A Lenda dos Três Irmãos

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Sem a influência do medalhão, os dias que se passaram foram bem mais amenos. Perto dos Holmes, John ficava sério, focado e anormalmente respeitoso, como uma demonstração silenciosa do seu remorso. Contudo, quando estava a sós com Lestrade, não fazia questão alguma de esconder seu imenso bom humor, principalmente porque (depois que levou notícias de Molly) o lufano saíra daquela zona de melancolia e, agora, estava disposto e muito tagarela mesmo acamado e com uma ferida que demorava a se fechar.

– Então ela sempre acompanha a Sra. Hudson? – Lestrade estava na parte de baixo do beliche, sem camisa, deixando John tratar o que podia do seu ferimento com a varinha. Era uma tarefa árdua, pois chegava uma hora que os tecidos resistiam à cicatrização e a experiência ficava tão dolorosa que era melhor parar.

– É, e me disseram que ela é bem habilidosa – mesmo conversando, o grifinório mantinha-se concentrado. – O grupo que protege os trouxas dos ataques terroristas age na surdina, então ninguém está sendo imprudente.

– Foi muita sorte elas terem se encontrado.

– Molly me disse que foi sua mãe que a ajudou a fugir. Parece que você andou falando muito dela pra sra. Lestrade.

As maçãs do rosto do lufano enrubesceram.

– Aliás, ela ficou feliz quando levei notícias suas – continuou John. Sua mãe disse pra ela que você fingiu estar doente.

Dessa vez Lestrade soltou uma risadinha travessa:

– É que eu transfigurei um vampiro velho lá de casa pra parecer que eu estava com sarapintose. Pro Ministério não ir atrás da mamãe. Como a doença é contagiosa, eles não são muito detalh... ai! Aaai!

John parou de apontar a varinha para o ferimento. A dor sempre vinha de forma muito repentina.

– Tudo bem. Amanhã continuamos – disse o grifinório. – Pelo menos está ficando bem melhor.

Lestrade se aconchegou nos travesseiros, fraco, deixando o amigo pingar um pouco de ditamno e trocar o curativo.

– Há males que vem pra bem – soprou o lufano. – É bom ter notícias de fora.

– Seria melhor se eu conseguisse ouvir o Observatório de Sherlock mais uma vez.

– Que?

– É uma estação de rádio paralela a RRB. Clandestina. Só que tem que trocar o sinal aleatoriamente e usar uma senha pra sintonizá-la. No final do programa eles sempre avisam qual será a próxima senha, mas eu saí de casa antes da transmissão acabar. A sra. Hudson era boa em adivinhá-las quando não podíamos assistir à transmissão até o fim. Normalmente é algo relacionado à Ordem da Fênix.

– Seria muito bom se conseguíssemos sintonizar.

– Eu trouxe um rádio. Toda vez eu vou lá pra fora tentar ouvir a estação, mas é bem difícil.

– Traga pra cá, acho que os Holmes não vão se importar.

– Não sei. Provavelmente Sherlock vai querer adivinhar a senha, mas não estou afim de testar a paciência do Mycroft – ele riu ao falar.

John terminou o curativo no mesmo momento que Sherlock entrou no quarto. A mera presença do corvino fez o comportamento do Watson mudar, como se tivesse acabado de perceber que estava num velório e precisava prestar respeito com os enlutados.

– Você acabou de cuidar dele? – perguntou Sherlock para o grifinório.

– Já sim – John se pôs de pé. – Vou deixar vocês conversando.

Potterlock - As Relíquias da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora