Capítulo 2

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Assim que abri a porta dos fundos, Mamãe chamou:

— Nat, é você? Preciso de você aqui.

Deixei minhas mochilas ao lado da escada e segui a voz vinda da sala.

— Ah, ótimo! — Mamãe disse. — Você pode terminar de dar mamadeira para a Morgan? Preciso muito fazer xixi.

Libertei Mamãe da bebê e da mamadeira.

— Oi, Morg! — Cantarolei, erguendo-a no ar para que ela sorrisse, mostrando suas covinhas para mim. Tão fofa. Aconcheguei-a na dobra do meu braço e inseri o bico da mamadeira em sua boquinha lambuzada, depois cruzei a sala para ir me acomodar no sofá. Apoiei Morgan nos meus joelhos dobrados. Ela mamou e agitou os bracinhos gordos, fazendo-me rir. Meu Deus, ela era uma preciosidade! Às vezes, era como se fosse minha filha.

Mamãe voltou, respirando aliviada e prendendo os cabelos com a presilha. Ao desmoronar na poltrona, ela perguntou:

— Como foi seu dia?

— Bom. — Deixei os dedinhos de Morgan agarrarem meu polegar. — E como foi o seu?

— Cansativo. Você foi ver a Maria Hill? Pedi pra ela arranjar mais uns catálogos e fichas de inscrição pra você... só por garantia.

— Ah, droga! — Minha cabeça desabou no braço do sofá. — Desculpa, eu esqueci. — "Por garantia" significava para o caso de Vassar e Brown me rejeitarem, assim como fez Harvard. Essas universidades estavam bem longe do meu alcance, mas tentei explicar isso para Mamãe. Ela me obrigou a fazer a inscrição antecipada, apesar de que eu já poderia ter contado a ela qual seria o resultado, antecipado ou não.

— O prazo para fazer a inscrição nas outras universidades é dia primeiro de fevereiro, Natasha — ela disse. — Não temos muito tempo. E você não quer ir para uma universidade estadual como a Metro Urban. — Ela franziu o nariz.

— Vou lá amanhã. Pode me passar essa toalha? — Morgan estava derramando um fio de baba no peito.

Mamãe se levantou e me entregou a toalha que trazia no ombro.

— Yelena vai vir neste fim de semana.

— De novo? Mas a gente acabou de se livrar dela.

— Natasha! — Mamãe me censurou.

— Tá, desculpa, é que... — Mordi a língua. Ela já tinha ouvido isso antes.

Se tenho que defini-la como parente, Yelena era minha irmã adotiva má. Era um show de horrores ambulante. Atualmente bancava a gótica, o que era um tanto obsceno por ser logo depois do massacre de Columbine. Eu e ela nos entendíamos como dois polos magnéticos que se repelem. Alexei, o meu padrasto, nos apresentou poucas semanas antes que ele e Mamãe se casassem, e naquele mesmo instante eu soube que jamais seríamos uma família unida e feliz. No máximo, eu conseguia tolerar a Yelena em fins de semana alternados, mas depois que a Morgan chegou e meu quarto virou um berçário, tive que dividir um quarto com a Yelena no andar de baixo. No dia do meu julgamento, o júri vai entender que a ré cometeu assassinato por motivos justificáveis.

Não era todo mundo que conseguia esgotar minha paciência, mas Yelena conseguia e sabia disso. Sabia e fazia de propósito.

Acariciei a bochecha sedosa de Morgan com os nós dos dedos, me perguntando se algum dia tive uma pele tão perfeita.

Mamãe se sentou no braço do sofá, passando os dedos pela minha franja.

— Sei o que você acha da Yelena. Mas ela ainda é muito nova.

— Ela tem quinze anos. — Em um murmúrio, acrescentei: — Indo pra dezesseis!

Mamãe suspirou:

Don't tell our secret (Wantasha)Onde histórias criam vida. Descubra agora