Pelos mais Belos Olhos

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"Espelho, espelho meu,Existe alguém mais bela do que eu?|38|"

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"Espelho, espelho meu,
Existe alguém mais bela do que eu?|38|"

E era uma vez a história de mais uma pobre alma contaminada pela visão de que é o reflexo de um espelho o responsável por defini-la e limitá-la; contaminada pela ideia de que ele deterá toda a verdade, supostamente absoluta, sobre o quão bela ela é, refletindo e traduzindo a opinião "unânime" daqueles que a rodeiam.

Sim, é assim que somos introduzidos a este culto que prega, firmemente, que "a Beleza é um requisito e objetivo mínimo de vida", um conceito que chega a ser tóxico de tanto que nos é exigido, cobrado e imposto. Mas o que é beleza? O que é belo? Quem definiu isso e por quê? Hoje já somos mais conscientes de que a percepção desse termo varia de pessoa para pessoa, porém, mesmo assim, somos influenciados e nos deixamos influenciar pelo que a mídia e a sociedade determinam como "padrão de beleza" (uma regra que cultivamos em nossas mentes apenas com a função de torturar a nós mesmos e os outros que nos cercam).

Querido leitor, já lhe peço desculpas antecipadamente, mas agora terei que recorrer à teoria para prosseguir com este conselho. Se formos nos primórdios da origem da palavra "beleza", veremos que ela descende do grego clássico 'kallos'(beleza), porém, no grego koiné|39| o vocábulo empregado era 'hōraios', adjetivo derivado do termo 'hṓrā', este, por sua vez, era utilizado para se referir a "qualquer período de tempo definido', a 'estar na hora', 'no tempo|40|". Fazendo uma interpretação sobre o conceito — e recordando que toda a interpretação é válida, pois ela parte das experiências individuais de cada espectador, como bem aprendi com uma professora minha —, temos que a Beleza, na pós-Antiguidade Clássica, seria como se apresentar, física e mentalmente, de acordo com a sua respectiva idade; seria respeitar, mais do que isso, admirar a beleza e experiência natural que o nosso próprio tempo nos proporciona, sem querer adiantar ou atrasar o relógio da vida. Contudo, em algum momento da conturbada história da humanidade, essa visão sobre o "belo" se perdeu, na verdade, se distorceu. É bem verdade, sim, que o conceito de Belo/Beleza associava-se às Artes no início, tomando como um dos seus critérios-base a simetria da obra (quanto mais simétrico, mais belo), e esse mesmo parâmetro, aliado ao critério da proporção, serviu, depois, para determinar o grau da beleza humana, buscando alcançar — na verdade, encontrar — o mais alto nível de perfeição.

E por que estou falando de toda essa teoria? Porque quero lhe mostrar que "Beleza" — na sua aceitação social mais ampla — é apenas uma construção, desde o seu conceito, passando pelo reflexo que vemos no espelho e chegando até aquela que realmente mostra quem somos. Agora, deixem-me explicar: os tão conhecidos e aterrorizantes "padrões de beleza", dos quais tanto ouvimos falar, são construções que variam de acordo com três preceitos: período histórico, cultura envolvida e situação social — não sendo eles uma constante em todos os lugares do globo, nem mesmo no momento presente; contudo esses "padrões" não determinam de fato a percepção individual que cada um possui sobre o que lhe é ou não é belo, aquela conhecida história de "a perfeição está nos olhos de quem vê".

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