Capítulo 4

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JONATHAS

Hadassa parecia ser uma pessoa incrível. Embora tivéssemos conversado apenas um instante e eu não soubesse a sua idade, ela tinha um jeito de menina arteira que me ganhou em poucos minutos, coisa que não era fácil de acontecer. Mas me arrependi de não tê-la ajudado como deveria quando nos despedimos.

De repente, ela ficou pálida e cheguei a pensar que fosse perder os sentidos, mas antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, Hadassa já tinha desaparecido do meu campo de visão. Suas últimas palavras foram que "estava ótima", mas eu não tinha me convencido disso. Só espero que ela tenha chegado realmente bem em casa.

A manhã atípica logo passou com o transcorrer das atividades domésticas e Naná já estava desfrutando do almoço tradicional que eu preparara, mas os pensamentos de antes não me deixaram, e quando dei por mim, Naná já dera um tapa em minha cabeça.

— Ai!

— Vamos, pare de choramingar e me diga logo o que aconteceu.

— Como assim?

— Ora, a razão para você estar aí parado e sua comida esfriando. Conte logo pra sua avó o que deu em você.

— Ah... isso? – voltei meus olhos para o prato novamente, sem muito apetite. – Eu só estava pensando... na venda que fui mais cedo...

— Pare de enrolar.

Naná me encarou impaciente, mas eu não tinha certeza se contava para ela. As cenas de Hadassa não saíam da minha cabeça, e eu poderia até estar enganado, mas não acredito que Naná saberia informar quem era a pessoa misteriosa que tocava na outra noite. Com toda certeza essa pessoa deveria ser muito reservada. Até cheguei a pensar... Não, Hadassa tinha sido muito brincalhona na véspera, não parecia ser do tipo tímida. E além do mais, acredito que eu reconheceria sua voz.

Deixei a musicista misteriosa para lá e resolvi tratar de outro assunto.

— Sabe, Naná, você conhece uma garota chamada Hadassa? – ela me encarou com curiosidade. – De estatura mediana, pele negra, cabelo trançado?

— Por que está me perguntando sobre ela?

— Então você a conhece.

Na mosca! Naná desviou o olhar, desconfiada.

— Conheço muita gente. Eu moro aqui há sessenta anos, esqueceu?

— Tudo bem, desculpe.

— Por que o interesse?

— Nada especial, é que... encontrei com ela hoje mais cedo, no mercado. E uma hora ela me pareceu um pouco... aflita. Não sei explicar.

— Aquela garota é muito esquisita. Não deveria se impressionar.

— Hm...

— O quê? Gostou dela assim de cara?

— Não, não é isso!

— Então o que é? Você não me engana, remelento. Conte logo, avie!

Remelento... isso mesmo, era assim que Naná me chamava quando eu era criança. Fiquei imaginando como seria a expressão que Hadassa fosse fazer caso soubesse disso. Posso não ter um nome tão natural... Mas o que ela pensaria sobre meus apelidos carinhosos?

— Deixa pra lá, não tem importância.

Dei de ombros, na expectativa de mudarmos de assunto. Não havia necessidade de debater isso com Naná.

Um encontro inesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora