Dos Laços que Criamos

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Falar de dor nunca é fácil, seja ela emocional ou física, mas este é um mal que se faz necessário na constituição do nosso todo

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Falar de dor nunca é fácil, seja ela emocional ou física, mas este é um mal que se faz necessário na constituição do nosso todo. Entretanto, quando a ferida arde mais do que aquilo que estamos acostumados a aguentar, procuramos por companhias, por amigos que nos ajudem a curar o machucado, embora nem sempre eles possam estar conosco — e aí outro tipo de cicatriz pode se abrir...

Não estamos sós no mundo, ninguém está (afinal há quase 8 bilhões de pessoas no planeta, não é mesmo?!), basta que olhemos à nossa volta e veremos quantas pessoas nos rodeiam — embora a grande maioria delas esteja isolada em seus mundos particulares, presa em telas de celulares. Ainda assim, mesmo com essa imensidão de possíveis amigos, nos sentimos sozinhos... E parece que quanto mais amigos virtuais temos, mais sozinhos nos sentimos... Irônico, não? Mas o que determina uma amizade? O que define uma pessoa como uma companhia? Por que quanto mais convivemos com o mundo, mais nos afastamos dele?

Mesmo que sejamos completos desconhecidos uns para os outros, no mais profundo de nossa existência somos e sempre seremos iguais, conectados por pontos em comum, por sentimentos e dores em comum. Por mais que não acreditemos, de fato sempre haverá alguém disposto a nos ouvir, nos aconselhar, nos abraçar ou, às vezes, só estar conosco; a questão é saber abrir os olhos para conseguir enxergar e sentir onde essas pessoas estão. Acredite ou não, há momentos em que completos desconhecidos podem ser nossos melhores amigos, podem ser tudo o que precisamos naquele exato minuto, basta apenas que nos permitamos conhecer e ser conhecidos.

A vida é uma coleção de instantes que se abrem para uma infinidade de possibilidades de sermos mais felizes, dentre estas possibilidades estão os afetos que conquistamos, os pactos que firmamos com pessoas que encontramos durante a nossa intensa e aventureira caminhada. Algumas delas iremos chamar de meros conhecidos; outros, de apenas colegas; e ainda haverão os privilegiados, os quais teremos a honra de chamar de amigos. Independentemente do tipo de ligação, todos são laços que estabelecemos de forma muito natural — pois somos seres humanos e, como tal, somos seres sociáveis (ainda que uns mais e outros menos) —, mas não só por necessidade ou sobrevivência nos relacionamos. Nos conectamos porque isso é algo que nos agrada, nos faz bem e mantém a nossa sanidade mental. Muito além de ombros amigos para nos amparar, o que buscamos, e com sucesso encontramos, são pessoas com as quais possamos compartilhar experiências, fazer novas descobertas, construir histórias e dividir a riqueza de momentos que cultivamos durante a vida.

É lindo quando ouvimos, e fazemos, promessas para a eternidade; "mas, não podendo o sempre durar para sempre|21|", nos frustramos quando este chega ao seu fim e nos perguntamos se realmente vale a pena investir na confecção de tais laços, já que, cedo ou tarde, eles com certeza irão se romper, não importando qual seja o motivo. Mas assim é a vida, estamos de passagem por ela, assim como os outros estão apenas de passagem por nós.

Uma vez, conversando com uma amiga minha, refletimos acerca deste exato tema: os laços que criamos e as suas durações. Depois de meditar sobre o assunto, chegamos à conclusão de que a vida é como se fosse uma sala de teatro, a maior de todas, onde todos que conhecemos possuem seus lugares devidamente nomeados, não podendo, assim, sentar em qualquer outro local que não seja a cadeira que possui o seu exato nome. Durante a encenação da peça (vulgo as Nossas Vidas, e, portanto, possuem a exata duração dos nossos anos de vida), diversas pessoas irão chegar, se sentar, talvez participar, já que não há a quarta-parede, e ir embora. Algumas assistirão uma boa parte da peça, inclusive atuarão ativamente, se tornando parte do núcleo protagonista; outras, apesar de permanecerem por um longo tempo — tempo de menos se comparado à duração total do espetáculo —, pouco farão para que a sua presença seja notada; haverá, ainda, as pessoas que somente irão cruzar a porta da sala de teatro e que sequer terão a curiosidade de dar uma espiada no show; entretanto, a grande maioria irá entrar, se sentar, assistir, fazer um ou outro apontamento, que pode ser altamente relevante (e aqui está um ponto-chave) ou não, e logo depois partirá, rumo a assistir outras das infinitas peças que ocorrem nesse imenso recanto artístico que é a existência humana.

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