Letras & Sons

O céu desce à terra

Era noite quando Namjoon decidiu que era o momento ideal para seguir os conselhos de Jungkook e resolveu que iria andar por aí, em busca de alguma badalação onde pudesse ver gente desconhecida, escutar músicas que nunca tinha ouvido antes e encharcar os neurônios com alguns bons goles de cerveja sob a luz da lua. Era um verão quente, lhe faria bem ser refrescado por bebida gelada e a brisa que carregava a maresia. Ademais, seria de muito bom tom deixar o casal a sós ao menos de noite, para que eles pudessem se curtir melhor sem a preocupação de estarem ou não sendo incômodos para o hóspede.

Sendo ainda um tanto rebelde e deixando caderneta e violão de lado, Namjoon saiu, noite adentro. Deixou um bilhete sobre a mesa informando aos amigos que tinha ido dar uma volta, levando consigo apenas um pouco de dinheiro no bolso de uma jaqueta jeans bem cortada, mas com alguns rasgos que, a olhos desatentos, pareceriam estilosos em vez de causados pela ação do tempo. Já do lado de fora, passou as mãos nos cabelos melados de gel, os recolocando para cima, num topete desajeitado que fizera de última hora, enquanto dava a última checada na sua imagem no espelho do banheiro. Sem rumo, se deixou caminhar pelas calçadas, não pensando em nada, apenas seguindo o momento. Foi assim que acabou chegando numa espécie de bar, que lhe pareceu convidativo o bastante para que tivesse interesse em entrar. Resoluto, adentrou no estabelecimento e deu uma olhada mais de perto. Não era nada demais: algumas mesas com cadeiras de ferro, poucos garçons indo de um lado para outros com pratos de petiscos e bebidas sobre bandejas, um balcão comprido de madeira num dos lados e um pequeno palco com karaokê do outro. No fundo, perto da porta do que seria a cozinha, havia também um jukebox, provavelmente quebrado, posto que ninguém demonstrava interesse nele.

Dando de ombros, Namjoon caminhou mais para dentro e procurou uma mesa, o que não foi muito difícil devido ao fato de que o lugar não estava de fato lotado. Sentou-se à que considerava mais escondida, próxima ao banheiro, e continuou varrendo o local com a vista, em busca de algo que nem mesmo ele tinha noção do que seria. Sua procura pelo indefinido, contudo, foi logo interrompida por um garçom de sorriso amplo, que se pôs de pé ao lado com um bloco de papel e uma caneta numa mão, e uma espécie de cardápio na outra.

— Bem vindo, senhor. — O jovem falou com animação e cordialidade, lhe estendendo o cardápio. — Gostaria de fazer um pedido?

O músico o olhou por alguns segundos, numa esperança quase inconsciente de ser subitamente reconhecido, o que, para sua insatisfação, não aconteceu. Não que esperasse, de fato, ser reconhecido, porém, seu ego teria gostado disso. Era difícil ser lembrado depois de ter estourado com um álbum irreverente há dez anos atrás, e depois ter começado a decair nos dois que se seguiram a ele, ao ponto de a gravadora o colocar em hiatus por um "período sabático" — e se não fosse pela insistência de Jungkook ante os CEOs da empresa, ainda estaria no tal período.

Aquela era sua última chance, e a estava desperdiçando por ser um completo incompetente. No que tinha se tornado ao longo dos anos? Onde estava aquele jovem roqueiro sonhador que desejava levar uma mensagem de protesto e não resignação aos jovens de sua idade através dos acordes de sua guitarra? Para sua tristeza, não sabia onde aquele garoto que o levara ao estrelato agora estava.

— Sim, por favor.

Namjoon deu um sorriso delicado para o rapaz, abrindo o cardápio em más condições e verificando o que tinham de bom ali. Sem muitas opções, escolheu uma porção de camarões e peixe refogados, um tanto de kimchi e uma boa cerveja para acompanhar. Com uma reverência, o garçom saiu de perto do homem afirmando que a solicitação não demoraria a ser atendida, e Namjoon o agradeceu com uma reverência idêntica. Durante a espera seguiu observando os arredores, tamborilando devagar sobre a mesa, dividindo sua atenção entre os presentes, o ambiente e o som de seus dedos, como se deles uma nova melodia pudesse surgir do nada. Não acreditava realmente nisso; apenas torcia pelo acontecimento de um milagre.