Capítulo 63

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HARVEY

A dor fica mais difícil de suportar com o tempo, nada nunca fica mais fácil. O vazio se torna maior a cada ano. É inevitável ser consumido pela solidão e pela saudade. É uma grande mentira dizer que o tempo cura as feridas, que a dor diminui. Feridas internas nunca serão capazes de se cicatrizarem, nem se tornar suportável, é simplesmente impossível superar a perda de alguém que você ama.

As idas no cemitério têm se tornado mais constantes nas últimas semanas. Sei que os meninos pensam que eu me sinto melhor, é o que eu tento transmitir para eles, porque eles se esforçam tanto para me ver bem, mas eu sei que regredi, que desde a morte da minha mãe, nunca me senti tão péssimo como agora, exatamente como foi nos primeiros meses.

À noite eu sinto que posso ter liberdade para deixar o sofrimento fluir para fora. Não há pessoas visitando os túmulos dos seus entes queridos, e eu fico só, sozinho com os sentimentos que tem esmagado o meu coração.

"Clair Sparks". Ver o nome dela esculpido na lápide faz os ossos do meu corpo doerem. As lágrimas preenchem os meus olhos e meus joelhos fraquejam.

A minha mãe nunca teve a vida que ela merecia, ela era a mulher mais incrível que existia e teve que viver essa merda de vida sem nunca ter a chance de fazer as coisas mudarem. A morte do meu pai levou com ele o vislumbre de uma vida feliz, o horror vivido nos anos depois disso nem se comparava ao horror na minha vida agora. Mas ela estava melhor enterrada ali ao lado dele, eu sei que ela estava melhor. Que ela não precisava mais sofrer, e resistir um dia a mais nessa vida que ela já não aguentava mais viver. Ver o brilho se apagando dos seus olhos no decorrer dos anos, a alegria, a força, a esperança se esvaecendo do seu corpo a cada droga de segundo... Era a agonia mais miserável para se aguentar. Ela ainda só estava nessa terra por mim, e ela aguentou o quanto pôde. Queria ter tido a chance de dar algo melhor para ela, mas essa porra de mundo mesquinho e cruel sempre tem o seu jeito de te tornar mais miserável.

Às vezes eu penso que não vou ter mais lágrimas para chorar, ou um coração para bater. A dor é tão intensa que parece destruir tudo dentro de mim, até não restar mais nada. Talvez parte da minha alma esteja sendo levada a cada dia que eu passo tendo que conviver com isso. Que a minha ida até o inferno seja menos tardia então.

Nessa noite, não é como todas as outras. Eu me dou conta que não estou mais sozinho quando escuto passos perto de mim. A pessoa que eu vejo, é a última que esperava encontrar de novo aqui, mas eu sei que não estava mais perdida como da outra vez, ela estava aqui para me ver.

— O que está fazendo aqui? — eu perguntei ao levantar a cabeça e olhar em seu rosto. Os meus olhos queimavam e eu não me importava. Era horrível ficar fragilizado na frente de alguém, mas eu não me incomodava de estar na frente dela, não agora, quando a dor me engolia para dentro de um buraco escuro e frio.

— Sabia que estaria aqui, então... eu vim falar com você, porque eu sei que você não iria falar comigo nem tão cedo. — April meio sem jeito, me disse o propósito de estar ali. Ela mexeu com as mãos e depois cruzou os braços atrás do corpo. Não conseguiu me olhar por muito tempo, e desviou os olhos para o chão.

Era adorável a forma como ela ficava estando acanhada. Ela conseguia ser adorável sem fazer nenhum esforço para parecer assim. Mas mesmo ver o rosto dela ter sido a melhor coisa a me acontecer nessa noite, eu dei a resposta do que era melhor para ela e não para mim.

— Perdeu seu tempo vindo até aqui. Vai embora, eu quero ficar sozinho. — voltei a olhar para o túmulo.

Eu não era uma boa companhia para April, e não era uma boa companhia principalmente quando estava na escuridão, como agora. Ela deveria se manter afastada de mim, eu não tinha nada de bom para oferecer a ela, nunca teria. Eu não era só um garoto quebrado, eu estava destruído, não tinha mais conserto para mim.

Não Se Esqueça De Mim [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora