Enquanto tiver que ser

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Os dias nunca eram longos o bastante quando alguém estava tendo a chance de os passar ao lado daquele pelo qual estava apaixonado. As horas pareciam correr, os minutos se transformavam em segundos e quando a lua sumia, era como se estivesse tomando do enamorado o que tinha de mais precioso: os instantes vividos com a pessoa amada. Seokjin, mesmo sendo como uma espécie de dono do tempo, não era diferente de um simples humano quando se tratava dos sentimentos. Todas as noites ou amanheceres em que precisava se despedir de Namjoon era como enfrentar o pior dia de sua longa existência. Perto dele não queria ir embora, e longe dele só pensava em voltar. Seus sentimentos eram viciantes e intensos, o deixavam fora de eixo, mas em tantas eras de vida, aquela era a primeira vez em que se sentia feliz.

As voltas para o Mouseion eram doloridas, e cada vez mais Seokjin se demorava menos para regressar à terra. Não queria perder nenhum instante, e descansar apropriadamente lhe tiraria por dias de perto de Namjoon. Quando voltava evitava conversar com Jimin e Hoseok, especialmente com esta última, que sempre tentava lhe alertar sobre como estava se deixando perder por conta de uma mísera paixão. Não queria ouvir nada disso, não queria saber de tomar cuidado nem de ter bom senso. Queria viver aquilo até não aguentar mais, até que não houvesse para onde correr. Somente então se daria por satisfeito, e não queria escutar nada que o dissuadisse. Um único comentário permeado de razão, e sabia que iria acabar colocando dúvidas em seu coração. O momento não era de duvidar; era hora de vivenciar.

Para Namjoon não era muito diferente. Respeitando-se o fato de que jamais viveria tanto quanto Seokjin e que não tinha sequer um décimo de sua experiência — muito embora não soubesse disso —, para o músico estar ao lado daquele homem misterioso era como pisar no Paraíso. Sua mente se abria de tal maneira que era impossível não viver cantarolando e criando novas canções, e seu peito se enchia de uma felicidade relativamente inédita a cada hora passada com aquele sujeito de cabelos rosados. Tinha se apaixonado outras vezes, mas nada era como o que vivia quando podia estar ao lado de Seokjin. Já não tinha ânimo para se dedicar aos amigos, e mesmo que no fundo se sentisse um tanto culpado por isso, bastava ter Seokjin de volta que a culpa se dissolvia e tudo ficava bem.

Estavam perdidos um no outro, de maneira tal que nenhum dos dois, no limite ou na eternidade de seus conhecimentos, conseguia mensurar. Era quente, novo e perigoso, mas nenhuma das características ruins eram capazes de os fazer recuar. Queriam aquilo que tinham, e teriam aquilo ainda que fosse preciso correr até onde acabava o mundo. Sentiam-se felizes juntos, e não abririam mão disso.

Dois dias de separação tinham feito com que os apaixonados se desesperassem; Namjoon, em seu quarto na casa de praia, mal conseguia dormir de tanto pensar no tanto que Seokjin demoraria para voltar, colocando suas dúvidas e anseios em notas musicais e em versos soltos, gravando cada um deles, sentindo a mente cheia e o coração contrito. Seokjin sentia a urgência de regressar, de estar com aquele que, ao mesmo tempo que o preenchia o consumia, e mal podia esperar para despertar e sair correndo de volta para Namjoon. E quando finalmente puderam estar juntos de novo foi como uma explosão, um choque de forças que fazia estremecer tudo ao redor. Namjoon se via cada vez mais dependente e Seokjin, cada vez mais fraco, mas e daí? Desde que estivessem juntos, sentir-se assim era mero detalhe.

— É cada vez mais difícil quando você vai. — Namjoon sussurrou ao pé do ouvido de Seokjin, enquanto dançavam ao som do jukebox uma música melodiosa de Duran Duran. — Por que precisa ir tanto?

— Eu tenho coisas que precisam ser resolvidas diretamente por mim — respondeu baixo, bem seguro nos ombros de Namjoon. Sentia-se cansado, como sempre nos últimos dias. Tirara menos tempo ainda para si daquela vez. — Se serve de consolo, eu não deixei de pensar um minuto que fosse em você. Resolvi até mais rápido as coisas por lá pra poder voltar logo.

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