Morrer é muito fácil, viver é muito mais difícil.
Eu entendi bem o que isso significa, porque se estou sendo sincero, desde o dia em que Anne Cuthbert apareceu na minha vida, ficou bem mais difícil para mim de se viver.
A desgraçada conseguiu entrar na minha cabeça, assombrar os meus sonhos, tirar o meu sono, me deixar irritado e excitado quase que na mesma medida. É uma coisa estúpida de se pensar. Preciso e vou matá-la, esse é o objetivo, esse é o plano.
Mas como vou prosseguir se a pessoa que mais deveria ter medo de mim, na verdade zomba e pede para que eu faça logo o que eu já deveria ter feito? Como seguir com o plano de amedrontá-la para tirar a sua vida, quando não consigo nem me aproximar sem querer agarrar aquele cabelo tão bonito e foder ela com força até que a mulher veja estrelas?
Eu tentei impor ordem, impor limites, quase a matei de verdade quando a maldita resolveu flertar com a porra do meu amigo. Quem caralhos ela pensa que é? Onde ela pensa que está? Acha que está dando uma volta num clube noturno e pode sair dando esse tipo de abertura para algum cara qualquer? Acreditou que ficaria por isso mesmo?
Cuthbert precisa entender que pertence a mim agora. Eu tenho a sua vida na palma das minhas mãos. Eu decido qual será o seu destino. Eu dou as ordens. Eu imponho os limites. Eu a escolhi.
Eu, eu, eu, eu e eu.
E que se foda o quanto territorialista ou possessivo isso soe, é desse jeito que as coisas funcionam. Ela é uma vítima. A porra de uma vítima, nada mais que isso. Mas mesmo assim, continua sendo minha vítima.
Mas, apesar do meu pensamento, foi uma decisão terrível ter tentado colocar ordem sobre ela. Terrível. Em hipótese alguma eu deveria ter cedido à aquela voz baixa e sedutora, à aquele olhar penetrante que fitou a minha boca, eu não deveria ter olhado para a sua, e muito menos deveria ter me deixado levar pelo momento e falar tão perto. Tão perto dela.
Não sou capaz ficar perto normalmente, pelo menos não quando ela está acordada, porque todo o meu autocontrole parece se esvair quando se trata dessa mulher petulante e estupidamente linda em absolutamente todos os movimentos que faz.
Não sou capaz de evitar chegar cedo no galpão, deixar as luzes apagadas, esperar meus olhos se acostumarem com a pouca - quase nenhuma, causada pelas paredes brancas - iluminação, e observá-la.
Me aproximar, ouvir sua respiração calma e suave, indicando que está num sono profundo, erguer o seu rosto com a maior delicadeza que consigo para não acordá-la, dedilhar suas bochechas, seu nariz, seu maxilar, olhar para cada detalhe seu e tentar com toda força desvendá-la. Perguntar silenciosamente quem ela é de verdade e por que está se atrevendo a bagunçar a minha cabeça, fazendo meu corpo me trair.
Está ficando cansativo de conviver, porque a mulher parece ter um único objetivo esses últimos dias: me irritar. E, diferente do que ela já havia se acostumado, eu não tenho engajado em nenhuma de suas provocações, e Deus do céu, nunca pensei que pudesse ser tão difícil ignorar alguém.
Eu faço tanto isso, mas claro, claro que seria difícil com ela.
Enfio minhas chaves no bolso do sobretudo para que não façam barulho quando eu entrar no galpão. Abro a porta, fechando-a logo em seguida, sem bater nem trancar, para não correr o risco de acordar a ruiva que eu tenho certeza que ainda está adormecida. Fico parado por alguns segundos, deixando minha visão se acostumar com o ambiente escuro, e quando começo a enxergar o lugar com mais clareza, ando cautelosamente até a mulher que vem sendo o motivo das minhas noites mal dormidas.
Não tenho mais amarrado suas mãos para trás, sabia que ficava muito difícil para que ela dormisse, não queria que seu sono ficasse leve e que Cuthbert acordasse com qualquer barulho mínimo e acabasse me flagrando. Sendo assim, a ruiva tem um pouco mais de liberdade para se arrumar na cadeira e dormir minimamente melhor, visando que suas pernas também estão soltas.
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Dirty Love • AU shirbert • EM ANDAMENTO
RomansaAquela em que Gilbert Blythe, um sádico sequestrador e assassino a sangue frio, captura Anne Cuthbert, enquanto a ruiva entrava em seu próprio carro. A última coisa que ele esperava era que sua nova vítima fosse uma mulher obcecada pela morte e que...