Prólogo

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A Concha Holmes pegava fogo e a fumaça se estendia pela campina durante uma noite calorenta.

O local estava sendo atacado por Comensais da Morte, e a emboscada se deu assim que os integrantes da Ordem da Fênix atravessaram a Rede-de-Flu. Snape delatara a localização da residência dos Holmes e os contrafeitiços para contornar as defesas, e os danos só não foram maiores porque havia aurores de prontidão.

Sherlock Holmes corria em meio à grama alta e mal conseguia distinguir as sombras pela fumaça. Acima dele, uns trinta vultos encapuzados pairavam no ar em vassouras, e alguns eram derrubados por quem estava no chão. Seus pulmões ardiam e a sensação de sufocamento aumentava a cada passo enquanto gritos diversos chegavam aos seus ouvidos. Clarões verdes relampejavam para todo lado. O rapaz parou para ver se achava seus pais, Mycroft ou qualquer outro conhecido, e foi nesse momento que ouviu a entonação atrás de si.

"Incarcerous Nerus.!"

Sentiu um forte desconforto ao redor do seu corpo e, depois, a minúscula safira de seu anel reluziu. Pensando rápido, Sherlock jogou-se no chão e rolou para o lado, o corpo encoberto pelo mato alto. Viu uma figura de capa preta correr até o local onde deveria estar o corpo. Assim que ela chegou perto, ele atacou:

Incarcerous!

Cordas envolveram o tronco e a boca do comensal, que caiu na grama seca emitindo um barulho áspero. Sherlock se levantou, se aproximou do inimigo e tomou a varinha dele. Apenas para não ficar parado, voltou a correr. Ainda não sabia se deveria ir para uma área em que pudesse aparatar ou se vasculhava pelos arredores em busca de alguém. Foi nessa hora que viu Moody se aproximando velozmente em cima de uma vassoura. Num movimento assustadoramente rápido e preciso, ele acercou o corvino com o braço e o puxou para se sentar na frente dele, levantando voo em seguida.

– Cadê os outros? – Inquiriu Sherlock.

– Preocupe-se com você, garoto! – Berrou o ex-auror, acelerando.

Dois jorros de luz verde passaram voando pela orelha esquerda de Moody: quatro Comensais da Morte vinham em sua perseguição, montados em vassouras, fazendo pontaria nas largas costas do professor. Sherlock disparou feitiços estuporantes, mas os inimigos manobraram, desviando, e dois deles emparelharam com a vassoura pela direita.

Estupefaça! – Moody azarou os dois num movimento hábil, fazendo-os caírem metros acima do chão.

Sherlock sentiu a vassoura dar um solavanco quando dois disparos flamejantes passaram pelos seus pés, só não o atingindo porque Moody havia manobrado. O corvino apontou a varinha para a vassoura de um deles:

Confringo!

O veículo explodiu de tal modo que seu seu piloto foi arremessado a dois metros antes de fazer um arco até o chão, e o Comensal que estava ao lado mudou a rota para tentar alcançar o aliado, desaparecendo por entre as nuvens e a fumaça.

– Fique alerta, garoto, ainda não acabou! – Trovejou Moody.

Brotou inesperadamente da escuridão três inimigos, todos disparando feitiços.

Impedimenta! – Sherlock entoou.

O feitiço atingiu o peito do Comensal do centro e, por um instante, o homem abriu absurdamente braços e pernas no ar, como se tivesse batido contra uma barreira invisível. Os dois companheiros das laterais se desviaram dele e continuaram a perseguição, mas um deles foi arremessado para trás e caiu da vassoura quando Moody balançou a varinha.

– Estamos quase saindo, rapaz! – Disse o professor, desviando de um lampejo de fogo que passou por cima da cabeça deles – Logo vamos poder aparatar! Aguente firme!

Ele mal terminou de falar essa frase quando seu olho bom se arregalou enquanto o olho mecânico passou a girar descontroladamente. A boca foi se abrindo num movimento frouxo, as mãos foram abandonadas ao lado do corpo, que foi pendendo para o lado até cair da vassoura ainda em movimento.

– MOODY! – O corvino gritou.

O corpo de Moody caiu na escuridão até desaparecer. De repente a cabeça de Sherlock doeu tanto que sentia como se fosse explodir. Sentiu sua própria raiva se misturar ao regozijo de trunfo de outra pessoa... Então ele o viu. Voldemort surgira em meio à névoa e estava voando bem ao seu lado. Não havia vassoura, criatura ou qualquer coisa para sustentá-lo. As vestes negras e o rosto ofídico brilhavam na escuridão e o faziam parecer um espírito agourento. Os olhos vermelhos estavam muito perto do rapaz.

A mente de Sherlock começou a processar a imagem em câmera lenta, como se lutasse para não entrar numa espécie de catatonia. Em meio ao choque viu o inimigo rir e se preparar para atacar. Sua espinha gelou e antes que tivesse qualquer tempo de reação, sua varinha se moveu sozinha e disparou um jorro de fogo dourado que colidiu com a luz verde conjurada por Voldemort, causando uma explosão de luzes que os repeliu para cantos opostos.

Quando Sherlock voltou a si, seu coração estava disparando. Manobrou a vassoura e mergulhou no céu. Não conseguiria contar com a sorte - ou seja lá o que acabara de acontecer - novamente, e se dependesse de suas habilidades com a vassoura para sobreviver, Voldemort teria motivos para festejar.

Sua varinha, Selwyn! – Ele ouviu o Lord das Trevas vociferar – Me dê sua varinha!

Sherlock sentiu Voldemort antes de vê-lo. Olhando de esguelha, ele se deparou com os olhos vermelhos e agiu rápido.

Lumus maxima!

Um clarão brilhou no mesmo momento que um disparo de fogo acertou-lhe o peito. A safira do anel reluziu, mas mesmo assim o rapaz sentiu em sua pele a dor de um ferro em brasas, e cuspiu sangue. Ainda consciente, transformou-se em corvo e se escondeu na névoa enquanto a vassoura deixava-se levar pela gravidade. Tinha certeza que a luz os impediu de verem a transformação.

O Lorde das Trevas acelerou para baixo e sumiu de vista juntamente com o comensal que emprestou a varinha à força.

A Concha Holmes já havia sido completamente tomada pelo incêndio. A oficina de seu pai, o jardim de sua mãe... tudo virara pilhas e pilhas de escombros pegando fogo. Não adiantava mais procurar sobreviventes. As chamas se alastraram pela mata.

Muito longe dali, John Watson acordava, sobressaltado, de um pesadelo. Molhado de suor, o peito doendo.

Continua

Potterlock - As Relíquias da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora