Capítulo 87

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HARVEY

Não precisou nem de cinco minutos para eu perceber que agi feito um idiota.

Cresci com o pensamento de que nunca iria ter filhos, e formar uma família. De repente essa possibilidade aparece diante dos meus olhos e me deixa completamente apavorado. Droga! Como isso foi acontecer? Não nos cuidamos algumas vezes que tivemos relações sexuais e agora eu via o quanto isso foi errado. Mas ela era a inexperiente, com certeza não estaria tomando anticoncepcionais. Eu deveria ter tido a consciência, não posso culpá-la por isso. Nada pode justificar o meu ato inconsequente, sei que fui um babaca por dizer todas aquelas coisas, e o pior de tudo era saber que jamais poderei retirá-las.

Depois de receber a informação e montar pequenos fatos na minha cabeça, cheguei à conclusão de que me tornei aquilo que sempre tive medo, aquilo que me fez desejar nunca ter filhos. Ser um péssimo pai. E tudo isso sem ao menos tentar. Eu mal fiquei sabendo que meu filho existia e já o reneguei, então, que espécie de pai eu era? Uma espécie de pai desprezível, e que qualquer filho preferiria manter distância. Meu consciente aponta.

April agora não deve querer olhar na minha cara nunca mais, e com toda razão. Nenhum pedido de desculpas repararia o que eu fiz, mas eu precisava ao menos tentar.

Deitado na minha cama e olhando para o teto me imaginei fazendo tudo diferente. April me dizendo que vamos ter um bebê e eu correndo para abraçá-la e enchê-la de beijos dizendo-lhe que por mais que isso me amedrontasse eu faria de tudo para ser um ótimo pai para o nosso filho. Nada disso era real. Aos poucos a realidade obscura foi substituindo os sorrisos por lágrimas e a felicidade pela dor.

Tudo o que eu podia fazer agora era tentar me redimir da forma mais sincera possível, para lhe mostrar que eu queria sim fazer parte da vida do nosso filho.

No quinto dia trancado dentro do meu apartamento fazia exata uma semana que eu faltava às aulas no colégio, e só o que me fez levantar dessa cama e sair do estado calamitoso que eu me encontrava foi a visita não muito inesperada de um dos meninos. Só achei que Zack seria o primeiro a vir aqui, mas talvez ele já estivesse lidando com problemas demais para ter que lidar com os meus.

— Pensei que... talvez tivesse tido tempo suficiente para pensar, e pudéssemos conversar. — Lance disse hesitante ao que abri a porta.

Sem saber muito o que dizer eu a abri mais para ele, insinuando que eu estava de acordo com sua sugestão.

— Não tem aparecido nas aulas, pretende voltar? — ele se sentou no sofá.

— Só estou dando um tempo. — o segui e me sentei no sofá à sua frente. — Não vou reprovar por isso, Lance. — dei um sorriso fraco por imaginar o que ele pensava. Ele retribuiu da mesma forma.

Um silêncio constrangedor se instalou. Lance esfregou as mãos umas nas outras. Sabia que ele estava com receio de puxar o tal assunto.

— Me desculpa. — soltei. — Por ter deixado chegar a esse ponto.

Algumas marcas ainda estavam visíveis em seu rosto. Devia ter parado aquela briga. Na verdade, não devia nem ter deixado ela se iniciar.

— Isso é o de menos. — ele deu de ombros e eu fiquei surpreso. Pensei que Lance ia querer me espancar ou algo assim. — Não pense que não tive vontade de acabar com a sua raça, porque, eu tive. Mas... quero saber como vão ficar as coisas entre você e a April, o que pretende fazer.

— Quer saber se me arrependo das coisas que eu disse? — Lance concordou levemente com a cabeça. Não o respondi de imediato, um flash dos acontecimentos me veio à memória. — Fui um idiota, não fui?

Não Se Esqueça De Mim [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora