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Depois de vários dias exaustivos — mas estimulantes —, finalmente chega a sexta-feira, e minha primeira semana de aula na faculdade está quase acabando. Satisfeita com a maneira como as coisas se encaminharam, planejo ficar vendo filmes no fim de semana, já que Anahí provavelmente vai sair e o quarto deve ficar bem tranquilo. Como tenho em mãos o programa de todas as matérias que vou cursar, posso ir adiantando muita coisa.

Pego minha bolsa e saio mais cedo, aproveitando para comprar um café para começar o dia com mais energia.

— Dulce, certo? — diz uma voz feminina atrás de mim enquanto aguardo na fila. Quando me viro, dou de cara com a menina de cabelo cor-de-rosa da festa. Demi. Acho que foi assim que Anahí a chamou.

— Sim. Isso mesmo — respondo, já virando para o balcão e tentando não dar trela.

— Você vai à festa de hoje à noite? — ela pergunta. Apesar de saber que está tirando sarro da minha cara, solto um suspiro e me viro. Quando estou prestes a responder que não balançando a cabeça, ela acrescenta: —Você deveria, vai ser demais. — Ela passa os dedos curtos pelo antebraço todo tatuado.

Fico sem reação por um instante, mas balanço negativamente a cabeça e digo:

— Sinto muito, tenho outros planos.

— Que pena. Pablo ia gostar de ver você. — Não consigo segurar a risada, mas ela insiste, abrindo um sorriso. — Que foi? Ele estava falando de você ontem mesmo.

— Duvido... mas, mesmo que estivesse, tenho namorado — revelo, fazendo o sorriso se escancarar ainda mais em seu rosto.

— Que pena, poderíamos ir em casais — ela diz de um jeito meio malicioso, e agradeço a Deus em silêncio quando meu café fica pronto. Na pressa, acabo pegando o copo com força demais, e um pouco de café transborda e queima minha mão.

Solto um palavrão, torcendo para que não seja uma espécie de prenúncio para o fim de semana. Demi se despede com um tchauzinho, e abro um sorrisinho por educação ao sair. O que ela falou reverbera na minha mente: Como assim, casais? Ela vai com Christopher? Eles estão namorando? Por mais simpático e bonito que Pablo seja, Noah é meu namorado, e eu jamais faria alguma coisa que pudesse magoá-lo. Admito que não conversamos muito essa semana, porque estávamos os dois bem ocupados. Faço uma anotação mental para ligar para ele à noite para pôr a conversa em dia e saber como está se sentindo sem mim.

Depois da queimadura com o café e do encontro bizarro com a Cabelo Rosa, meu dia só melhora. Christian e eu combinamos de nos encontrar todos os dias no café antes das aulas a que assistimos juntos, então ele já está encostado na parede do lado de fora quando saio e me cumprimenta abrindo um sorriso bem largo.

— Hoje só vou poder ver meia hora de aula. Vou passar o fim de semana em casa — ele diz. Fico feliz em saber que vai ver Maite, mas não gosto da ideia de assistir à aula de literatura britânica sem Christian e com Christopher, caso resolva aparecer. Ele não veio na quarta. Não que tenha sentido sua falta, claro.

Eu me viro para ele.

— Mas já? O semestre acabou de começar.

— É aniversário dela, e prometi que ia estar lá — ele explica, dando de ombros.

Na sala de aula, Christopher senta ao meu lado, mas não diz uma palavra, nem mesmo quando, conforme o prometido, Christian sai depois de apenas meia hora, o que torna sua presença ainda mais incômoda.

— Na segunda-feira vamos começar a discutir Orgulho e preconceito, de Jane Austin — anuncia o professor Hill ao final da aula. Não consigo esconder meu contentamento, e tenho quase certeza de que solto um gritinho de alegria. Já li esse romance no mínimo dez vezes. É um dos meus favoritos.

After Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora