Quatorze. Dias.
Fui sequestrada há quatorze fuckings dias.
E as perguntas que não param de rondar a minha mente são: o que diabos eu ainda faço viva? Por que caralhos eu não estou tendo a minha paz que deveria? Como alguém que deveria ter morrido em três dias, conseguiu chegar até aqui?
Eu só queria morrer. É só isso. Eu sei que não é pedir demais. Pessoas morrem o tempo inteiro!
- Não toque nisso. - Um tapa estalado acerta minha mão, me impedindo de tocar no pequeno canivete em cima da mesa.
Maldito sequestrador brilhante dos infernos. Esse homem tem meu ódio absoluto.
- Eu toco no que eu quiser! - Grito. Aparentando já estar acostumado com o meu mau humor que começou há alguns dias, o Carrancudo não faz nada mais que me encarar com tédio.
- Quer ficar sem seus dedos? - Ele arqueia perfeitamente as sobrancelhas. Eu faço uma cara emburrada e cruzo os braços - Foi o que eu pensei.
Reviro os olhos e dou as costas para o homem, começando a dar voltas pela mesa redonda em que ele está fazendo o de sempre: limpando suas facas. Ridículo. Todos os dias limpando essas merdas. Estão limpas! Qual a necessidade de fazer a mesma coisa todos os dias? Idiota perfeccionista e exibido dos infernos. Já sei que ele não se corta nunca, não precisa ficar me provando nada.
Descobri que aqui tem um banheiro. É absurdamente limpo, fica atrás de mim, acho que ainda não tinha o visto porque, bem, eu estava amarrada. Não tem nada dele além de um vaso sanitário e um lavatório, é minúsculo, literalmente só cabe uma pessoa, mas ao menos eu posso usá-lo.
Estou com fome, com sede, com sono, morrendo de vontade de tomar um banho e escovar os dentes.
Falando em escovar os dentes, fiz uma coisa muito engraçada no meu nono dia aqui. O Carrancudo trouxe enxaguante bucal depois de eu ficar repetindo "quero enxaguante bucal" por um tempo que eu não me dei o trabalho de contar, mas que aparentemente o cansou.
Só que, claro que ele não iria me trazer um luxo desses, sendo assim, me trouxe um enxaguante de péssima qualidade com um gosto terrível que me deixou com uma sensação horrorosa na boca. Como vingança, eu cuspi o líquido na cara dele e dei risada. Ele ficou tão puto. Foi muito divertido. O homem precisou sair do galpão depois de me amarrar de novo porque disse que se continuasse ali ele me mataria enfiando o frasco pela minha goela até que eu sufocasse.
Volto a dizer, foi tão divertido. O ruim foi que eu fiquei sem comer por mais um dia, mas tudo bem, valeu a pena.
Ele também não jogou o enxaguante fora, mas pelo amor de Deus, só isso não basta. Me sinto suja em absolutamente todos os sentidos possíveis, eu só queria um banho de uma hora no mínimo, escovar os dentes por dez minutos até essa sensação terrível e esse mau humor sair de mim e descer pelo ralo.
Pretendo irritá-lo até que me leve para qualquer lugar onde eu possa fazer isso, mas até o momento não consegui. Ele se irrita, me prende de novo e sai batendo a porta. Preciso de um novo plano, ficar andando em volta da mesa me faz pensar, as vezes penso nos meus amigos, outras na minha morte que não aconteceu, quando começo a pensar demais eu paro, porque minha mente viaja até esse homem maldito falando naquela língua estranha e absurdamente atraente.
- Será que dá pra você parar de ficar rodando essa mesa como se fosse a porra de uma barata tonta, caralho? - Sua voz é rude.
Dou de ombros fingindo que não ouvi e continuo a andar.
- Cuthbert eu mandei você parar. - Volta a dizer, mas não dou importância - Cuthbert! - Um grito acompanhado de um soco na mesa.
Nem tremo. Assim que passo por trás dele de novo, não consigo nem raciocinar direito. Ele é rápido demais. Tão rápido que quando me dou conta, estou com quase deitada sobre a mesa com a minha cara sendo apertada contra ela.
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Dirty Love • AU shirbert • EM ANDAMENTO
RomanceAquela em que Gilbert Blythe, um sádico sequestrador e assassino a sangue frio, captura Anne Cuthbert, enquanto a ruiva entrava em seu próprio carro. A última coisa que ele esperava era que sua nova vítima fosse uma mulher obcecada pela morte e que...