04 • Loucura - ANNE

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(Dia seguinte, 11:15 da manhã.)

- Eu estou com fome e com sede. - Relato para o Carrancudo, que parece estar entretido demais com suas facas para me dar atenção - Alô? Eu estou com fome e com sede!

- Até onde o meu conhecimento sobre mim mesmo vai, eu sei que não sou surdo. - Ele responde antipático.

Esse idiota além de ter me sequestrado e ainda não ter me matado, achou muito sensato me deixar para morrer desidratada e faminta. Que tipo de sequestrador ele é? Por acaso nunca leu um livro ou viu um filme? Os maníacos sempre dão comida e água as suas vítimas! E foda-se se ele não parece um maníaco, é exatamente por esse motivo de não parecer que nós nunca sabemos quem eles são.

- Não disse em nenhum momento que você é surdo, eu disse que eu estou com fome e com sede. - Eu rebato no mesmo tom - Vai me matar desse jeito ou o que?

- Se te matar de fome e de sede for calar essa sua matraca que não para um minuto, talvez eu deva considerar fazer isso.

- Mas demoraria muito.

- Não te perguntei porra nenhuma.

- Como você é grosso. - Brigo com ele, fingindo estar ofendida.

- E grande também, mas isso você não pode ter o prazer de constatar.

- Ridículo! - Xingo alto para que ele ouça bem. O homem se vira para mim com uma de suas modeladas sobrancelhas perfeitamente arqueada.

- Me xingue de novo e eu não trago um copo de água sequer para você. - Ele ameaça, e essa é a única coisa que me faz calar a boca.

Durante um minuto, é claro.

- Fome! Sede!

- Deuses, como é insuportável! Eu já entendi que você está com sede e com fome, eu só não me importo. - O carrancudo cospe as palavras.

Faço um biquinho chateado e mexo os dedos dos meus pés por dentro do tênis branco que eu uso. Está quente demais dentro dele, meus pés estão suando.

- Pode tirar meus sapatos? Está muito quente, vou ficar com chulé. - Peço, como se não fosse nada. Mas não é, ele só estaria me fazendo um favor.

O moreno larga de vez as facas que limpava, e vira-se completamente para mim. Ele está sentado numa cadeira a quase três metros longe de onde eu estou, suas facas e produtos de limpeza estão em cima de uma mesa branca e redonda, sua cadeira é giratória, também branca. Ele me encara incrédulo, como se eu tivesse proferido um absurdo.

- Como é que é? - Sua voz é baixa, controlada, mas sem dúvidas contém uma descrença escancarada.

- Pedi para você tirar meus sapatos.

- Será que... - Ele passa os dedos pela testa, parece irritado - Será que você já entendeu o que está acontecendo aqui?

- Aqui? - Me refiro a toda a situação. Ele assente - Bem, você me sequestrou, e pretende me matar. É isso, sim?

- É. - O homem concorda, assentindo com a cabeça, como se estivesse me induzindo a concluir algo.

Junto as sobrancelhas. Ele é doido? Que cara mais confuso.

- Certo, aparentemente eu entendi. Eu quero saber o que isso tem haver com o fato de meus pés estarem suando e eu ter pedido para você tirar meus tênis.

O Carrancudo respira fundo, olha para mim, e aparenta entrar num dilema entre me dar uma facada ou simplesmente gritar comigo. Bem, a primeira opção me parece mais benéfica, mas não acho que ele vá fazê-la.

Dirty Love • AU shirbert • EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora