Capítulo 4

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A neve começava a cobrir o asfalto do estacionamento da escola. Meu jipe já estava coberto com uma película de gelo. Mamãe dizia que eu era doida por ter comprado aquela lata velha. Nesse momento, tremendo debaixo da cobertura de lona, eu tinha que concordar. Mas havia sido um espetáculo durante o verão, quando fizemos passeios off-road.

Meus ossos estavam trincando no momento em que fiz a curva para chegar ao Chalé das Crianças.

— Natasha, graças a Deus! — Laura Barton se apressou para me encontrar na porta. — Você pode ficar na Escavação dos Dinossauros enquanto eu corro para depositar este dinheiro antes que o banco feche?

— Claro.

— Você é uma santa. — Ela saiu por trás de mim, deslizando pela rampa congelada.

Enquanto abria minha blusa de moletom, subi o corredor em direção à sala da pré-escola. Enquanto caminhava, fiquei admirando as artes de marshmallow em miniatura pelas paredes.

— Tia Natasha! Tia Natasha! — Duas crianças deram gritinhos quando me viram na porta.

— Oi, Courtney e Steffi. — Elas correram e lançaram os braços em volta de mim. — Ah, Steffi, adorei sua fantasia de princesa! — Ela sorriu e deu uma voltinha para me mostrar. As outras crianças estavam provando fantasias do baú de contos de fadas, ou então montando peças de Lego, ou dançando em frente ao karaokê. Havia outra ajudante na sala, a sra. Ruiz, avó da Courtney, que havia se oferecido como voluntária dois dias por semana. Cumprimentamo-nos com sorrisos enquanto ela distribuía biscoitos em forma de ursinhos para o lanche. Courtney e Steffi correram de volta para o espelho.

— Vem brincar com a gente, tia Natasha! — Kyle gritou do outro lado da sala. Todo mundo parecia ocupado, então me juntei a ele e seu irmão, Kevin... os gêmeos do terror.

Esse devia ser o melhor trabalho do mundo. É, era um salário mínimo, e era difícil fazer dez horas semanais com o meu cronograma, mas eu sacrificaria o treino de natação antes de desistir disso. Adorava as crianças pequenas. Elas eram tão engraçadas, tão autênticas. O jeito como engatinhavam para o seu colo ou se penduravam no seu pescoço. Às vezes, eram bastante carentes, como se não estivessem recebendo o afeto de que precisavam em casa. Por mim, estava ótimo. Eu tinha amor de sobra para espalhar por aí.

Courtney se aproximou de mim pelas costas e tapou meus olhos com os dedos pegajosos.

— Adivinha quem é!

— Barney?

— Não.

— Scooby-Doo?

Ela deu uma risadinha.

— Não.

— Os três porquinhos?

— Sou eu!

Agarrei-a e fiz cócegas com ela no meu colo. Eu queria uma centena de filhos, pelo menos.

(...)

Mamãe estava desligando o telefone quando entrei pela porta dos fundos um pouco depois das seis.

— Era a Maria Hill.

Fiz uma careta.

— Mãe...

— Sem desculpas — ela disse. — Vá até lá amanhã. Ela teve muito trabalho para solicitar todos aqueles catálogos e fichas de inscrição. Eu me adiantei e já preenchi todos os formulários de auxílio financeiro que você deixou na sua escrivaninha.

— Mãe. — Involuntariamente, meus punhos se fecharam. Eu queria que ela ficasse longe do meu quarto. De preferência, longe da minha vida. Respirei fundo, me acalmando, antes de dar um beijo em Morgan na cadeira de bebê. Mamãe me afastou com uma cutucada e levantou Morgan, acrescentando: — Você age como se não se importasse.

Don't tell our secret (Wantasha)Onde histórias criam vida. Descubra agora