a fúria nos olhos dele

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Aceita um copo de água, senhor? — Ashton surge do nada com uma bandeja e também oferece a Anita, que recusa com um simples aceno.

Aceito a água de  bom grado e bebo quase de uma vez, sentindo o líquido descer raspando pela minha garganta. Contar essa história passou a ser um momento difícil pra mim, no qual eu me lembrava da Becca e sentia meu coração se apertar sobre a camisa de linho.

Antes de continuarmos, tenho uma pergunta. — Anita se manifesta e até Ashton parece tenso com a expectativa de qual seja a dúvida dela. — Nas histórias que ouvi sobre vocês, todas elas te culpavam pelo que aconteceu com ela...

E não poderiam ser diferentes se eram sempre contadas sob o ponto de vista da mesma pessoa... — falo ácido e o rosto dela faz uma careta delicada.

Descanso o copo na mesa de centro que estava em frente a minha poltrona e acendo mais um cigarro. Trago uma vez e aprecio o silêncio, assim que a fumaça sai pelo meu nariz, volto a falar.


"Então, ela me convenceu a ir no baile de Halloween na Rua Baker naquele outono. Lembro de estar em casa, revirando meu guarda-roupa atrás de qualquer coisa que fosse elegante e que também pudesse servir de fantasia. Mas tudo que eu encontrava eram camisetas brancas e jeans surrados, alguns inclusive com rasgos nos joelhos.

Posso saber o que está procurando? — escutei a voz grossa do meu pai vindo da soleira da porta, onde ele devia estar me encarando com curiosidade.

Vou a uma festa hoje — falei despreocupadamente —, então estou procurando algo que possa servir de fantasia, algum paletó velho, sei lá...

Festa? — o tom na voz dele mudou de repente e isso chamou a minha atenção. — Não é a festa na casa dos Capuleto, né?

Me virei pra ele, achando curioso como algo parecia incomodá-lo em relação a isso. E daí que era uma festa na casa dos Capuleto?

Sim, Becca me convidou — digo, também em um tom de defensiva — espero que você não tente me convencer de não ir, porque eu já prometi que estaria lá.

Vi o olhar do meu pai se suavizar e ele se aproximou de mim, sentando-se na borda da cama. Seu rosto parecia cansado do trabalho no escritório, mas ele permanecia com um semblante vívido, olhando de perto.

Preciso que me prometa uma coisa, filho. — ele começa em um tom baixo, como se estivesse com vergonha do que fosse me pedir. — Precisa me prometer que você não vai irritar o pai dessa menina. Ernest é um ser humano cruel, sempre foi. Não se meta no caminho dele e tudo ficará bem.

Ernest Capuleto. Então esse era o nome dele. Achei curioso que meu pai parecia falar dele com uma proximidade estranha, como se o conhecesse bem o suficiente.

E como eu poderia fazer isso? — dei uma risada leve, achando essa conversa um pouco sem sentido.

Meu pai se levantou e foi até a parte do guarda-roupa que pertencia ao Ashton, abrindo a porta. Ficou um silêncio entre nós enquanto ele encarava as peças de roupas, parecendo procurar alguma coisa específica. Ele começou a movimentar os cabides e, de repente, esticou o braço para pegar algo no fundo que parecia estar escondido. Quando finalmente tirou a mão de lá, se virou pra mim, me entregando o conjunto risca de giz.

Vá de Gomez, vai combinar com você — ele falou enquanto caminhava de novo até a porta —, sobre a sua pergunta, é simples, não se apaixone por ela Calum...

halloween na rua baker | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora