Dor.
É o que estou sentindo.
No corpo todo, no coração...
Nas pernas que eu espanquei por conta própria.
Na cabeça, por estar chorando rios há horas.
Venho chorado rios há dias. Meses, se for pra ser sincero.
Eu fui até a mesa da minha família, logo depois de discutir com ele. E feito um bebê, tudo que pude dizer, ao abraçar minha mãe foi: me leva pra casa, mamãe?
Ela, é claro, me perguntou o por quê. Eu disse que estava cansado, muito cansado. Com tontura, por estar me privando de comer desde ontem pra ficar bonito no terno. E com dor, muita dor no peito. Eu fui diagnosticado com ansiedade na infância, então pelo menos nisso ela acredita. Além do que, ela já não estava muito a fim de ter vindo, então arrumar uma desculpa pro meu pai nos levar pra casa era o que ela mais queria.
E fomos. A festa já estava acabando de qualquer forma. Não vi o Harry em nenhum momento até o nosso carro. Não sei o que pensar sobre isso.
Eu acreditei que minha mãe me confortaria, mas era pura ilusão. Só me disse um "tenta ficar bem", e é isso. Mas é até bom, eu posso chorar e não preciso dar desculpas a ninguém.
O caminho todo eu chorei. Em silêncio, prendendo a respiração pra ninguém ouvir, olhando em direção da janela, pra minha irmã não ver. Segurar o choro foi muito difícil. Eu sentia que transbordaria por dentro, e só queria ele pra me confortar. Aí, lembrava que eu chorava por causa dele. E chorava mais ainda. Lembrava também, que se eu estivesse chorando e ele visse, ele diria que sou fraco por isso. Me mandaria crescer.
Mas mesmo assim eu sentia que precisava mandar mensagem pra ele. Como se só ele tivesse alguma resposta, e ouvir um "cresça" que me magoaria, seria melhor que estar na presença do silêncio do meu próprio ser, remoendo tudo que aconteceu, desde o início.
Era tão óbvio que isso ia acontecer, não era?
No final seria apenas eu. Eu, sendo o outro. O preterido, o que choraria por nós dois. Que foi usado, mais uma vez. Uma experiência, uma aventura, o que queira chamar. Os rastros do que aconteceu seriam um fardo apenas para eu carregar. Não houve crescimento. Não houve evolução.
E o pior é que ele me alertou, desde o começo. Deixou claro suas intenções. Mas cada vez que ele me chamou de "seu" foram suficientes para eu acreditar, e me agarrar a isso para ter motivação para... viver. Gostar se viver, melhor dizendo.
Já me sinto um fardo em casa. Me sinto inútil. Não trabalho, só estudo (mais ou menos), e não sou excepcional em nada. Até para seguir meu sonho precisei de ajuda. Sou fraco, e nem meu instinto que deveria ser natural funciona direito. E eu, realmente, tive coragem de acreditar que um homem como ele iria me querer? Como eu pude não me enxergar?
Bom... Talvez ele não me quisesse do seu lado em um casamento, mas me quisesse do seu lado na sua cama. Talvez ele até gostasse de mim. Talvez ele não quisesse me assumir, mas me quisesse. Talvez não quisesse segurar minha mão, mas quisesse me- Enfim. De alguma forma acho que ele me quis. E eu simplesmente só via nele essa pessoa que eu poderia confiar, como se apenas ele ocupasse corretamente todos os cargos da minha vida. Mas, eu sabia que dessa vez eu estava sozinho. Eu, por mim mesmo. E por isso eu me sentia isso inútil. E doía, nossa, como doía.
Chegamos em casa, e eu subi correndo pro meu quarto.
Me joguei na cama, enfiando a cabeça no travesseiro, e chorei, chorei, chorei. E gritei, abafando o som doído no lençol.
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Flawless - L.S
Fanfiction"Você é um boneco, você é impecável... Mas eu mal posso esperar para o amor nos destruir". Louis é um Ômega de dezoito anos, vivendo suas primeiras experiências de vida... com um Alfa de trinta anos.