5. Fix You

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A piada sobre "estar nas nuvens" fazia Bianca rir sozinha depois de sair daquela balada em Amsterdã. Ela realmente poderia ir até lá atrás de sua anja, se lhe fosse possível. Queria ter de volta os lábios dela nos seus e sentir novamente a pele de Rafaella arrepiada quando sussurrava em seu ouvido.

Naquela noite a demônia finalmente conseguiu finalizar o desenho dos olhos da anja. É claro, ainda não faziam total jus ao intenso verde daquelas órbitas, mas ela conseguiu se sentir satisfeita. A imagem lhe fazia lembrar do desejo que Rafaella demonstrava segundos antes do beijo que Bianca não tirava da mente. Dobrou o papel e guardou no bolso da jaqueta porque não queria deixar exibido por aí para que pudessem ver.

Quando se tratava da anja, Bianca podia ser mais egoísta do que qualquer demônio jamais foi.

Torceu para que a manhã chegasse logo para que pudesse voltar à Terra e se encontrar com Rafaella outra vez. Sabia que ela precisava de um tempo para entender e aceitar o que tinha acontecido entre elas, mas não podia deixar de ansiar para que esse tempo fosse o mais curto possível. Mas o dia passou lentamente sem que a anja aparecesse em nenhum momento.

Ao início da noite, voltou para o alto do mesmo prédio de sempre, localizado na avenida mais famosa de São Paulo, na esperança de que sua anja surgisse agarrada àquele colar. Mas ela não apareceu.

E nem durante todo o dia seguinte ou ao longo da semana.

Bianca não sabia administrar aquele sentimento de saudades, porque jamais tinha se apegado a alguém para sentir falta daquela forma. Isso fazia com que também não conseguisse administrar seu humor, que piorava a cada dia que passava sem o encontro com Rafaella.

No último dia da semana, seus nervos estavam no limite. Aquele foi o dia em que mais incentivou, consecutivamente, que os humanos cometessem pecados. Talvez porque o mau-humor despertasse seus instintos mais demoníacos, mas, principalmente, porque esperava que um anjo aparecesse para reparar seus erros e esse anjo fosse o seu anjo. Foram quarenta e oito pecados em um só dia, quase todos os sete realizados. Exceto um.

Totalmente em vão. Outra vez Rafaella não apareceu.

Bianca voltou para o inferno naquela noite esperando que pudesse ficar no seu canto sem ser incomodada pelos outros demônios. Não seria capaz de se responsabilizar por nenhum braço quebrado a mais.

Porém, mal fechou os olhos quando ouviu passos firmes, seguidos de uma voz aliciante dizendo:

– Impressionante. Verdadeiramente impressionante...

Bianca abriu os olhos e se colocou de pé rapidamente porque conhecia bem aquela voz. Era a única que lhe fazia sentir algum tipo de impotência.

– Lu-Lúcifer – gaguejou, intimidada pela presença de seu superior. Nunca o tinha visto sair de seu trono, se assim o fizera significava que o assunto era sério.

– Não diga o nome do diabo, isso pode ser ruim – ele disse e riu sarcástico. Era o tipo de humor preferido de Bianca e, aparentemente, de todos os outros demônios, mas, naquele momento, ainda estava bastante apreensiva para sequer entender a piada.

– Me-me desculpe.

Mas Lúcifer não respondeu. O olhar de Bianca o seguia, enquanto ele caminhava de um lado para o outro, com o mais malicioso dos sorrisos e carregando toda a soberba pela qual era responsável.

– Ouvi dizer que os anjos nos culpam pelos pecados. Como se fossemos responsáveis por implantarmos as ideias nas mentes humanas ao invés de apenas potencializá-las...

É, eu sei bem. Foi o que a demônia pensou, mas não ousou interromper o Diabo.

– ... Não posso reclamar, é um bom boato. E hoje você até parece tê-lo concretizado. Tenho certeza que alguns deles foram sua culpa, afinal, quarenta e oito em um único dia? – Ele parou por um momento, estando de costas para ela e começou a dizer em um tom de voz baixo, mas que aumentava gradativamente a cada palavra. – Sabe Bianca, isso inicialmente acabou me deixando um pouco BRAVO! – Quando se virou, seus olhos estavam em um tom vermelho brilhante, mas, diferente dos demônios que apenas tinham a íris dessa cor, Lúcifer podia preencher toda a esclera, tornando-o o mais assustador dos demônios, por isso o soberano deles. Ele riu e seus olhos voltaram ao normal quando Bianca deu um passo para trás. – Eu achei que você tinha batido a minha marca. Sabe quantos pecados eu potencializei em um único dia, Bianca?

Não Se Perca No Céu Onde histórias criam vida. Descubra agora