Capítulo 3

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Alguém havia atirado ácido nos meus olhos — ao menos, era essa a sensação. Revirei a mochila de natação procurando o estojo e tirei minhas lentes de contato. Claro, você pode nadar usando as lentes, caso não se importe de ficar cega. Droga. Agora teria que usar óculos pelo resto do dia. Eu deveria ter procurado meus óculos de natação com mais afinco esta manhã.

O armário do lado oposto retiniu ao abrir e olhei para o meu espelho. Ali estava ela, segurando um enorme copo de café na mão esquerda e um donut entre os dentes. Enquanto me abaixava para pegar alguma coisa no armário, ela sumiu de vista.

— Ai, ai, merda!

Girei. A tampa de plástico do copo havia caído, derramando café escaldante no braço dela. Ela estava pulando, segurando o pulso. Abri o zíper da mochila e arranquei a primeira coisa molhada que apareceu, depois corri e a espalmei no braço dela.

— Aqui. Use isso.

— Aaai! — Ela gritou.

Estremeci, sabendo como aquilo doía.

— Deixe-me ver. Você pode ter queimaduras de terceiro grau.

Ela soltou a atadura improvisada e espiou o braço. Sem bolhas, ainda bem. Mas com vermelhidão. Ela recendia um aroma picante, talvez canela.

Levantei os olhos para encontrá-la me fitando.

— Você sempre carrega um maiô molhado por aí? — Ela perguntou. Indicou o braço, que eu tinha embrulhado com meu maiô da Speedo.

— A gente nunca sabe quando vai precisar de um.

Ela riu, de forma contagiante.

— Obrigada, Natasha. — Ela retirou o maiô. Tentou. Minhas mãos estavam segurando tão forte o seu braço que ela precisou soltá-las.

— Desculpe. — Eu a soltei rápido. Rebobina a fita. Replay. Ela sabe meu nome.

— Não consigo acreditar que fiz isso. — Ela esfregou o braço. — E, agora, como vou enfrentar a manhã sem café? — Segurando o copo vazio, ela recolheu as migalhas de donut embebidas de café e colocou todos os restos encharcados no copo.

— Tem uma máquina de café na cafeteria — avisei.

— Ah, é? — Os olhos dela se iluminaram. — Obrigada. Você é uma salva-vidas. — Ela pegou meu maiô do chão e o ergueu pela tira da virilha. — Literalmente.

Eu o peguei de volta e ela sorriu.

Retornando ao meu armário, enfiei o maiô dentro da mochila e fechei o zíper.

— Onde você nada?

Levantei-me. Ela havia me seguido e agora estava encostada no armário ao lado.

— Na piscina. — Dã, Natasha! Impressione-a com seu repertório brilhante. — Na piscina da escola. No andar inferior. Abre às seis e eu consigo nadar algumas raias antes da primeira hora. É meu copo de café de todas as manhãs.

As sobrancelhas dela se arquearam.

— Você tem sérios problemas psicológicos.

Meu estômago gelou. Queria que ele parasse de fazer isso.

— Eu sou Wan Maximoff. — Ela ofereceu a mão.

— Eu sei. Natasha...

— Romanoff. Eu sei. — Nós duas soltamos risadinhas, ambas nervosas, depois apertamos as mãos. Ela falou: — Você é a presidente do corpo discente.

— Como sabe disso?

Ela deu de ombros.

— Eu perguntei por aí.

Don't tell our secret (Wantasha)Onde histórias criam vida. Descubra agora