Conselhos Entregues ao Vento

Se Deixe Viver

Eu gostaria de saber quando que viver se tornou algo tão complicado... Que necessita planejamento, dedicação e preparação. Se o dom da vida está em nós, nascemos com ele, por que não podemos, simplesmente, deixar as coisas seguirem o seu curso natural? Deixar as coisas acontecerem pode mesmo ser assim tão ruim? O que não falta no mundo são músicas falando sobre deixar a vida fluir (e estão aí os clássicos Zeca Pagodinho e Skank|11| que não me deixam mentir), porém, certa vez, ouvi em um lugar — o qual, infelizmente, não lembro onde foi — que "o problema de deixar a vida acontecer, é que nada acontece"; mas... Será mesmo? Eu acredito em Destino, gosto de pensar que certas coisas já estão previamente escritas nas páginas dos livros de nossas histórias; aquele velho enredo de que "o que tiver que ser seu será", não importando o tempo que leve. Creio fielmente que estamos predestinados a viver determinados momentos, ser protagonistas de algumas crônicas com as quais damos de cara durante o decorrer da vida. Seja encontrar pessoas, alcançar feitos e/ou participar de atos únicos e pontuais, todos estamos designados a cumprir certos acontecimentos.

Sim, temos o livre arbítrio, somos quase os únicos escritores de nossas próprias histórias — e eu digo "quase" porque, sinceramente, qualquer um sabe que não temos o privilégio de conseguir controlar e decidir absolutamente tudo em nossas vidas, somos todos suscetíveis aos imprevisíveis acasos —, entretanto, penso que todos já presenciamos certas sinalizações de que existem coisas destinadas a nós e nós a elas, consequentemente. Sinais como: encontrar, por total acidente, uma mesma pessoa mais de uma vez durante a vida; ou receber elogios por capacidades que você nunca percebeu ou nunca se interessou por apreciá-las também; ou ser admirado, procurado e respeitado por um talento que você renega; entre tantas outras evidências que o destino provavelmente já foi capaz de ter lhe enviado em algum momento; tudo... Todos estes eventos singulares são indicativos das predeterminações que o Destino colocou no seu caminho, e cabe a você ouvi-las e segui-las ou não.

Algumas pessoas acreditam que ter uma sina traçada lhes tira a liberdade de fazer as suas próprias escolhas e tomar as suas decisões como lhe convir e lhe for melhor. Mas, não, não é isso. Lembro de uma vez que eu estava conversando com uma prima minha, falávamos sobre livre arbítrio e destino (ou seja lá qual for o nome que você escolha adotar) e o quanto de nossas vidas está realmente sob o nosso total controle; depois de muitas trocas de ideias, chegamos a conclusão que existem alguns fatos em nossas histórias que estão prontamente escritos/decididos a partir do início da nossa existência, ainda que as circunstâncias e momentos em que os mesmos ocorram possam ser alteradas; e entendemos, por fim, que, mesmo com pontos já determinados, todo o resto é alterável, maleável à nossa própria vontade. Para exemplificar, imagine que você está em uma estrada e tudo o que consegue ver é uma infinidade de asfalto, sempre em linha reta, porém seus olhos não são capazes de enxergar todo o caminho, apenas uma parte dele e, por isso, não veem as curvas, lombadas, buracos e divisões que existem ao longo da trajetória; à medida que sai andando, você vai escolhendo onde pisa, quais obstáculos evita e quais caminhos toma, porém, como dono incondicional da estrada, ela se modifica ao seu bel-prazer, ou seja — e essa é a parte mais importante —, ganha curvas, retornos e duplicações de acordo com o que queira, mas sempre sem perder as suas principais características físicas iniciais. A vida é sua e, como uma massinha de modelar, só você pode moldá-la, ainda que certos pontos permaneçam fixos independentemente de como escolha transformá-la.