Epílogo: entre o céu e a terra, estrelas

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_ Alguns anos depois _

O show tinha sido incrível. Estava lotado, cheio de fãs mais antigos e também novos, todos empolgados com seus riffs, suas letras, sua voz suave e rouca, sua presença de palco... Era lindo. Nenhum artista verdadeiro conseguia viver sem essa paixão, e Namjoon tinha passado tanto tempo sem esse calor que lhe custava acreditar o quanto tinha tido boa sorte desde que reconquistara o público. Aproveitava cada segundo como se fosse o último, e se tinha um momento em que podia dizer que era plenamente feliz, esse momento era quando subia no palco e dava vazão à sua essência mais pura.

— O show foi maravilhoso! Você foi maravilhoso! — Jungkook o recebeu do lado do palco, logo após a despedida do público. — Que energia foda, cara!

— É, não é? — Sorriu, abraçando o amigo e produtor. — É como os primeiros anos de novo!

— Não, Namjoon, é melhor do que os primeiros anos. — Soltou-se do abraço, encarando o mais novo. — Cada era é diferente e tem seu valor, mas você está no agora. Os primeiros anos foram os maiores em sua época. O maior dos maiores é agora.

— Sempre com filosofias! — A banda veio entrando com seus instrumentos, e Namjoon iniciou uma série de reverências. — Obrigado! Vocês trabalharam duro!

Os músicos respondiam do mesmo jeito, sorrindo, e ver seus instrumentistas tão felizes quanto ele enchia seu coração. Era para isso que um artista trabalhava; era para isso que um artista vivia.

O camarim ficou pequeno para tanta gente, mas ninguém ali parecia se importar. Os músicos, Namjoon, Jungkook e Yoongi se espremiam em meio a araras de roupas e pares de sapatos, se congratulando e brindando com garrafas de soju. Havia alguns anos que era assim em todo fim de show, já tinha um bom tempo que só tinham o que comemorar. Tinham toda a razão do mundo para estarem felizes.

A carreira meteórica de Namjoon, depois de encarar o fundo do poço, tinha superado a crise e voltara a ocupar um espaço de destaque. Depois da ameaça de perder seu contrato Namjoon tinha se reerguido de maneira fenomenal, fazendo com que sua trajetória virasse, inclusive, objeto de estudo entre acadêmicos das mais variadas áreas. Era impressionante o quanto ele tinha sido capaz de se refazer e reerguer, ninguém cansava de o parabenizar por isso, e ele não se cansava de escutar os parabéns e os elogios. Tudo estava em seu devido lugar, e Namjoon devia cada instante de retomada àquela viagem para a praia, naquele verão.

E a Seokjin. Sem ele, nada disso teria acontecido.

Todos sabiam de uma forma enigmática ou não que Letras e Sons, seu álbum de virada, tinha sido feito tendo uma pessoa especial como inspiração. Muito se especulava acerca de quem seria a pessoa para a qual tantos acordes e versos apaixonados eram destinados. "Quem é a grande sortuda?", jornalistas, críticos e entrevistadores sempre perguntavam. Namjoon se limitava a sorrir de canto, criando um ar de mistério, saindo pela tangente com falsa timidez e reserva, fomentando e atiçando a curiosidade do público em geral. Infelizmente, no mundo em que vivia, a verdade não podia vir à tona, mas no fim, era uma situação positiva. Sua verdade seria para sempre sua, e cada segundo vivido naquele verão seria uma memória ensolarada que usaria para se alegrar quando se sentisse para baixo. Seokjin sempre seria sua "musa inspiradora", e estava tudo bem que somente ele soubesse do fato. Desde que jamais esquecesse e mantivesse as lembranças boas consigo, estaria tudo bem.

Findada a comemoração as pessoas foram se dispersando, até que restassem apenas Namjoon, Jungkook e Yoongi. Arrumaram o local o máximo que conseguiram para diminuir o trabalho dos funcionários do clube, se despediram dos que não conheciam e foram embora dali num carro alugado pelo contratante rumo ao hotel. Lá chegando cada um foi para o seu quarto, e Namjoon pôde, enfim, absorver mais aquele show de sucesso e tudo o que tinha acontecido nele. Tomou um banho, solicitou um jantar e uma boa garrafa de vinho, pediu para que a refeição fosse disposta na mesa da bancada externa e começou a comer, olhando para o horizonte, como se esperasse que alguém surgisse do céu para lhe fazer companhia. E, de fato, esperava, mas sabia que seu alguém especial não iria surgir, nunca mais.

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