023 - O que eu perdi?

358 36 2
                                    

༺ 𝕪𝕠𝕦 ༻


Respirei exausta sentindo o cheirinho perfumado que a casa exalava, a faxina foi profunda mas a sensação da casa estar toda limpa compensa. Jonah, Zara e eu nos jogamos contra o sofá observando a sala arrumada.

A luz das janelas iluminava todo o ambiente, e flores recém colhidas enfeitavam a mesa. Flores que eu mesma cultivei, sempre tive vontade mas nunca pude planta-las no Brasil. Elas davam um ar de vida para a casa e deixavam-a ainda mais aconchegante. Acho que esse quesito eu herdei da minha mãe, ela sempre enchia a casa de plantas.

- Finalmente terminamos! - Jonah exclamou bebendo um gole de seu refresco.

- Achei que não iríamos acabar hoje, a casa parecia que estava abandonada a meses. - continuou Zara.

Ri de sua afirmação mesmo sabendo que era verdade. O sol já brilhava num tom mais dourado lá fora, já deveria passar das duas da tarde e nem paramos para almoçar. E falando nisso a minha barriga já começava a roncar.

- Quem aí 'tá com fome? - perguntei mesmo já sabendo a resposta.

- Eu! - os dois disseram levantando as mãos no ar.

- Que tal ir na lanchonete? Eu preciso de muita gordura saturada para repor as energias. - Zê sugeriu.

Era uma boa ideia, eu já estava mesmo com saudades de me encher de coisas não saudáveis ou "porcarias" como diria a minha mãe. Diferente de mim e do meu pai, a minha mãe sempre manteu uma alimentação balanceada e com o mínimo de gordura possível. Talvez por isso eu goste tanto de legumes e verduras, pois ela sempre nos obrigou a comer quando crianças. No entanto eu sempre fui mais parecida com o meu pai, e assim como ele eu também amo comer besteira o que irrita a matriarca da minha família.

- Maravilhoso! Eu preciso mesmo alcançar a cota de besteiras que não pude comer durante a semana. - digo fazendo a Zara rir.

- Você já ama inventar desculpas pra se encher de frituras! Não é mais fácil admitir logo que prefere comer porcaria a comida saudável? - questionou Jonah e eu o encarei com uma sombrancelha erguida.

- Por acaso isso é uma reclamação? - perguntei debochada e ele ergueu as mãos em rendição.

- Nem pensar, eu também não sou nenhum exemplo seguir. - defendeu-se.

- 'Tá mas eu vou tomar um banho antes de sair, estou toda soada e nem pensar que vou sair assim. - digo apontando para mim mesma.

Não me sentia em um estado muito agradável, estava toda soada e peguenta após a faxina. Eu precisava de um banho e de roupas limpas o mais rápido possível.

- Eu também! Então senhor Jonah fique a vontade, já já voltamos. - disse Zara.

Subimos para o segundo andar da casa, mas nos separamos já que ela foi para o seu quarto e eu para o meu. As coisas estavam do mesmo jeito, com exceção das coisas que faltavam pois eu ainda não havia desfeito a mala. Abri meu guarda-roupas e peguei uma camiseta da CNCO - que mais parecia um vestido em mim. - e um shorts para colocar por baixo.

Terminei de me aprontar rápido, não precisava e não queria me arrumar tanto para ir até uma lanchonete. Quando desci ao primeiro andar encontrei o Jonah ainda com aquela expressão preocupada, o olhar perdido em um ponto invisível.

- Sei que provavelmente você não quer falar sobre o que está te preocupando, mas saiba que caso precise eu estou aqui. - Falei pondo a mão sobre seu ombro.

Jonah deu um leve aperto acompanhado de um sorriso. Eu queria poder ajudar mais, porém acho que não devo fazer perguntas sobre esse assunto que tanto o incomoda.

- Obrigado S/n, sei que posso confiar em você. - respondeu educadamente.

A sala ficou em silêncio por um curto tempo, até que Zara dessesse as escadas correndo e gritasse:

- Tô pronta! - Exclamou a morena me fazendo rir.

- Então tá, vamos? - perguntei.

Era bom me sentir livre novamente, sem ter uma agulha esperando o meu braço o tempo todo, sem ninguém ter que vim checar nenhum aperelho. Hospital é uma coisa muito louca, todos sabem que precisamos mas quando estamos lá meio que odiamos.

É um bem necessário, com pequenos detalhes que eu resumiria em torturantes. Uma tortura que pode salvar vidas, e eu agradeço por ter me ajudado a ficar bem.
O caminho até a lanchonete foi feito a pé mesmo, eu senti falta de caminhar pelo bairro e sentir um ar sem resquícios de remédios químicos. Senti o perfume das flores do jardim dos Robson's, ouvi os pássaros, as pessoas. Bom, de tudo!

No fim da esquina já podíamos enchergar a lanchonete, era o primeiro estabelecimento do quarteirão. Ao lado dela haviam também um cabeleireiro, - que Zara costumava frequentar bastante. - e uma pequena mercearia, aonde fazíamos as compras semanais.

Era complicado viver aqui apenas com o dinheiro que recebemos dos nossos pais, e eu tenho cogitado a ideia de procurar um emprego. Zara não pode nem sonhar com isso, ela sempre diz que eu preciso focar nos estudos e que eu mal tenho tempo para isso. Com a escola em tempo integral eu só teria tempo a noite, o que não facilitaria a minha rotina.

- ...Acho que iria para a Índia, a cultura é bem interessante. - dizia Zara na conversa que eles tinham iniciado. - E você S/n? Para onde iria se podesse viajar para qualquer lugar do mundo? - perguntou.

Qualquer lugar do mundo? Eu nunca pensei muito em um lugar específico, eu sempre quis conhecer o máximo possível! Viajar para todos os lugares que eu podesse e aprender um pouco sobre todas as culturas.
Mas um país que eu sempre gostei em especial, no caso a Grécia! Eu iria para lá sem reclamar. Conheceria cada ponto possível daquele lugar incrível!

- Grécia! - respondi sem hesitação.

- Por que a Grécia? - Jonah perguntou enquanto adentravamos a lanchonete.

O sininho tocou quando abrimos a porta, essa era uma daquelas lanchonetes tradicionais. Contava com bancos de couro vermelho, janelas enormes, banquinhos espalhados em frente a uma bancada que dava acesso aos funcionários. Era o tipo de lugar que eu amava frequentar, tinha um jeitinho especial, era incrivelmente aconchegante.

- Olá! O que vão pedir hoje? - a atendente questionou com um sorriso formal. Seus olhos azuis me lembravam rapidamente dos de Josh.

- Ah... - murmurou Jonah pensativo. - Um milkshake de morango, com um X-bacon e batatas. - decidiu-se por fim.

- Eu vou querer um refrigerante com gelo, X-burguer, batatas-fritas e... - parei observando as opções de sobremesa. - Cheesecake de maracujá. - finalizei.

Zara decidiu pedir - por alguma razão desconhecida para mim. - Um X-salada, o que era estranho visto que ela detestava salada. Obviamente estranhei o seu pedido, mas optei por não fazer perguntas agora e apenas deixei passar.

Escolhemos uma mesa qualquer para esperar o nosso pedido, enquanto Jonah me fazia explicar o motivo pelo qual eu escolheria a Grécia, como primeira opção de viagem.

- A Grécia é um lugar lindo! A arquitetura, as paisagens, a natureza... Não dá para explicar ok? É algo que devemos viver e não apenas "ver". - tentei por em palavras, algo que era impossível.

Enquanto eu e Jonah debatiamos aquele assunto, o celular de Zara emitiu un som de notificação. Talvez ela pensasse que estávamos ocupados demais com a nossa discussão, para notar o sorriso se formando no rosto dela.

Calma! O que eu perdi?

Eu não saberei até que a mesma me conte, mas isso não faz com que a minha curiosidade diminua. A questão é: Qual é o motivo desse sorriso? Será que...

My Glass HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora