030 - Pessoa Certa.

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   Josh abriu a porta do passageiro pra mim, num gesto de Cavalheirismo. Em seguida, o mesmo deu a volta no carro pronto para assumir o volante. Entretanto, nesse momento Jaden chegou e o interrompeu. Os vidros estavam fechados, e não dava para ouvir o que eles falavam, mas pela expressão dos dois era algo sério. Deve ser algo relacionado a família, porquê até o momento Jaden nem ao menos tinha olhado para dentro do carro.

Falei cedo demais, pois logo após eu falar – ou melhor: pensar. – isso, ele me viu ali. O meu amigo franziu as sobrancelhas, provavelmente curioso quanto ao motivo de eu estar no carro do seu irmão. Virei para o outro lado, evitando olhar para ele. Queria um momento longe disso tudo.
  Demorou cerca de cinco minutos para a conversa entre os dois se encerrar, e o Josh finalmente entrar no carro.

— Está tudo bem? — perguntei.

— Está sim, não se preocupe. — tranquilizou-me, mas seu olhar dizia o contrário de suas palavras.

  Assenti, decidindo que aquilo não era assunto meu. Ficamos em silêncio por cerca de um minuto, até que Josh quebrasse o silêncio que se instalou.

— Bom, acho que te devo uma explicação do porquê eu preciso da sua ajuda. — começou, chamando a minha atenção.

Algo em mim ficou feliz com aquilo, talvez pelo fato dele estar buscando a minha ajuda, como se eu fosse uma pessoa necessária. Tentei evitar sorrir com aquela linha de pensamentos.

— Eu convidaria a minha mãe, ou até mesmo a Zara. — Aquilo sim, foi um balde de água fria. — Mas acho que nenhuma das duas conseguiria me ajudar, ao menos da forma que eu espero. — continuou, voltando a me deixar feliz. — Você é a pessoa certa para isso.

Mas agora sim, eu não conseguia deixar de me perguntar: Com o que exatamente eu poderia ajudar o Josh?

— Ok, mas em que exatamente eu poderia te ajudar? — perguntei, a curiosidade já explodindo. Ele sorriu, seus olhos tinham um brilho sapeca que me lembravam o Jay. Até então ele era a única pessoa em que eu já tinha visto tal expressão.

Josh estacionou o carro nesse exato momento, como se estivesse calculado cada segundo até ali. Achei que não poderia ficar mais surpresa no dia de hoje. Paramos em frente a uma lanchonete, daquelas que imitavam o estilo clássico dos filmes dos anos 2000 ( dois mil ). O lugar estava bem movimentado, talvez pelo horário em questão. Os grupinhos de adolescentes devem estar se reunindo.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntei e o loiro fez um gesto com a cabeça, indicando a porta.

— Vem, eu vou te mostrar. — prometeu.

O acompanhei para fora do carro, Josh segurou o meu pulso com delicadeza e me levou para dentro. Alguns olhares se voltaram para nós, o que era um pouco desconcertante. Caminhamos até o balcão, onde um rapaz de avental vermelho anotava os pedidos.

— Olá, gostaria de falar com o Rey, ele está? — perguntou o loiro ao rapaz que confirmou.

— De que parte seria? — questionou.

— Joshua Beauchamp. — informou o maior, e em seguida o outro concordou chamando uma colega.

— Essa é a Frankie, ela vai levá-los até a sala do senhor Gonçalves. — falou enquanto a moça se aproximava.

O cabelo da mesma era num tom ruivo cobre cortado na altura do busto, tinha algumas sardas e usava um batom vermelho intenso. Era cerca de dez centímetros mais alta que eu, e se destacava no lugar pela sua beleza. É, da pra se sentir deslocada perto dela.

— Por aqui. — indicou, mostrando o caminho.

  Frankie estava sendo calorosa, ao menos com Josh. Não parecia existir maldade em seu gesto, mesmo assim, algo no meu interior estava incomodado. Fiquei em silêncio, até que Josh me incluísse na conversa e apenas fingir que nada daquilo estava me afetando.

— Então S/a, sobre a sua ajuda... — iniciou o assunto, chamando a minha atenção. — Jay comentou uma vez que você lidava muito bem com crianças, e sabe bem do que elas gostam. — contou.

Crianças? Isso não poderia ficar mais estranho. O que esse local tinha haver com crianças, e porquê ele estaria interessado em tal assunto?

— Sim, é verdade. Mas ainda não entendo em que ponto está tentando chegar. — tentei explicar, e então uma ideia um pouco maluca surgiu em minha mente. — Céus! Você não está pensando em adotar uma criança, está? — perguntei, mas Josh riu em resposta.

— Não, ainda não pretendo fazer isso. — assegurou. — Na verdade, queria que você me ajudasse a planejar o aniversário de uma. — esclareceu.

Agora as coisas estavam começando a fazer sentido. Estava me sentindo uma idiota pela hipótese que eu sugeri.

— Compreendo. Mas o que isso tem haver com esse lugar? — voltei a questionar. Tinha a impressão que eu não fazia outra coisa além disso. — Meu pai, eu devo estar parecendo uma repórter com tantas perguntas. — disse um pouco mais alto do que pretendia.

— Tudo bem, é normal que esteja curiosa. — me tranquilizou.

Chegamos em frente a uma porta. A ruiva bateu e esperou um pouco antes de obter respostas. Não demorou muito para a confirmação chegar, e ela nos convidou a entrar.

— Com licença chefe, essas pessoas querem falar com o senhor. — informou.

Atrás de uma mesa de cedro centralizada, se encontraba un rapaz de cabelos cacheados e bigode farto. Ele era baixinho e gordinho, e parecia muito concentrado em sua tarefa.

— Obrigada Frankie, pode se retirar. — agradeceu. A ruiva concordou e saiu, ao passar por nós lançou uma piscadela a Josh. Que audácia!

  Revirei os olhos, tentando ignorar seu ato. Josh sabe bem o que faz e muitas garotas não são indiferentes a sua beleza.

— Senhor Beauchamp, que prazer vê-lo novamente! — disse levantando-se.

O homem ofereceu ao meu amigo um aperto de mão acompanhado de um sorriso gentil. Seu olhar então se virou para mim e me analisou, tentando talvez me reconhecer.

— Ah, eu ainda não havia conhecido vossa senhoria. — falou utilizando uma linguagem clássica. — Eu vejo, são um casal muito formidável. — completou cumprimentando a minha mão com um beijo.

E lá vamos nós novamente... Já era a terceira vez que isso acontecia, e mais uma vez eu não sabia como reagir. Sentir o calor em minhas bochechas aumentar, e uma ansiedade diferente atingir a minha barriga.

— Viemos falar sobre o espaço de festas. — Josh comunicou, tentando deixar o clima estranho ir embora.

Aquilo era novo, era a primeira vez que não esclarecemos aquele equívoco.

My Glass HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora