005 - Vídeo chamada.

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- ...Numa boa, se eu soubesse que aquela escultura grega feita pelos deuses do Olimpo era irmão do loirinho, visitaria a Barbie todos os dias! - exclamou a garota enquanto adentravámos a nossa casa.

Durante todo o percurso da escola até aqui ela veio falando do Josh. Parecia que qualquer outro assunto era irrelevante perto daquele, e eu resisti a vontade de colocar os fones de ouvido no máximo.

- Você já disse isso umas três vezes, mas agora podemos falar de algo que não esteja relacionado a Josh Beauchamp?! - questionei me jogando no sofá.

Ela me encarou de uma forma estranha, e confesso que aquilo me deixou preocupada. Sei lá, era como se ela podesse ler a minha mente.

- O quê? - perguntei me endireitando no sofá. Ter alguém te encarando fixamente é muito constrangedor.

- Hum... Nada. Tem algo pronto ou vamos pedir por delivery? - perguntou trocando totalmente de assunto.

Agradeci mentalmente por aquilo. O dia do hoje tinha sido bem cansativo e tudo que eu queria era descansar um pouco.

- Considerando que eu sou uma péssima cozinheira, acho que tem o que sobrou da lasanha de ontem. - respondi quando a morena se jogou ao meu lado e ligou a TV.

Zara me olhou com uma cara de preguiça, coisa normal vindo da mesma. Preguiça é um estado de espírito para ela.

- Preguiça de levantar daqui agora... Será que uma pessoa muito gentil, e de bom coração poderia esquentar para a gente? - perguntou com aquele jeito de quem não quer nada.

- Onde está essa pessoa? Eu conheço? - brinquei e ela riu me dando um pequeno empurrãozinho.

- Ah S/n! Foi você quem disse que estava com fome. E me arrastou do colégio por causa disso. - justificou.

Ela era muito boa em suas justificativas, chegava a ser engraçado. Alguém precisa estudar o funcionamento do cérebro dela.

- Preguiçosa. - digo aceitando o seu pedido e ela sorri abertamente.

- Você é a melhor, garota! - comemorou enquanto eu me dirigia para a cozinha.

Peguei as sobras do almoço do dia anterior e coloquei para esquentar no microondas. Enquanto esperava comecei a refletir sobre os acontecimentos de hoje.

Será que eu deveria aceitar o pedido da professora Catalina? Cantar para uma platéia tão grande? Se na apresentação dos trabalhos escolares eu já sou tão desengonçada, imagina cantar para centenas de pessoas?! Me parece assustador.

Se imaginar em cima de um palco, sob aquelas luzes magníficas e com todas aquelas pessoas que estão ali, somente para te ver. Esse era o sonho de uma garotinha de nove anos. Até ela crescer e ver que nem todas as pessoas estão ali para te ver brilhar, e sim para ofuscar o seu sucesso.

Eu não sei se esse sonho ainda é meu, se isso ainda é o que eu quero para mim. Algo com tanto glamour e atenção precisa de alguém segura de si, que tem a auto-estima inabalável. Faz anos que eu não tenho sido essa pessoa, apenas finjo ser.

Na real eu acabei me desencantando com o mundo, eu vi o que a admiração e a popularidade podem fazer com alguém. Não quero que isso aconteça comigo, não quero me tornar alguém tão egoísta.

Sai de meus pensamentos com o alarme do microondas. Então tentando não pensar em tudo aquilo, apenas servi os pratos e me sentei para comer ao lado de Zara.
Sai um pouco da realidade naquele momento.

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• Narradora
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My Glass HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora