Capítulo 103

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APRIL

Lucas foi quem veio me dar a notícia de que eu já tinha recebido alta do hospital. Mesmo não querendo estar ali, não conseguia sentir a mínima animação que fosse por isso. Eu me sentia como se estivesse anestesiada de qualquer sentimento; dor, tristeza, felicidade, alegria... Não era capaz de sentir absolutamente mais nada, nem mesmo o meu coração bater. À tarde, ele, Hailey, e Harvey vieram me buscar, contaram um pouco sobre o estado da Pearlyn e logo depois mudaram de assunto na tentativa de me fazer se sentir um pouco melhor, mas nada do que eles dissessem ou fizessem seria capaz de me fazer esquecer o que aconteceu.

Os três fingiam conversar "empolgados" sobre coisas aleatórias, porém, eu apenas olhava para o vidro da janela do carro, observando aquele dia cinzento. Estava os ignorando, isso era tudo o que eu era capaz de fazer naquele momento. Depois de várias tentativas inúteis de me fazer reagir eles perceberam que isso não aconteceria, então ficaram em silêncio e permaneceram o resto do caminho para casa assim.

O tempo que eu passei no hospital me fez pensar em muitas coisas, coisas essas que me fizeram ver como a vida é de verdade.

Quando o Lucas estacionou em frente à nossa casa ele pegou a pequena mala que eu trouxe do hospital de dentro do carro, e Harvey abriu a porta para mim. Imediatamente senti o ar rarefeito e frio me envolver, e cada respiração me doía. Era definitivamente impossível respirar normalmente.

Harvey tentou me ajudar a sair do carro, mas eu não deixei, nem sequer olhei para ele, para nenhum deles, e com toda dificuldade que tive fui até a porta de casa e esperei que Hailey a abrisse.

Ao entrar naquele cômodo uma imensa sensação de vazio tomou conta de mim, e eu não pude evitar que o horrível sentimento de perda voltasse.

— Lucas, por que não sobe com a mala da April? Eu vou fazer algo para ela comer. — Com isso Lucas entendeu o recado da Hailey e fez exatamente o que ela falou, deixando apenas eu e Harvey na sala.

Um silêncio se formou até que ele resolveu chegar mais perto de mim.

— Quer subir para o seu quarto para descansar? — Tentou tocar o meu rosto, mas eu me afastei dele de novo.

— Eu quero que você vá embora. — Falei juntando todas as forças que tinha enquanto encarava o nada.

— Tem certeza que não quer que eu fique um pouquinho com você? — Como ele não obteve resposta percebeu que eu não mudaria de ideia. — Tudo bem, eu vou. Vai ficar bem sozinha? Eu posso voltar mais tar...

O meu coração gritava desesperadamente para que eu não fizesse aquilo, mas era necessário, ele precisava ficar longe de mim.

— Não, Harvey. Eu não quero só que você vá embora agora. — Olhei para ele. — Eu quero que você vá embora da minha vida.

Ele me encarava analisando minuciosamente cada palavra dita por mim, procurando a mínima brecha que fosse para perceber que eu não falava sério.

— O quê? Mas o que você está falando? — A expressão que ele tinha no rosto era de confusão e ao mesmo tempo preocupação. E temendo a minha resposta ele esperou que eu falasse.

— Isso é tudo culpa sua! — Não, não é. É minha, e é por isso que eu não quero te condenar a ficar ao lado de uma pessoa como eu. — Se você não tivesse entrado no meu caminho nada disso nunca teria acontecido.

— Não diga loucuras! Ninguém aqui é culpado pelo que aconteceu.

Eu via em seus olhos que ele não acreditava em nada do que eu estava dizendo. E por mais que aquilo me doesse, eu tinha que fazer.

— Vai embora daqui. — Disse em um tom de voz frio. — Você Sparks, é o que há de pior no mundo, por onde você passa só deixa desgraça e eu não quero mais você perto de mim.

Eu me segurava para não desabar em lágrimas. E ver o efeito que as minhas palavras causavam nele era o pior de tudo. Como dizer aquelas palavras destruía o meu coração. Mas eu sabia que se eu não as dissesse Harvey jamais se afastaria de mim, e mesmo o amando com todas as forças não queria mais que ele sofresse por minha causa, por isso eu tomei essa decisão de mantê-lo longe de mim. Não ter alguém como eu por perto vai ser o melhor para ele.

— Vai, por favor.

Harvey abriu a boca para argumentar novamente e eu sabia que isso não acabaria tão cedo. Não tinha forças para levar isso adiante. Saí da sala sem lhe dizer mais nenhuma palavra. Harvey não viria atrás de mim, tinha certeza disso. Coloquei um ponto final da forma mais dolorosa, mas definitiva.

Chorei tão alto quando entrei no meu quarto que sabia que todos os outros escutaram, não demorou para que Hailey entrasse às pressas e corri para abraçá-la.

— Hailey, acabou, acabou tudo!

— April, respira. Do que é que você está falando? — Não a respondi. Hailey jamais concordaria com o que eu fiz, e talvez fosse até capaz de me fazer voltar atrás, mas eu não podia fazer isso, tinha que ser firme, ou então só traria mais desgraça.


Um capítulo curtinho, mas tão importante... Imagina o tanto de coisa que deve estar se passando pela cabeça da April.

Galera, tenho dois recadinhos para vocês! Primeiro: quando vocês lerem aqui "último capítulo" não se desesperem, porque depois disso ainda vai ter um epílogo bem grandinho explicando vários acontecimentos do que rolou aqui na reta final.

Segundo: Pessoal, agora de fato estamos chegando nos últimos capítulos da história. Mas tenho uma boa notícia para vocês! Existe um segundo livro dessa história, mas ela se passa em uma fase totalmente diferente, ou seja, este ciclo vai estar totalmente encerrado. Esse segundo livro não está terminado, mas como já existem alguns capítulos gostaria de ir postando para vocês. Mais informações sobre o segundo livro serão postadas mais adiante aqui mesmo, no fim dos capítulos finais. Dando minha opinião pessoal o segundo livro é bem mais elaborado e envolvente, então acredito que vocês vão se apaixonar pela história tanto como aconteceu aqui. Em breve nos "vemos" novamente, aproveitem essa reta final e logo mais também encontro vocês lá no outro livro! Um beijo!

Não Se Esqueça De Mim [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora