Sábado de manhã acordei com o estrondo da tampa da máquina de lavar. Fui até a lavanderia para encontrar Mamãe dividindo pilhas de roupas.
— Mãe?
Ela deu um salto.
— Natasha, você está em casa. Não esperava ver você tão cedo. — Ela arremessou um par de shorts do Alexei na pilha das roupas brancas. — O que aconteceu? Você e o Bruce brigaram?
— Não. — Preferia que isso tivesse acontecido. Teria sido mais fácil. — Eu só quis vir pra casa.
Um frio repentino me fez tremer e eu me abracei. Mamãe se aproximou e ajeitou meu cabelo bagunçado. Tinha sido uma noite complicada.
— Fico feliz. — Ela sorriu. — Você está bem? Parece cansada.
— Estou bem.
Ela me seguiu até meu quarto. Yelena, eu notei, era um bolinho na cama debaixo das cobertas. Encontrei meus óculos e os coloquei.
— Que horas são? — Olhei para o relógio. — Seis e meia? — Da manhã? Não era à toa que eu me sentia drogada. O que ela estava fazendo na lavanderia às seis e meia? Isso é que é uma Supermãe.
Supermãe disse:
— Já que você está em casa, que tal cuidar daquelas fichas de inscrição para a universidade? — Ela deu um tapa na pilha de formulários esquecidos sobre a minha cômoda.
Suspirei de cansaço.
— Ah, certo. — De qualquer forma, eu já não ia conseguir voltar a dormir.
— Você poderia terminar isso em vez daquilo ali, seja lá o que for. — Ela apontou para o caderno de desenho aberto ao lado da minha cama. Eu o tinha deixado aberto? — Por que, de todas as matérias, você foi fazer aula de desenho?
Que perda de tempo.
Eu me arrepiei. Queria que ela fosse embora e, meu desejo foi realizado, assim que a secadora de roupas apitou.
Foi com má vontade, mas me dei ao trabalho de preencher todas as fichas de inscrição e colocá-las dentro dos respectivos envelopes: Cornell, Stanford, Antioch. Isso, sim, era perda de tempo. Ainda que me aceitassem, eu não tinha certeza se iria. De qualquer modo, onde ficava Antioch mesmo? Ouvi Yelena se erguer e se arrastar até o banheiro. Quando ela saiu, nossos olhares se encontraram por um instante. Ela talvez tenha resmungado. O rímel estava borrado até a altura do queixo. Assustador.
Ela atravessou o porão e subiu as escadas. Geralmente, ficava absorta na frente da tevê, assistindo a desenhos nas manhãs de sábado. Esse era o ritmo dela.
Tomei um banho, assei duas tortinhas na torradeira e voltei ao meu quarto para vegetar. Pensar. Sobre ele — não ele. Ela. Eu. Ela e eu.
Pare. Pare de pensar. Meus olhos desviaram para a cômoda, onde estava Beowulf, acenando para mim. Puxei o livro e o folheei até encontrar a parte em que ele nadava com seus homens alegres. Reli. Certo, era bem sugestivo. Fez com que eu lembrasse de todas as vezes, nos treinos de natação, em que as garotas bagunçavam, afundavam umas às outras, brincavam de fazer desafios. Momentos em que eu precisava me frear, porque estava ficando muito intenso.
Abaixei o livro no meu colo. Houve outros momentos também. A sra. Fielding na aula de alemão. Eu era tão apaixonada por ela. Eu costumava fingir que precisava de ajuda, só para poder ficar até depois do horário de aula. Ela não era gay, pelo menos acho que não. Era apenas linda. E Carol. Meu Deus. Tive uma atração tórrida pela Carol no sexto ano. Sétimo ano. Oitavo ano...
Meu pulso acelerou. Será que eu era? Quero dizer... gay? Se sim, o que é que eu estava fazendo com o Bruce?
Talvez eu fosse bi. Isso explicaria tudo. Um coração aberto, pronto, para dar e receber amor de quem quer que fosse. Mas os sentimentos, os arrebatamentos, as percepções aguçadas que tinha com a Wan; essas coisas eu nunca havia experimentado com o Bruce. Com nenhum cara.
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Don't tell our secret (Wantasha)
RomanceCom o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Natasha Romanoff. Ao menos, é o que parece. Até que Wan Maximoff chega na escol...