(Dia seguinte, 11:15 da manhã.)
- Eu estou com fome e com sede. - Relato para o Carrancudo, que parece estar entretido demais com suas facas para me dar atenção - Alô? Eu estou com fome e com sede!
- Até onde o meu conhecimento sobre mim mesmo vai, eu sei que não sou surdo. - Ele responde antipático.
Esse idiota além de ter me sequestrado e ainda não ter me matado, achou muito sensato me deixar para morrer desidratada e faminta. Que tipo de sequestrador ele é? Por acaso nunca leu um livro ou viu um filme? Os maníacos sempre dão comida e água as suas vítimas! E foda-se se ele não parece um maníaco, é exatamente por esse motivo de não parecer que nós nunca sabemos quem eles são.
- Não disse em nenhum momento que você é surdo, eu disse que eu estou com fome e com sede. - Eu rebato no mesmo tom - Vai me matar desse jeito ou o que?
- Se te matar de fome e de sede for calar essa sua matraca que não para um minuto, talvez eu deva considerar fazer isso.
- Mas demoraria muito.
- Não te perguntei porra nenhuma.
- Como você é grosso. - Brigo com ele, fingindo estar ofendida.
- E grande também, mas isso você não pode ter o prazer de constatar.
- Ridículo! - Xingo alto para que ele ouça bem. O homem se vira para mim com uma de suas modeladas sobrancelhas perfeitamente arqueada.
- Me xingue de novo e eu não trago um copo de água sequer para você. - Ele ameaça, e essa é a única coisa que me faz calar a boca.
Durante um minuto, é claro.
- Fome! Sede!
- Deuses, como é insuportável! Eu já entendi que você está com sede e com fome, eu só não me importo. - O carrancudo cospe as palavras.
Faço um biquinho chateado e mexo os dedos dos meus pés por dentro do tênis branco que eu uso. Está quente demais dentro dele, meus pés estão suando.
- Pode tirar meus sapatos? Está muito quente, vou ficar com chulé. - Peço, como se não fosse nada. Mas não é, ele só estaria me fazendo um favor.
O moreno larga de vez as facas que limpava, e vira-se completamente para mim. Ele está sentado numa cadeira a quase três metros longe de onde eu estou, suas facas e produtos de limpeza estão em cima de uma mesa branca e redonda, sua cadeira é giratória, também branca. Ele me encara incrédulo, como se eu tivesse proferido um absurdo.
- Como é que é? - Sua voz é baixa, controlada, mas sem dúvidas contém uma descrença escancarada.
- Pedi para você tirar meus sapatos.
- Será que... - Ele passa os dedos pela testa, parece irritado - Será que você já entendeu o que está acontecendo aqui?
- Aqui? - Me refiro a toda a situação. Ele assente - Bem, você me sequestrou, e pretende me matar. É isso, sim?
- É. - O homem concorda, assentindo com a cabeça, como se estivesse me induzindo a concluir algo.
Junto as sobrancelhas. Ele é doido? Que cara mais confuso.
- Certo, aparentemente eu entendi. Eu quero saber o que isso tem haver com o fato de meus pés estarem suando e eu ter pedido para você tirar meus tênis.
O Carrancudo respira fundo, olha para mim, e aparenta entrar num dilema entre me dar uma facada ou simplesmente gritar comigo. Bem, a primeira opção me parece mais benéfica, mas não acho que ele vá fazê-la.
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Dirty Love • AU shirbert • EM ANDAMENTO
RomansaAquela em que Gilbert Blythe, um sádico sequestrador e assassino a sangue frio, captura Anne Cuthbert, enquanto a ruiva entrava em seu próprio carro. A última coisa que ele esperava era que sua nova vítima fosse uma mulher obcecada pela morte e que...