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O restante do fim de semana passa rápido, e consigo evitar Christopher. Na manhã de domingo saio para fazer compras antes que apareça e quando volto ele aparentemente já foi.
Minhas novas roupas enchem minha pequena cômoda até a boca, mas a voz irritante de Christopher passa pela minha cabeça. Você sabe que estamos indo para uma festa, e não para a igreja, certo, Dulce Maria?
Acho que ele diria o mesmo sobre as novas roupas, mas decido que não vou mais acompanhar Anahí nas festas, ou em qualquer outro lugar em que Christopher possa estar. Ele não é boa companhia, e ficar o tempo todo me estranhando com alguém é cansativo.
Finalmente chega a segunda-feira, meu primeiro dia de aula, e não poderia estar mais preparada. Acordo bem cedo para poder tomar banho sem pressa e sem garotos por perto. Minha camisa branca e minha saia bege de prega estão impecavelmente passadas e prontas para usar. Eu me visto, prendo os cabelos e ponho a mochila nas costas. Já estou quase saindo — uns quinze minutos antes da hora, para não chegar atrasada — quando o despertador de Anahí toca. Ela aperta o botão de soneca, e fico pensando se não é melhor acordá-la. Mas suas aulas podem começar mais tarde que as minhas, ou ela pode estar planejando não ir. A ideia de faltar no primeiro dia de aula me deixa apavorada, mas ela está no segundo ano, deve saber o que está fazendo.
Depois de uma última espiada no espelho, vou para minha primeira aula. Estudar o mapa do campus se revela uma boa ideia, e encontro o primeiro prédio ao qual devo ir em menos de vinte minutos. Quando entro na sala da aula de história, a classe está vazia, a não ser por uma única pessoa.
Como se trata de alguém que também se preocupa em ser pontual, me sento ao seu lado. Ele pode se tornar meu primeiro amigo por aqui.
— Onde está todo mundo? — pergunto, e ele sorri, de uma forma que me deixa imediatamente à vontade.
— Provavelmente correndo pelo campus para conseguir chegar aqui em cima da hora — ele brinca, e nossa conexão é imediata. Era exatamente isso que eu estava pensando.
— Meu nome é Dulce Saviñon — digo, abrindo um sorriso simpático.
— Christian Chávez — ele se apresenta, abrindo um sorriso adorável.
Passamos o restante do tempo antes do início da aula conversando. Ele quer se formar em inglês, assim como eu, e tem uma namorada chamada Maite. Não tira sarro de mim nem altera seus modos quando conto que Noah é mais novo que eu. Quando a sala começa a se encher, Christian e eu fazemos questão de nos apresentar para o professor.
À medida que o dia passa, começo a me arrepender de ter escolhido cursar cinco matérias em vez de quatro. Tenho que correr para chegar à aula de literatura britânica, optativa, quase chego atrasada e dou graças a Deus por ser a última do dia.
Fico aliviada quando vejo Christian sentado na primeira fila, e um lugar vazio ao seu lado.
— Oi de novo — ele diz com um sorriso quando me sento.
O professor dá início à aula distribuindo a programação do semestre e falando um pouco sobre ele, sobre o que o levou a começar a dar aulas e sobre seu amor pela literatura. Fico feliz com o fato de a faculdade ser diferente do ensino médio e de os professores não obrigarem os alunos a se apresentar diante da sala ou fazer coisas embaraçosas e desnecessárias.
No meio da explicação sobre nossa lista de leituras, a porta se abre, e eu me pego soltando um resmungo ao ver Christopher entrando na sala.
— Que beleza — digo baixinho para mim mesma, em tom sarcástico.
— Você conhece Christopher? — Christian pergunta. Ele deve ser bem famoso no campus para que alguém como Christian saiba quem ele é.
— Mais ou menos. Minha colega de quarto é amiga dele. Mas não sou muito fã do cara, não — cochicho.
Nesse momento, os olhos pretos de Christopher se voltam para mim, e fico com medo de que tenha ouvido. Mas e daí se tiver? Sinceramente, não faz diferença — a essa altura já ficou claro que não gostamos um do outro.
Fico curiosa para saber o que Christian tem a dizer sobre ele, e não consigo deixar de perguntar:
— Vocês se conhecem?
— Sim... ele é... — Christian para de falar e dá uma olhadinha para trás. Levanto a cabeça e vejo Christopher se acomodar na carteira ao meu lado. Christian fica em silêncio o restante da aula, sem tirar os olhos do professor.
— Por hoje é só. Vejo vocês na quarta — diz o professor Hill, dispensando a classe.
— Acho que essa vai ser minha aula favorita — digo para Christian quando saímos, e ele concorda. Mas sua expressão muda totalmente quando percebemos que Christopher está caminhando ao nosso lado. — O que você quer, Christopher? — pergunto, dando a ele um gostinho do próprio veneno. Mas pelo jeito não funciona, não sou enfática o suficiente, porque ele parece se divertir com minha reação.
— Nada. Nada. Só estou contente porque vamos fazer uma matéria juntos — ele ironiza, passando as mãos pelos cabelos e os afastando da testa. Percebo a existência de um símbolo do infinito com um desenho um pouco incomum na altura de seu pulso, e ele baixa a mão no momento em que tento observar as tatuagens ao redor.
— A gente se fala, Dulce — diz Christian, afastando-se.
— Você conseguiu fazer amizade com o maior otário da classe — comenta Christopher quando ele vai embora.
— Até parece! Ele é um cara legal, ao contrário de você. — Fico chocada com minhas próprias palavras. Christopher tem mesmo a capacidade de despertar o que existe de pior em mim.
Christopher vira a cabeça para o outro lado.
— E você está ficando mais intratável a cada conversa que temos, Dulce Maria.
— Se me chamar de Dulce Maria mais uma vez... — ameaço, e ele dá risada. Tento imaginar como ele seria sem as tatuagens e os piercings. Mesmo com tudo aquilo em cima do corpo, é muito bonito, mas sua personalidade desagradável estraga tudo.
Começamos a caminhar juntos na direção do meu alojamento, mas depois de uns vinte passos ele grita de repente:
— Para de me olhar desse jeito! — dá meia-volta e desaparece por outro caminho antes que eu possa pensar em uma resposta.
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After Love (Vondy)
FanfictionDulce, de 18 anos, sai de casa, onde mora com a mãe, para ir para a faculdade. Até então sua vida se resumia a estudar e ir ao cinema com o namorado doce que conheceu ainda criança. No primeiro dia na faculdade, onde ela passa a dividir um quarto...