os saltos sobre o mármore

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Estou sentado na minha própria sala de estar, acendo um cigarro e trago com calma, sentindo a fumaça esquentar a minha garganta e, logo depois, uma sensação de alívio me invadir.

Acho que hoje finalmente é o grande dia, pra mim pelo menos é. Bato o cigarro no cinzeiro bem ao lado da minha poltrona e encaro o cômodo vazio no qual eu estou. Esta casa é oca por dentro desde que tudo aconteceu e confesso que às vezes parece um milagre que eu ainda esteja aqui de novo, depois de tanto tempo. Na mesma casa.

Levo mais uma vez o meu vício à boca e ele me faz bem, de um jeito que jamais deveria fazer, mas foi a única coisa que me restou.

Quando menos espero escuto alguns passos pesados próximo ao hall de entrada e lembro de Ashton, o meu mordomo, e a pessoa que considero mais fiel a mim. Depois dela.

Em seguida, há uma movimentação e nem me impressiono quando o barulho agudo dos saltos castiga meu chão de mármore. Não é como se eu me importasse, é só que... realmente não me lembro a última vez que uma mulher entrou nessa casa.

A bonita loira para na minha frente e me esforço pra sorrir. Ela é bem mais nova do que eu imaginava, tem a idade pra ser minha filha. De qualquer forma, acho que nenhum de nós dois está confortável de fato com tudo isso, mas ela devolve o sorriso e me estende a mão.

Senhor Hood, estou feliz que tenha decidido falar, depois de tanto tempo... — ela começa, bem calma. — Se importa se eu me sentar?

A pergunta parece irrelevante quando, antes que eu responda, o corpo esbelto se encontra com o sofá e ela ajeita a saia, virando logo em seguida para pegar algo na bolsa.

Fique a vontade, hm... — por um momento me dou conta de que não lembro o nome dela.

Casatti — ela diz em um tom neutro, percebendo meu constrangimento. — Anita Casatti.

Ficamos em silêncio mais alguns minutos enquanto ela tira os materiais da pequena bolsa de couro. Uma caderneta surrada, duas canetas e um gravador. Eu sabia o que isso significava e, depois de tanto tempo, estava pronto pra isso.

Muito bem, Senhor Hood... — ela fala, mas eu a interrompo.

Calum — digo devagar —, você pode me chamar de Calum.

Ela me dá um sorriso leve e então cruza as pernas. Vejo a luz do gravador brilhar vermelha sobre a mesa de centro.

Muito bem, Calum, por que exatamente me chamou até aqui? — ela pergunta sorrateira, como a boa jornalista que é.

Estou pronto pra contar — falo e sinto a minha boca se secar rapidamente —, estou pronto pra contar o que aconteceu naquela noite de Halloween.

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