5

Fico contente quando Christopher finalmente vai embora, porque eu e Anahí podemos conversar melhor sobre a festa. Preciso de mais detalhes para acalmar meus nervos, e a presença dele não ajuda em nada nesse sentido.

— Onde é essa festa? Dá pra ir a pé? — pergunto, tentando parecer tranquila enquanto arrumo minhas botas na prateleira.

— É em uma das maiores fraternidades daqui. — Ela abre bem a boca enquanto passa ainda mais rímel nos cílios. — Fica fora do campus, então não dá para ir a pé, mas Eddy vem buscar a gente. — Fico mais tranquila por não ser Christopher, apesar de saber que ele vai estar lá.

A ideia de andar no carro dele me parece intragável. Por que é tão grosso? No mínimo, deveria demonstrar algum respeito por mim por não julgá-lo pela maneira como destruiu seu corpo com todos aqueles buracos e tatuagens. Certo, talvez eu o esteja julgando um pouquinho, mas não na cara dele.

Pelo menos sei relevar nossas diferenças. Na minha casa, tatuagens e piercings não são normais. Sempre precisei andar muito bem penteada, com as sobrancelhas arrumadas e roupas limpas e bem passadas. É assim que as coisas são.

— Você me ouviu? — pergunta Anahí, interrompendo meus pensamentos.

— Desculpe... O que disse? — Eu nem tinha percebido que estava distraída pensando no grosseirão.

— Eu disse pra gente se arrumar... você pode me ajudar a escolher minha roupa. — Os vestidos que ela mostra são tão absurdos que olho ao redor em busca de uma câmera escondida ou de alguém que vá dizer que é uma pegadinha.

Faço caretas e mais caretas, e ela dá risada, achando graça da minha reação.

O vestido — não, o pedacinho de pano — que ela escolhe é preto arrastão, deixando o sutiã vermelho totalmente exposto. A única coisa que impede que seu corpo todo fique à mostra é um forro de tecido preto por baixo que esconde algumas partes. O vestido mal cobre suas coxas, e ela ainda fica puxando para cima a fim de mostrar mais as pernas, ou então para baixo, aumentando o decote. Os saltos dos sapatos têm no mínimo uns dez centímetros. Seus cabelos castanhos estão presos em um coque meio solto, deixando algumas mechas caírem sobre os ombros, e nos olhos ela aplica um pouco mais de delineador azul e preto, deixando-os ainda mais produzidos do que antes.

— Doeu para fazer essas tatuagens? — pergunto enquanto pego meu vestido cor de vinho favorito.

— A primeira até doeu, mas não tanto quanto você imagina. É mais ou menos como uma abelha picando um monte de vezes seguidas — Anahí conta, dando de ombros.

— Não parece nada bom — respondo, e ela dá risada.

Nesse momento me dou conta de que para Anahí a esquisitona sou eu. Mas o fato de sermos tão diferentes é estranhamente reconfortante. Ela fica boquiaberta ao ver meu vestido.

— Sério que é isso que você vai usar?

Passo as mãos pelo tecido. É meu vestido mais bonito, meu favorito, um dos poucos que tenho, aliás.

— O que tem de errado? — pergunto, tentando não mostrar que fiquei ofendida.

O tecido é macio, mas bem resistente, do tipo que se usa para fazer terninhos. O decote é fechado até o pescoço, e as mangas são três quartos, indo até um pouco abaixo dos cotovelos.

— Nada, é que ele é tão... longo!

— Mal passa dos joelhos. — Não sei se ela é capaz de perceber que estou chateada, mas por alguma razão prefiro continuar tentando esconder isso.

— É bonito, só acho um pouco formal demais pra uma festa. E se você usar um dos meus? — ela oferece com toda a sinceridade. Não consigo nem me imaginar dentro de um daqueles vestidinhos minúsculos.

— Obrigada, Anahí, mas estou bem assim — respondo, ligando na tomada meu babyliss.

After Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora