Prolongo

9.9K 638 185
                                    

Harry, esse era o seu nome. Bom, era o nome que todos diziam ser o dele, e sinceramente? O pequeno garoto não tinha certeza.

Foi abandonado na porta de um orfanato cristão quando tinha um ano de idade, durante uma nevasca, a coisa mais cruel que todos ali presenciaram. A única coisa que veio com Harry foi uma carta com seu nome e a data de seu nascimento.

O garoto de pele pálida como a neve passou a viver no orfanato, uma criança estranha aos olhos dos mais velhos. Sempre enfiado em seus livros ou brincando sozinho no jardim, não gostava muito de falar e sempre agia com indiferença, mas sempre respeitoso com os mais velhos. A mulher idosa que trabalhava na casa viu a semelhança do garoto com um antigo órfão que havia morado ali anos antes.

Não demorou muito para que as crianças mais velhas começassem a "brincar" com Harry, tentando a paciência do pequeno garoto de sete anos até o limite. Em um acesso de fúria por ter seus únicos brinquedos quebrados, o grito do garoto destruiu as janelas e copos do orfanato, e as outras crianças mais velhas foram afastadas dele por uma força sobrenatural, mas sem se machucarem de verdade.

Foi quando a mulher idosa soltou seu pequeno copo, apontando para o garoto com os olhos tremendo de pavor enquanto gritava algo como "peste", Harry odiava quando diziam aquela palavra de verdade.

Foi naquele dia que Harry juntou suas coisas e fugiu pela Londres fria, torcendo para que sua saúde não o traísse naquele momento, já que ela não era das melhores.

Sempre soube o que poderia fazer, ele sempre conseguiu manter sua "anomalia" no controle, já que leu nos livros do orfanato que aquilo só poderia indicar algo que Deus repugnaria. Mas aquelas crianças o levaram ao limite e ele não aguentou, tendo seu primeiro descontrole de magia.

Agora ali estava ele, tentando esquentar suas mãos enquanto se abaixava em um beco tremendo pelo frio e se cobria com o fino cobertor. Ali não era seguro, mas se ele andasse por mais tempo, a polícia poderia achá-lo ou ele iria congelar de frio.

Controlando um pouco de sua magia na pequena fogueira improvisada, ele sorriu ao ver os pequenos galhos pegarem fogo. Estava quase dormindo quando ouviu passos correndo para o beco e se encolheu, ficando em alerta. Ele viu os três adolescentes se esconderem na parte escura do beco, e Harry foi inteligente ao apagar o fogo, vendo uma viatura da polícia passar por eles. Depois de um tempo, os adolescentes se jogaram no chão de forma desleixada antes de começarem a rir.

Suas risadas pararam quando a garota do grupo notou o pequeno corpo trêmulo no beco e começou a se aproximar lentamente. Harry levantou o olhar vendo as roupas rasgadas da garota e sua pele levemente suja. Ele sabia que ela não tinha uma casa.

O pequeno garoto a observou quando ela se abaixou à sua frente, também o observando. Seus olhos verdes ficaram em alerta quando a menina mexeu no bolso da blusa de frio e puxou uma pequena barra de chocolate, que fez os olhos de Harry brilharem enquanto via a garota estender o chocolate para si.

— Obrigado... — murmurou o mais novo, sem notar o sorriso triste da adolescente à sua frente.

— O que faz aqui, garoto? — perguntou, e Harry a olhou e se encolheu ao ver os outros dois adolescentes atrás de si. Mesmo que eles mais se parecessem com aqueles que mexiam com Harry no orfanato, eles ainda não haviam conquistado a confiança dele como a menina.

Era como a Raposa de "O Pequeno Príncipe" dizia: "Para mim, você é apenas um menininho e eu não tenho necessidade de você. E você, por sua vez, não tem nenhuma necessidade de mim. Para você, eu não sou nada mais do que uma raposa, mas se você me cativar, então nós precisaremos um do outro."

A única forma que Harry sabia agir com pessoas era se lembrando de frases de seu livro e seus significados; aquilo o acalmava quando estava nervoso.

— Fugi do orfanato. Eles acham que eu sou um... um demônio. — a pequena criança observou os adolescentes, seus olhos verdes encarando os rostos confusos do trio. Respirando fundo, ele olhou os gravetos na sua frente e estalou os dedos, vendo eles começarem a pegar fogo lentamente. — Não há outra explicação.

O Menino que MorreuOnde histórias criam vida. Descubra agora