Um Pesadelo Seria Melhor.

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A noite de jogos na casa de Kim Jisoo era sempre um aperto no peito de Lalisa. Ela tomou um gole generoso da cerveja gelada e tentou focar em outra coisa que não fosse ela. Roseanne Park, melhor amiga de Lisa, estava sentada no colo de Joshua, que também era amigo dela. Os dois conversavam com Jisoo sobre seus planejamentos para começar uma família. Rosé e Josh iriam começar a tentar engravidar em setembro, para o futuro filho nascer no verão, mas Lisa não conseguia se sentir bem com aquilo.

Jennie e Sabina estavam preocupadas com a amiga, com a expressão fácil indiferente, enquanto os olhos da mulher que ama brilhavam de amor pelo esposo. Tinham medo pelo possível próximo sumiço de Lisa, era normal isso acontecer. Ela se magoava com o amor infinito de Rosé e Josh e viajava sem avisar ninguém por meses, da última vez Lisa havia sumido por um quatro meses. As duas amigas eram as únicas que sabiam do sentimento de Lisa e porque ela deixou escapar na sua formatura da faculdade que queria estar no lugar dele.

Lalisa olhou no relógio, aquilo já tinha dado a sua hora e apenas procurou as chaves, ela precisava espairecer. Checou seu celular completamente vazio de mensagens, já que ela não conseguia se relacionar muito bem com outras mulheres. Ela fazia sexo, mas nada muito incrível para continuar um relacionamento, ou ter relações carnais com a mesma pessoa duas vezes.

- Eu tenho que ir, pessoal. - ela avisou tentando parecer alegre.

- Sério, Lali? - foi Rosé que perguntou com uma expressão triste.

- Estamos entrando na semana de moda de Paris, preciso estar lá. - ela respondeu sentindo o coração bater forte no peito.

Rosé se levantou e veio em sua direção dando um abraço apertado nela. As duas tinham o mesmo tamanho, mas Roseanne sempre dava um jeito de colocar a cabeça no peito de Lisa e acabando por escutar o coração dela, era uma mania.

- Não se afaste mais, ok? - ela disse baixinho.

Lisa quis dizer que não iria, que estava radiante por ela e Josh e que sentia saudade dela, mas apenas sorriu torto, como sempre costumou a fazer.

- Você sabe como eu sou.

Rosé não sabia, isso era o pior. Elas eram melhores amigas e Lisa costumava ser um uma pessoa baixo astral e muito carrancuda e a melhor coisa que ela sentia era por Rosé, o que a deixava triste já que a mulher não sabia disso. Ela não conhecia sua melhor parte.

- Só esteja aqui quando o meu filho nascer! - gritou Joshua brincalhão.

Aquilo deixou Lisa pior do que já estava, eram quase oito anos fingindo não gostar de Roseanne, por isso não entrou em um choro desesperador.

- Vou fazer o meu melhor. - ela disse, pois não, ela não iria estar no nascimento do filho dela com ele, não pretendia nem conhecer aquela criança.

Lisa adora crianças mas aquilo seria demais para o seu cérebro e coração. Ver uma criança parecida com ela, com as suas mesmas manias, o mesmo nariz, os mesmos olhos e saber que aquele anjinho não é seu filho também iria lhe matar de vez. Quando o pai de Lisa a abandonou com sua mãe quando ela tinha quatro anos e logo depois aos seus vinte anos sua mãe lhe rejeitou por ser lésbica, isso apenas fez florar o sentimento materno, ela queria ter filhos e ser uma mãe completamente diferente dos seus pais, mas agora havia ganhado um banho de água fria. Ela não conseguiria criar uma criança sozinha pelo seu trabalho e a mulher com quem queria ter filhos estava bem casada e querendo ser mãe junto de seu marido.

Um pesadelo seria melhor, mas essa é a vida de Lisa.

Quando saiu e entrou no seu carro ela soube que nunca mais iria se reunir com seus amigos daquele jeito. Iria se afastar de Jennie, Jisoo, Sabina e até mesmo Sina, mas não iria mais se intrometer na vida deles. Ela se sentia assim depois da formatura, todos arrumaram empregos estáveis em empresas, lugares ótimos e ela havia sido uma grande revelação no mundo da moda como fotógrafa e seu trabalho lhe afastou de Nova Iorque de vez. Sempre quando se encontrava com seus amigos se sentia da mesma forma, uma intrusa, ainda mais que todos são um casal e ela estava aparentemente de fora. Não era originalmente assim, mas Josh se inseriu na marra no grupo de amigos e automaticamente fez com que Roseanne se apaixonasse por ele. Lisa não o culpava ou culpava ela, o cara além de bonito, inteligente, era nada preconceituoso e tratava ela muito bem. A única culpada na história era ela.

Com o tempo Lisa se sentiu na necessidade em ir em uma psicóloga, que acabou virando uma de suas melhores amigas. Elas só conversavam nas consultas dela, mas ela realmente não tinha muitos amigos e não conversava com nenhum deles, Jennie até tentava, mas Lisa nunca atendia suas ligações, nem respondia as mensagens. O seu trabalho era a sua vida, ela não tinha família nos Estados Unidos da América e muito menos na Tailândia, não namorava e também não conseguia criar nenhum tipo de laço com outras pessoas. Ela havia adotado um hamster apenas para se sentir culpada sempre que pensasse em se matar, mas o bichinho havia falecido e Lalisa voltou a ficar completamente sozinha.

Seus dias passavam muito rápido e muito devagar ao mesmo tempo, era horrível, ela nunca sentia nada e isso era um dos maiores sintomas de sua depressão profunda que ninguém sabia. Sua equipe profissional sabia como Lisa trabalhava, sabia que ela nunca saia com ninguém, também nunca se divertia e isso os deixavam preocupados. A estilista do time de Lisa as vezes se perguntava se ela não tinha ninguém, pois precisava avisar que o buraco onde ela estava se enfiando era um caminho sem volta. Mas a tailandesa não se importava, ela só queria se afundar mais, até que a dor parasse.

No final, Lisa já estava conformada que a vida adulta era extremamente solitária quando se tratasse dela. Ela entendia que sua vida era daquela forma e não conseguia culpar ninguém, nem mesmo seus pais, a única culpada era ela e isso era um fato e o silêncio cada vez foi engolindo a jovem que era.

Lalisa se olha no espelho e nem consegue se reconhecer mais.

Her. - Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora