12: Compaixão que provém do ódio.

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Denote o amanhecer e siga a lua
De volta à vida após as tempestades
Eu parei de ser eu mesmo há muito tempo
Há muitas dúvidas
Sinos tocam para o absurdo
SHADOW — Lexie Liu.

Havia uma movimentação estranha na delegacia quando ele passou pelas portas dela naquele mesmo dia, ainda enfiado dentro das roupas pretas do enterro; ainda sentindo-se prestes a enlouquecer com o sensorial fantasma do pescoço de Jungkook sendo esmagado pelas suas mãos. Suas próprias mãos covardes.

Os gritos femininos podiam ser notados a uma esquina de distância.

— Vocês não estão me entendendo. Meu menino desapareceu!

Dizia a mulher de meia idade com claro desespero, um rastro de angústia em seu tom. As roupas desgastadas evidenciavam sua falta de luxo. Ela falava com os policiais como se eles não pudessem se relacionar com o que estava dizendo. E isso se confirmava com a impaciência clara no olhar do rapaz com uniforme da patrulha.

— Vou ter que pedir de novo para que se acalme, senhora. Estamos com uma grande demanda nesse mês. Deve aguardar as 24h e retornar a delegacia se seu filho não aparecer.

Ela soltou um guincho abafado de choro, olhou para os lados, perdida, mas o fogo eletrizante do amor e da proteção materna ainda crepitava em seus olhos.

— Meu Ryu não é de sumir desse jeito. Sempre foi um menino introspectivo, nunca gostou de ficar tempo demais fora de casa. Tenho certeza de que aconteceu algo com ele, e vocês não estão querendo me ajudar.

— Nós queremos ajudar, mas precisamos seguir com o protocolo. Ele pode estar se divertindo na casa de um amigo nesse exato momento. Casos assim são bastante comuns.

A moça negou com a cabeça, deixando a delegacia com ar ressentido, e Jimin achou que teria sua presença completamente ignorada se não fosse pela frase amargurada que ela secretou a ele: — Vermes imundos, todos movidos por dinheiro.

Jimin sabia que não poderia tirar toda a razão daquela mulher. Pelo que soube, o tal protocolo não existiu quando Jennie, filha de um deputado importante, desapareceu sem deixar qualquer rastro. A comoção popular e policial foi imediata, embora seu corpo tenha sido encontrado por acaso.

Se fosse alguém altruísta, Jimin ajudaria aquela moça a procurar por seu Ryu. Mas ele não era assim e nem sentia que poderia ser, muito menos agora. Seus problemas eram a única coisa que preenchiam sua mente, e nada mais. Talvez ele fosse tão nojento quanto o sistema. Estava inserido nele, afinal.

O policial esfregou os olhos e deu as costas com um comentário de insatisfação e então Jimin se arrastou até o balcão.

— Boa noite — disse para a recepcionista corpulenta do outro lado do balcão de linóleo fosco. Seus cabelos estavam pintados de um cobre feio e desbotado. Ela parecia muito ocupada numa conversa bastante informal para atendê-lo, então o ignorou copiosamente por alguns momentos. Jimin esperou sem se importar, afinal, não estava conseguindo sentir qualquer senso de dignidade em si mesmo.

Ela finalmente devolveu o telefone à fonte sem fazer qualquer esforço para esconder seu descontentamento com a interrupção.

— Olá, rapaz. — Encarou por um momento o sangue que deslizava pela lateral de seu rosto, resultado de seu pequeno surto no banheiro de Jungkook. Ela pareceu bem mais atenta agora. — Posso ajudar com algo?

— Quero falar com Min Yoongi.

— Identidade.

Identidade. Quase riu com escárnio. Essa palavra vinha lhe causando mal estar nos últimos dias. Ele pegou a carteira no bolso de trás e estendeu o documento, mas pressionou os lábios antes que chegasse na mão da mulher.

PSYCHE • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora