Gatinhos entre as nuvens

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Namjoon não sabia o que tinha acontecido, mas desde que conheceu Seokjin naquele bar passou a se sentir instigado, de alguma forma. Não era como se pudesse de repente compor de novo, ainda estava longe disso, porém já se sentia mais à vontade para dedilhar seu violão e arrancar de seu companheiro algumas melodias aleatórias, sem compromisso, que captava num gravador sempre que se lembrava. Apesar de não serem grande coisa, já tinha feito tantas que fora necessário trocar a fita do aparelho uma vez, e estava prestes a precisar fazê-lo novamente.

Era nisso que estava concentrado naquela manhã. O sol mal tinha nascido e Namjoon já estava do lado de fora, sentado na varanda da casa de veraneio na qual os amigos e ele se hospedaram, fazendo exatamente isso: arrancando melodias sem pensar muito das cordas de seu violão, tentando preencher o pouco espaço restante do lado B da fita cassete. Quando o aparelho disparou a tecla indicando que a fita estava cheia, escutou atrás de si um aplauso acompanhado de um assobio exagerado.

— Há quanto tempo está aí? — Perguntou com um sorriso, sem se virar, colocando o violão de lado.

— Tempo suficiente pra ficar admirado. — Jungkook caminhou até onde o mais novo estava, se sentando ao seu lado. — Finalmente destravou, hein?

— Não sei, talvez um pouco. Ainda não consigo fazer mais do que isso que você ouviu agora. Não consigo desenvolver essas melodias, só consigo ter esse vislumbre do que elas podem vir a ser.

— Já é algo, Namjoon. É muito mais do que vinha acontecendo nos últimos tempos. — Estendeu uma caneca de café para o maior. — Quer?

— Não, hyung, obrigado. Eu tomo café depois.

— Ok. — Deu uma golada no líquido fumegante, soltando um suspiro de satisfação. — No dia que eu morrer nunca mais você ou Yoongi vão poder tomar um café tão bom quanto esse. Vai ser uma perda terrível pra humanidade.

— Uma agradável conversa matinal — riu, ganhando um sorriso em meio a um novo gole de café do amigo. — Yoongi ainda tá dormindo?

— Deixei ele dormindo, mas talvez já tenha acordado. Não é de dormir tanto. — Admirou a paisagem, composta de algumas casinhas parecidas com a que ocupavam, e a visão da praia mais adiante, no horizonte. — Quando vai me deixar escutar o que está fazendo?

— Quer escutar o que tenho aqui agora?

— Por favor.

Namjoon assentiu, pegando o gravador e o colocando no colo. Abriu o compartimento e virou a fita, retornando para o lado A da mídia, encaixou na região apropriada e apertou o botão de iniciar a reprodução. Pôs o aparelho entre eles, e passou a encarar o horizonte tal qual Jungkook fazia enquanto as gravações soavam pelo ar. Ficaram em absoluto silêncio ao escutar as notas, cada um tomado pelos próprios pensamentos: Jungkook tentando compreender os possíveis estilos de música que poderiam surgir daqueles "embriões", e Namjoon se recordando de uma risada única, de um canto desajeitado, de cabelos tingidos de rosa e de uma conversa gostosa.

— São riffs suaves, maleáveis. Dá pra ir em vários caminhos com eles. — Jungkook falou quando a gravação findou.

— Suponho que dê. Espero que dê, na verdade.

— Acho que o clima praiano enfim te pegou de jeito. Seus sons são suaves como uma tarde de leituras na beira do mar.

— Pode-se dizer que sim, de certa forma.

— Hum... — Bebeu mais café, se virando para o amigo. — Algum cara envolvido?

— Talvez. — Sorriu, mantendo o olhar à frente.

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