Capítulo 8

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Primeiro, o frio. Os pulmões inflando. Depois a força. Enfrentando-o, lutando com ele. Com mais força, mais empenho. Deslizando. Chutando. Respirando.

Mais e mais rápido. Movendo-se, movendo-se. Para longe dele. Em direção a ele. Chegando lá.

Minha voz interior cantou:

— Chegue lá, chegue lá, chegue lá.

onde?, perguntei.

Nenhuma resposta veio.

O concreto resvalou na ponta dos meus dedos ao mesmo tempo em que minha cabeça irrompia pela superfície da piscina. Meu peito doía. Cada músculo em meu corpo queimava. Por quanto tempo nadei? Por muito tempo e muito rápido. Meus olhos ardiam. Eu os fechei, agarrei-me à borda até que a tontura evaporasse. Depois me arranquei da piscina e caminhei até o vestiário para tomar um banho gelado.

— Oi, Natasha.

Dei um salto. Normalmente, eu ficava sozinha nessa parte do dia.

— Se eu tivesse a sua disciplina, poderia ser igual à sua mãe. Mas, lamentavelmente, minhas células de gordura se recusam a encolher.

Sorri para a sra. Hill.

— O que está fazendo aqui? — Minha voz soou cortante, acusadora. Do jeito como me sentia... invadida.

Por infelicidade, ela não notou. Colocando uma faixa de ginástica na testa, ela respondeu:

— Começamos um programa matinal de treinamento para os funcionários. Para trabalhar os bíceps. — Ela levantou pesos imaginários.

Amaldiçoei-a em silêncio. Meu único momento de privacidade. Eu precisava muito estar sozinha nesse instante. Para pensar. Para não pensar. Agarrei duas toalhas do carrinho da lavanderia, parado, ao lado da porta e fui em direção aos chuveiros.

A sra. Hill me seguiu.

— Chegou a estudar todos aqueles catálogos? Já decidiu onde se inscrever?

— Ainda não — respondi, girando a torneira de água quente. — Passei o fim de semana inundada de lição de casa. — O que era verdade. Estávamos apenas na segunda semana do período e eu já estava sofrendo para acompanhar o conteúdo. Motivação zero não ajudava.

— Bem, não demore muito. A maioria das inscrições deve ser enviadas antes do dia primeiro de fevereiro.

— Eu sei — alfinetei. Acalme-se, Natasha. Meu Deus. — Vou fazer isso hoje à noite. — Girei a cabeça e sorri para ela, desejando que ela fosse embora.

— Recebeu o convite?

Não respondi, apenas mergulhei debaixo do chuveiro e me desliguei.

(...)

Wan estava sentada no chão, em frente ao seu armário, lendo compenetrada uma revista dos X-Men. O copo de café estava no carpete, ao lado dela, e a caixa de donuts, aberta para o mundo.

— Você vai engordar — eu disse, antes de girar minha senha na fechadura. Não tinha como ser mais grosseira? Virei-me para pedir desculpas.

Wan não tinha escutado, ou estava me ignorando. Abri meu armário e olhei no espelho. Precisei ficar na ponta dos pés para conseguir vê-la. Ela tinha dado uma mordida em um donut de chocolate e estava agitando-o no ar, como isca para mim.

Sorri para mim mesma, sabendo que estava sendo observada. Deixando o armário aberto, fui para o lado oposto do corredor e examinei o que havia na caixa. A maioria dos donuts estavam esmigalhados ou eram sobras amassadas.

Don't tell our secret (Wantasha)Onde histórias criam vida. Descubra agora