𝐃𝐈𝐒𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑, 𝗺𝗮𝘆𝗯𝗮𝗻𝗸.

𝟖.

SO SICK, ne-yo.

e eu estou de saco cheio de músicas de amor
tô cansado de lágrimas
tão farto do desejo
que você estivesse aqui.

OUTER BANKS, 11:00 AM.
2021.
ZARA.

Não consegui pregar os olhos durante a noite.

Enquanto minhas amigas dormiram tranquilamente, minha atenção de madrugada era focada num ponto específico do teto. Não prestei muita atenção nos detalhes da decoração do quarto, mas minha cabeça estava à milhão.

Rafe seria solto. Minha mãe também.

E ele com certeza viria atrás de mim e dos meus amigos. Principalmente de mim.

Rolei para todos os lados no colchão grande, mas ainda assim, nenhuma posição parecia me confortar o suficiente. Durante toda a noite, senti meu corpo tenso. Meus olhos encheram de lágrimas diversas vezes só de pensar em todo aquele inferno voltando novamente para a minha vida. Mas, não quero continuar me torturando. Apesar da ideia ser insuportável, quero me distrair a qualquer custo. Consegui tirar um breve cochilo e acordei primeiro que as meninas. Fiz um café da manhã bom pra nós, com frutas, suco e um pouco de omelete. Deixei algumas panquecas prontas também para Kiara, pois sabia que Sarah não era tão chegada quanto ela. Eu só parei no momento que escuto os passos das minha amigas chegando na direção da cozinha.

⏤ Cacete, bom dia. ⏤ Kie é a primeira a dizer algo, passando seus olhos pela mesa farta.

⏤ Isso é pra nós? ⏤ Sarah coçou os olhos.

Eu assinto rapidamente.

⏤ Acordei mais cedo. Preparei pra gente.

As meninas sorriem e andam na minha direção, me envolvendo num abraço coletivo. Logo, todas nós estávamos sentadas na mesa, tomando café da manhã tranquilamente como se nada estivesse acontecendo. Bom, agradeço por nenhuma das duas terem o poder de ler mentes. Porque iriam perceber como minha cabeça estava prestes à explodir.

Com o celular nas mãos, noto que há algumas ligações perdidas e mensagens não lidas de JJ. Respiro fundo, deixando o telefone de lado. Sarah não demora pra perceber minha insatisfação.

⏤ Está tudo bem? ⏤ perguntou, preocupada.

⏤ JJ me ligou umas dez vezes. ⏤ prendo os cabelos num coque despojado.

Estou visivelmente impaciente com isso.

⏤ Não avisou que iria vir pra cá? ⏤ Kiara questiona e eu nego com a cabeça.

⏤ Não estamos nos falando direito ⏤ dou uma garfada no pedaço de bolo em meu prato. ⏤ Ele também não me disse onde ia ontem e vice-versa.

⏤ Não falo com o John B desde o término ⏤ Sarah suspira. ⏤ Ainda moramos juntos, claro. Mas o conhecendo do jeito que conheço, não duvido nada que ele só apareça de novo aqui pra pegar suas coisas e desaparecer por Outer Banks.

⏤ Ele não é louco de fazer isso ⏤ me irrito só de pensar na hipótese. ⏤ Vocês estão juntos há anos. Não faz nem sentido.

Minha melhor amiga loira balança os ombros, demonstrando indiferença. Acho que ela também já está de saco cheio de correr atrás dele.

É cansativo. Sempre chega um ponto que fica cansativo.

⏤ Pope me mandou uma mensagem de bom dia e perguntou se dormi bem ⏤ Kiara morde o lábio inferior. ⏤ Não acho que ele tenha feito nada demais ontem à noite.

⏤ Ele nunca faz nada demais ⏤ Sarah pega a jarra de suco e coloca um pouco mais no seu copo. ⏤ É o Pope.

⏤ Acho que isso que me deixa mais entediada ⏤ Kie bufa. ⏤ É sempre a mesma coisa. Não tem mais nenhuma novidade. Eu sou a pessoa que gosta de barulho, e viver num relacionamento que não me proporciona nada tão intenso me deixa zonza.

Por um lado, entendo o ponto de vista de Kiara. Mas, por outro, penso que de todos os dilemas sobre nossos relacionamentos, ela é a que mais se dá bem. Às vezes, penso que ela cria qualquer motivo para dar logo um ponto final nessa relação.

E também penso em Pope. Ele é completamente apaixonado por ela e beija seus pés. Esse tipo de coisa me preocupa um pouco.

Diante daquele assunto, eu fico em silêncio. Acabo fixando minha atenção no nada novamente e as mesmas coisas que me atormentaram durante toda a madrugada começam à encher minha mente de novo. Fico tensa no mesmo instante.

Rafe vai ser solto.

Minha mãe também.

Quando me recordo da cena de JJ e da minha irmã mais nova sendo levados para o pronto-socorro com a pele totalmente devastada pelo fogo, meu estômago se revira. Abaixo minha cabeça na mesma hora e, mesmo que eu não queira de forma alguma demonstrar fraqueza, as lágrimas descem sozinhas.

⏤ Zara? ⏤ Sarah toca na minha coxa. ⏤ Ei, Zara, o que tá acontecendo?

⏤ Eu tô com medo pra caralho, Sarah ⏤ jogo minha cabeça pra trás. ⏤ Rafe vai tentar me matar. E, se não conseguir, ele vai tentar matar JJ de novo. E dessa vez eu não sei se ele consegue se salvar.

Kiara levanta quase que num pulo pro meu lado. Me envolveu em seus braços num abraço aconchegante. Agora, estou chorando encostada nela. Sarah me dá a sua mão e acaricia minha palma com cuidado. Apesar de elas não demonstrarem, sei que também estão com medo. Passaram pelo mesmo inferno que eu, não só uma vez.

⏤ Eu também tô assustada. É o meu irmão. Mas eu sei que dessa vez, não estaremos sozinhas em momento algum. Não vou sair do seu lado por nada, tá legal? Você tá segura, Zara. Não temos o que temer mais.

Quero acreditar nas suas palavras. Quero mesmo. Mas o terror é tão grande que só enche meu coração de angústia. Penso em ligar pra JJ, mas nesse horário, ele provavelmente estaria trabalhando e não quero atrapalha-lo. Choro por algum tempo e fico ali, aconchegada pela companhia das minhas amigas. Não demoro também pra me recompor. Não sou mais uma adolescente de dezessete anos. Tenho obrigações e deveres como adulta. Infelizmente, nos tempos de hoje, não posso reduzir todo o meu tempo ao que eu estou sentindo. Por isso, seco minhas lágrimas e me levanto da cadeira, ajudando as meninas à tirar a mesa.

Elas me dizem mais algumas palavras de conforto e, novamente, damos um abraço grupal. Agora, preciso de um bom banho antes de ir pro trabalho novamente. Mas antes, digito para o meu namorado.

"Zara: Preciso falar com você. Estarei em casa depois das seis."

Aguardo alguns segundos. JJ apenas visualizou e, em seguida, mandou um "ok" curto.

Respirando fundo, me enfio embaixo do chuveiro com água gelada. Tão fria que me remete à um certo pensamento que não me deixa em paz.

Não quero aceitar o fato de que estamos esfriando. Talvez fosse o mais consciente à se fazer; ter os pés no chão e o psicólogo pronto pra um suposto futuro baque.

Não quero perder JJ. Não mais uma vez.