jeito que o olhara incitavam algo sombrio e subliminar. Parecia sugestivo de um jeito muito sutil. Então ele concluiu que Yoongi queria que ele soubesse de algo e usara a desculpa de sua espiral como um tipo de disfarce para não dizer aquilo tão explicitamente. Jimin se convenceu disso, embora as reais motivações dele seguissem sendo uma incógnita curiosa que lhe causava um certo temor. Veja bem, não se pode esperar coisas boas vindas de alguém que aparentemente lhe odeia. Ele havia deixado isso bem claro, e sua opinião não mudou nem mesmo com a resolução de Namjoon. Jimin via explícito nos olhos dele. Yoongi o odiava.

Então, afinal, por que diabos ele lhe diria aquilo?

Talvez estivesse indo um pouco longe demais em seus pensamentos intrusivos, mas relacionou o que ele disse com o debate que estavam tendo na sala há apenas alguns minutos antes daquela conversa.

Yoongi não havia dado seu veredicto final. Quer dizer, estava claro que, para ele, o tal indivíduo era detestável e egoísta e não tinha qualquer possibilidade de se tornar alguém melhor. Nenhuma. Em contrapartida, ele defendeu o argumento de que o indivíduo deveria ter conhecimento de quem é, mas não necessariamente exercer a si mesmo, o que corroborava com o incentivo esquisito de Yoongi para que ele, Jimin, fosse em busca de respostas, embora ele não soubesse de fato quais eram as perguntas e como ele deveria se relacionar com aquilo.

Parecia muito ser sobre alguém real e não imaginário como estavam tratando ao longo daquele debate. E, a julgar pelo clima sufocante que havia pairado naquela sala, Jimin chutou que era sobre alguém que eles conheciam. Poderia ser alguém que estava bem ali entre eles. Qualquer um, até mesmo ele.

Jimin sentiu seu coração acelerar, porque por um momento cogitou a ideia de esse tempo todo estavam falando sobre ele indiretamente, mas então ele descartou a possibilidade. Seria muito irracional ou presunçoso demais de sua parte achar isso, porque eles não tinham motivo nenhum para tentar atacá-lo tão deliberadamente, afinal, se conheciam há tão pouco tempo.

Veja bem, não fazia muito sentido que Yoongi ou qualquer uma das visitas naquela sala soubessem de algo concreto sobre quem ele é ou foi, uma vez que nunca haviam se visto antes e ele sequer era daquela cidade. Além do mais, Hoseok não sairia falando de sua vida privada ou sobre seu passado — que nem ele mesmo conhecia de verdade, pois seu amigo nunca havia entrado em detalhes muito aprofundados — para ninguém, mesmo que os quatro fossem seus amigos.

Que fique bem claro: ninguém além dos médicos, Hoseok e obviamente ele mesmo sabia sobre seus três anos de coma e perda quase completa de memórias. Jimin se negou a cogitar que Hoseok havia dito algo a eles.

PSYCHE • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora