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As tardes de domingo não são compatíveis com cheiro de nicotina

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As tardes de domingo não são compatíveis com cheiro de nicotina.

Está quente e frio ao mesmo tempo, é assustador e sombrio, persistente e queima, faz com que eu sinta algo contraditório agora. Sentei-me de pernas para o ar na varanda do meu quarto e inalei a fumaça que meu vizinho soltou. Não nos conhecemos pessoalmente, nunca nos vimos, mas depois de meio mês, sempre saio para a varanda à tarde para sentir o cheiro do seu cigarro.

Uma das poucas situações em minha vida que considero como sorte é o quarto onde moro, que tem vista para o oeste. Dez andares de altura contando do andar anterior, ou seja, tenho a oportunidade de assistir ao pôr do sol, sempre que eu quiser, exceto nos dias em que está tão nublado que a jornada da bela luz fica obscurecida.

Meus olhos olham para aquele horizonte rosa e pálido, sinto a fumaça atingindo meus sentidos diluída em minha respiração.

De repente...

O silêncio foi quebrado por um momento quando algo atingiu a parede que separa o meu quarto do quarto do meu vizinho.

De repente... de repente...

Primeiro me virei para olhar, muito curioso. O rapaz que mora ao lado se aproximou da saliência com barricada de metal, eu pude ver sua mão que ainda estava segurando o cigarro e a outra mão que parecia ter batido na parede. Esperei um minuto e ele então me ligou.

"Em dez dias você vai fazer dezoito, certo?" Sua voz parecia solitária. Tento olhar para ele, mas não consigo ver seu rosto com clareza.

Além disso, como ele sabia?

"Sim?"

"Eu só queria te dizer... feliz aniversário com antecedência."

Eu me sinto tonto sem motivo, ou talvez haja um motivo, provavelmente porque eu estava acostumado a assistir ao pôr do sol com ele por meio mês, e sua última frase foi como se ele não fosse estar aqui no meu aniversário.

"Você me conhece?" pergunto educadamente, porque acho que ele é mais velho do que eu. O menino ficou em silêncio, antes que sua mão batesse a bituca do cigarro em uma vasilha que não tinha plantas.

"Não é importante"

"É mesmo?" levantei os dois braços, colocando-os sobre os painéis de metal, apoiei minha cabeça sobre minha mão, usando-a como travesseiro e deixei os pés balançando no ar.

"Você se sente sozinho?" Suas palavras fazem aquelas pessoas que vivem sozinhas depois de perderem seus pais ainda jovens, tremerem.

"Sim"

"Você ficará mais forte depois disso"

"Sério?" Não sei o quanto devo acreditar em suas palavras, principalmente quando nem mesmo sei quem ele é. "Sinto que estou sobrando nesse mundo"

"Eu costumava pensar assim"

"Eu, uh... eu acho que pode soar um pouco estranho."

"Pode falar, estou lhe ouvindo bem" disse ele, sentando com as pernas balançando. A distância da parede que nos separa me deixa confiante.

"Meus pais me chamaram de Soon[1], não é engraçado?"

Eu disse isso antes de ficar em silêncio para ver a reação dele, a outra pessoa balançou seus pés no mesmo ritmo mostrando familiaridade e eu...

Me senti à vontade!

"Como todos dizem, eu não tenho valor. Porque você sabe... qualquer fração dividida por zero não tem um valor matemático".

"Você está errado, criança"

O ritmo da sua respiração estimulou mais minha adrenalina do que a nicotina que ele fumava. Ele não tirou sarro das minhas palavras e isso me deixou curioso.

"Estou?"

"A matemática pode não ser definida, mas você é infinitamente especial na vida de outras pessoas".

Eu olhei para o céu que está à uns graus de distância, está tarde! São vinte e quatro graus e a pessoa ao meu lado está a noventa graus de distância.

"Falar com você fez eu me sentir incrivelmente melhor".

"É mesmo?" ao ouvir a risada que saiu da garganta dele, fiquei em silêncio até o sol se pôr. Tudo era vago... quero dizer, a situação.

"Você gosta de assistir ao pôr do sol?"

"É lindo o céu ao pôr do sol"

"Então isso significa que você gosta do céu ao pôr do sol?" perguntou ele. Seria bom eu me inclinar para falar com ele mais abertamente, mas o céu do pôr do sol estava realmente lindo e me impedia de tirar os olhos dele.

"Gosto!"

Nunca havia sentido tanta vontade de ver o sol se pôr como hoje.

"Soon?"

"Sim?"

"Pode me prometer uma coisa?" seus pés congelaram como se o vento tivesse parado de repente.

"Depende do que irá me pedir"

"Seja forte, se respeite sempre, acredite no amor e não seja tão solitário"

O que ele estava pedindo era realmente difícil para mim. Estou sempre fraco, as pessoas sempre me insultam, me sinto sem amor o tempo todo e estou sempre sozinho.

"Eu tentarei"

Mesmo vivendo assim eu resolvi prometer, porque apenas me faltava apoio e isso ele me ofereceu, sem dúvidas. Não houve respostas dele, como se tudo o que aconteceu há poucos minutos não passasse de uma ilusão e tudo que confirmou sua existência foi o cheiro de cigarro vindo da varanda ao lado.

"Obrigado" falei, mas não sei se ele me ouviu. Se possível, amanhã à tarde eu voltarei para ver o pôr do sol e perguntarei seu nome. Olhei para o lado, mas estava vazio, não havia mais fumaça, ele não estava mais ali e tudo escureceu. Não consigo mais ver o sol se pondo.

E foi assim que comecei a achar que as terdes de segunda-feira pareciam compatíveis com o cheiro de nicotina.

Então comecei a fumar.

Se a matemática não define o zero, eu sou a resposta.

[1] Soon: 'Soon' é Zero em tailandês e grau é Ôngsaa, que são os nomes dos protagonistas

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[1] Soon: 'Soon' é Zero em tailandês e grau é Ôngsaa, que são os nomes dos protagonistas. Durante a tradução será usado Soon e Ôngsaa para se referir à eles.

Nota: Essa novel é narrada de uma forma graciosa, quase como uma poesia e é exatamente esse detalhe que a faz tão delicadamente linda. Espero fazer um bom trabalho ao traduzi-la e que nesse processo, a novel não perca seu encanto.


Zero Absoluto (Absolute Zero องศาสูญ) - Tradução PT-BROnde histórias criam vida. Descubra agora