027 - Extraordinária

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  A casa estava ainda mais barulhenta do que o de costume. Com duas crianças cheias de energia, silêncio já não era algo comum por aqui. O jantar foi estranho, só se ouvia o barulho dos talheres, ninguém estava disposto a comentar sobre o caso. Nem mesmo Jay se mostrava interessado em falar.

O silêncio foi quebrado pelo toque de um celular, o do próprio Jaden pra ser exato. A expressão do meu irmão mais novo era de puro alívio, ele realmente não conseguia disfarçar o que sentia.

— Jay, o que já conversamos sobre celular à mesa? — A minha mãe reclamou, mas eu sabia que no fundo ela estava feliz pela aquela pequena interrupção.

— É a S/n, e sabe como é né mãe? Ela acabou de voltar para a escola, depois de todos aqueles acontecimentos traumáticos... — dialogou o menor.

A minha mãe já estava mais volúvel a sua reclamação sobre celulares à mesa. Parece  que só de ouvir o nome "S/n" o ânimo dela melhorou. Para falar a verdade, eu também fiquei um pouco curioso ao ouvir o nome dela. – Será que aconteceu algo?

— Vai que ela está precisando de alguma coisa né? — finalizou Jay enquanto se levantava.

Hay pediu licença a todos, utilizando de uma educação que geralmente ele não gastava com a gente. E foi para a sala.

— Sabe de uma coisa? Deveríamos ter convidado a S/a e a Zara para o jantar. — Jonah murmurou para mim, entretanto ele esqueceu da ótima audição da dona Úrsula.

A nossa mãe desviou a atenção do prato por um momento, e nos olhou como se fossemos idiotas por não termos dito isso antes.

— Tem razão Jonah, S/n precisa mesmo sair mais, ela passou tempo demais presa naquele hospital. — falou mamãe, aproveitando a deixa para iniciar uma conversa. E ao que parece, estava dando certo.

O nome S/n parecia ter causado uma comoção à mesa. Eu sabia bem que a tia Giselle não estava com cabeça para descobrir quem era S/n, mas ela fazia um esforço pelo bem de todos.

— Quem é S/n? — Kate perguntou, ela demonstrava ser a mais curiosa entre as duas crianças.

— S/n é uma amiga da família querida. — O meu pai respondeu, tomando o devido cuidado em cada palavra.

— Ah tá. — deu-se por satisfeita. Mas algo me dizia que ela não iria parar por aí. — A mesma que você tava conversando pelo celular Josh? — questionou a menininha.

A atenção da mesa se voltou para mim, não sei se por necessidade de dar continuidade a conversa, ou por curiosidade mesmo.

— Sim, ela mesma. — respondi tentando ignorar os olhares.

— Hum... — Jonah murmurou. — Não sabia que vocês dois estavam tão próximos. — comentou, e por incrível que pareça aquilo não foi proposital.

— Ela é uma boa amiga. — coloquei antes que eles tirassem conclusões precipitadas.

O silêncio se instalou de novo, porém apenas por alguns segundos antes que a Kate voltasse a falar.

— Ela é a namorada do Jaden? — perguntou novamente. Por que crianças são tão curiosas?

— Bom, ao que sabemos não. — mamãe explicou. Como assim "ao que sabemos"? Achei que era mais fácil o Jay formar casal com a Zara do que com a S/n.

— Não, não mesmo! A S/n e o Jay são apenas amigos, a S/n é areia demais para o caminhãozinho dele. — Jonah brincou, eu ri mesmo achando aquilo pouco provável.

Eu diria que S/n de Jay são meio que a "elite" do colégio deles. Me admira a S/n não ser líder de torcida, nos filmes e livros clichês a garota mais bonita do colégio sempre é líder de torcida. Bom, ela não é egoísta, esnobe e muito menos vulgar, totalmente o contrário disso. Entretanto, tirando o caráter legal dela, ela se encaixa no papel. Nos filmes as líderes de torcida também são malignas.

— Não fale assim do seu irmão Jonah! — Mamãe advertiu. — Tanto ele, quanto S/n são jovens excepcionais. Não vejo o porquê eles não dariam um casal perfeito. — continuou como a boa mãe coruja que ela é.

Eu e Jonah trocamos um olhar que nós entendíamos bem. Ambos não concordamos com a sua última frase. "Casal perfeito" ?! Aí já era demais.

— Mãe por favor né. O Jay é atleta, a S/n é artista. — Tá aí uma coisa que eu não sabia, a S/n é uma artista? — o Jay é automaticamente classificado como um babaca, mas ele deu sorte, é aquele babaca por grupo não por merecimento. — resumiu a hierarquia da popularidade escolar em menos de cinco minutos.

Dona Úrsula revirou os olhos como se aquilo fosse uma baboseira qualquer. Nesse momento Jay se uniu a nós novamente, parecendo mais animado do que estava quando sentamos para jantar.

— Voltei! Do que estavam falando? — perguntou voltando para o seu lugar.

— Estávamos falando sobre como ser atleta te torna babaca, e não tem nada haver com a S/n. — explicou Jonah, ele estava ficando bom em resumos.

— Ah, e também de como vocês não formariam um casal bonito por tais razões. — acrescentei.

Jay franziu as sobrancelhas, provavelmente sem entender o X da questão.

— Qual é?! — Jay exclamou indignado.

— Não nos leve a mal Jay, é que ela é uma artista e você é um atleta. — tentou explica Jonah.

Acho que na cabeça dele isso estava fazendo muito sentido. Em fim, o Jonah e suas paranóias.

— Como você conseguiu fazer amizade com ela já é um mistério. — completou Jonah, servindo-se de uma garfada em seguida.

— Bom, ela me chamou de babaca com síndrome de atleta estrelinha... — contou. — depois que eu disse que não participaria de um trabalho em grupo, porquê estaria ocupado com o treino. — contextualizou.

Wow. Nada além de Wow.

— Vocês nem me imaginam o meu desespero, quando eu vi aquela gnomo raivosa apontando um dedo na minha cara, e prestes a explodir de raiva. — continuou Jay. Kate riu de leve, aposto que ela levou a história do "gnomo" a sério.

— Ela me parece una garota muito enérgica. — comentou tia Giselle.

— Ela é uma fada?! — perguntou Kate, eu falei que ela tinha levado a sério.

— Não, embora pareça. — respondi para a pequena que sorriu.

— Tia, eu não diria exatamente enérgica, diria peculiar. — Jonah adaptou

— Eu diria agressiva. — Jay zoou e Jonah riu.

— Acho que extraordinária a definiría melhor. — finalizei.

My Glass HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora