My Glass Heart

014 - Tragédia a vista.

O barulho das chaves ao repousar sobre a mesa nunca havia sido tão vazio. Josh notou logo na chegada do irmão que algo estava errado, o mesmo sempre costumava falar pelos cotovelos ao chegar em casa. Contava todo o seu dia, e sempre lhes dizia as loucuras que os amigos tinham feito. Hoje não, hoje ele estava calado imerso em seus pensamentos.

Ainda sem pronunciar nenhum som, Jaden largou a mochila sobre a poltrona e se sentou ao lado do irmão mais velho. Não disseram nada por alguns instantes, mas o olhar de curiosidade do mais velho logo fez o outro abrir o jogo.

- Eu acho que fiz uma besteira enorme. - falou quebrando o silêncio.

Josh se endireitou no sofá, de modo que sua atenção foi toda dada ao mais novo. A preocupação tintilava em sua cabeça, o que de tão grave Jaden poderia ter feito?

- Qual a gravidade dessa besteira? - perguntou vendo a expressão do outro.

- alta, muito alta mesmo. - falou e Josh respirou fundo, se preparando para o que estivesse por vir.

- E aí, quer falar sobre isso ou? - questionou e Jay se jogou contra o apoio do sofá cobrindo o rosto com a mão.

Não havia se passado nem um dia direito, mas já havia se arrependido do que tinha dito para a amiga. Desse vez ele sabia que tinha extrapolado os limites e magoado a outra.

- Eu magoei a minha melhor amiga, eu estava com raiva e falei mais do que deveria. - explicou.

Aquilo foi o bastante para Josh entender o que o outro queria dizer. Desde que chegou tudo o que mais vira foi aqueles dois juntos, as provas da amizade estavam por todos os cantos. Era impossível não notá-las.

- O que exatamente você disse para ela, e por qual motivo? - voltou a perguntar, quando o irmão lhe encarou sua única reação foi suspirar.

Josh conhecia cada traço do irmão, e aquele olhar não significava coisa boa. Dava para notar a gravidade da situação apenas com aquele gesto.

- Eu acusei ela de ser egoísta, interesseira... Em resumo eu a comparei a coisas horríveis. Tudo porquê ela roubou o lugar da garota que eu gosto na apresentação. - resumiu fazendo o irmão passar a mão pelo rosto, deixando-o levemente vermelho. - Ela saiu do lá chorando e nem apareceu nas últimas aulas. O que você faria se estivesse no meu lugar? - perguntou atordoado.

- Complicado, ao que parece você passou dos limites legal. Já tentou pedir desculpas? - sugeriu.

- Você não conhece a S/n, ela pode até me perdoar mas nunca vai esquecer. Não vai ser mais como era antes, ela nunca mais vai confiar em mim. Vai me afastar com medo de eu magoa-la novamente, e não é pra pouco. - explicou.

- Então melhor a preparar, porquê vai precisar reconquistar a amizade dela. Não vai ser fácil, mas é o que precisa ser feito. Começa pedindo desculpas, vai na casa dela, vê se ela está bem. - aconselhou.

Jay então se virou para o irmão com um olhar suplicante, sabia que Josh não conseguia negar aquele olhar.

- Vem comigo?! Só por proteção, ela pode tacar uma frigideira na minha cabeça. - pediu e o irmão revirou os olhos.

- Foi você quem fez a burrada, agora tem que encarar as consequências. - respondeu o mais velho se levantando.

- Por favor Josh! S/n não vai me deixar entrar lá sozinho, preciso da sua ajuda. - implorou.

Enquanto isso S/n e Zara acabavam de chegar em sua rua. Passaram o resto da tarde passeando pelo centro, na tentativa de esquecer a manhã horrível que tiveram. Mas ao ver a situação que se embolava ali o espanto veio a tona.

Uma fumaça densa e preta tomava conta do céu, haviam pessoas por toda a parte enquanto o fogo consumia a casa de seus vizinhos. A senhora Stewart gritava desesperada enquanto as duas se aproximaram. Ainda não haviam bombeiros no local, e a família parecia desesperada com algo dentro da casa. O cachorro deles latia sem parar em direção a mesma.

- Senhores Stewart, o que aconteceu aqui?! - perguntou Zara.

S/n logo percebeu o detalhe, faltava um membro daquela família. A pequena Elizabeth ou Beth como todos as chamavam, não se encontrava presente. Apenas os dois filhos mais velhos, Edward e Simon.

- Onde está a Beth?! - questionou e a mulher em prantos apontou para a casa.

Vendo o desespero deles e o fato de que os bombeiros ainda não se encontravam no local, S/n tomou uma decisão perigosa. Enquanto os outros se preocupavam em encontrar meios para sessar as chamas, ela correu em direção as mesmas.

- S/N!! S/N VOLTA AQUI!! - gritou Zara tentando seguir a amiga, mas foi impedida por uma das pessoas presentes.

Em meio a confusão que se formara, Tommy o cão de estimação da família se soltou. Sem medo da fumaça ele seguiu S/n corajosamente. Seus latidos preencheram o local junto ao barulho das labaredas flamejantes.

S/n cobriu o nariz e a boca, na tentativa de impedir a fumaça de apcança-la. Com dificuldade começou a chamar pela menina. O calor era insuportável para ela que era uma adolescente, imagina para uma menininha de apenas cinco anos.

- BETH!! - gritou mas não obteve resposta. A fumaça começou a lhe alcançar, as tosses foram inevitáveis depois disso. - BETH!! Cof! Cof! - chamava entre tosses.

Por fim, quando tudo parecia sem saída ela avistou o pequeno corpo encolhido no chão da cozinha. As chamas preenchiam a maior parte, e a menina estava encolhida em um cantinho da parede. Ficou presa ali ao tentar escapar pela porta traseira. A pequena já estava desmaiada depois de ingerir tanta fumaça.

- Aí está você. - sussurrou S/n com dificuldades.

Tirou seu casaco e o molhou na pia, cobriu a menina e em seguida a pegou em seus braços.

- ESTAMOS AQUI!! - gritou ao chegar na sala. Conseguiu entregá-la ao pai, bem a tempo de uma parte do teto cair entre eles deixando S/n presa. - Leva ela para fora! Ela precisa respirar agora! - gritou e o homem confuso apenas obedeceu.

S/n então voltou para a cozinha, em busca de outra saída mas nada, não conseguiu nada. Já começava a sentir o efeito da falta de ar puro, seus nos ardiam intensamente quando ela achou uma porta no corredor que dava acesso a um porão. Estava fraca demais para descer as escadas e acabou tropeçando, rolou até o piso inferior e caiu desmaiada no chão.

Tommy que nem por um segundo a deixou começou a latir insistentemente, tentou fazer a outra levantar sem sucesso. O calor e a fumaça também o atingiram, mas não tão forte como a ela. Desesperado ele não parou de latir nem por um segundo, na esperança de que a humana acordasse.