Aquilo que sempre quis

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Era impressionante o quanto o universo poderia surpreender alguém. Era possível ter vivido muito e ainda não ter experimentado tudo. Havia sempre algo a ser aprendido, algo novo a ser observado, uma sensação inédita a ser vivenciada. Acontecia o tempo todo com as pessoas, seres com tempo de vida tão limitado que acabavam virando pó antes de terem mais oportunidades. E acontecia também com criaturas mais evoluídas, constituídas de outras matérias, para as quais o relógio marcava as horas de um jeito diferenciado. Como as musas, por exemplo. Especificamente, como Seokjin.

Não era segredo entre os seus que Seokjin tinha uma ânsia fora do padrão de uma musa. Não se conformava com a mera atribuição de inspirar, queria mais do que aquilo. Se lhe perguntassem, sequer Seokjin saberia dizer ao certo o que buscava. Seria o frisson do desafio ao tentar inspirar pessoas menos ilustres que no fim não fariam a menor diferença na História? Seria o prazer de ser contrário às normas implícitas em relação à sua natureza de musa? Seria poder se gabar de não ser como as demais, de ter desejos e pensamentos próprios que o destacavam naquela sociedade narcisista e egocêntrica?

Por certo havia uma mistura de tudo isso, mas havia mais, muito mais. Havia algo ali dentro de seu ser que pretendia ir além, uma espécie de curiosidade, de fome e sede insaciáveis, qualquer coisa do tipo que a musa era incapaz de nomear. E foi somente quando se deixou levar por Namjoon que Seokjin entendeu o que era. Seokjin não queria apenas inspirar; queria, igualmente, viver a chance de um dia ser inspirado. Era isso que aquela experiência com Namjoon vinha lhe proporcionando, a chance de uma musa inverter papéis e se deixar inspirar. Mas isso vinha a um custo que Seokjin não tinha calculado.

Alguns dias se passaram desde o primeiro beijo que tinham trocado, e desde então os beijos não haviam parado. Viam-se sempre, e em todas as vezes acabavam trocando carinhos que deixavam Seokjin a cada instante um tanto mais fraco e cansado. Se continuasse assim não teria mais energia para tomar sua forma física, talvez perdesse muito mais que essa capacidade. Era preciso dar um basta, ao menos por enquanto, se quisesse continuar naquela espécie de jogo, e foi por esse motivo que, numa noite de encontro na beira da praia, Seokjin informou a Namjoon que precisaria se ausentar por um tempo.

— Quanto tempo? — Namjoon perguntou quando os dois estavam deitados na areia da praia deserta, sendo lambidos pelas ondas suaves, depois de mais uma sessão de beijos e abraços.

— Pouco.

— Promete que volta.

— É claro que eu volto.

— Promete.

— Eu prometo.

Aquela breve despedida tinha sido mais dolorida do que Seokjin imaginara, mas entendia que era absolutamente necessária. Quando o sol voltou trazendo a manhã do dia seguinte, Seokjin deu mais um beijo em Namjoon, parando somente quando sentiu uma fraqueza imensa lhe consumir. Após, subiu para seu lar e lá se acomodou, tomado por um sono tão profundo que sequer se sentiu adormecer. Quando acordou, possivelmente uma eternidade depois, ainda não se sentia cem por cento refeito, mas estava em condições melhores. Seu primeiro pensamento foi cogitar se tinha se passado tempo demais lá embaixo, se Namjoon estaria triste ou chateado por ainda não ter regressado para ele. Só então despertou de vez, fazendo suas luzes se acenderem. Foi aí que notou que não estava a sós.

— Tem sido uma maratona, não? — Hoseok se manifestou de forma serena, sentado ao seu lado. — Inspirar aquele humano?

— Você tem acompanhado? — Seokjin tentou se mover, mas não conseguiu. Atribuiu à falta de energia.

— Um pouco. Jimin e eu ficamos curiosos para ver por que você estava se demorando tanto lá embaixo.

— Hum. — Tentou mais uma vez se sentir, e com um tanto de custo conseguiu. — Tem sido um bom entretenimento?

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