Quando acordo, demoro um instante para me lembrar dos acontecimentos da noite anterior que me levaram até um quarto desconhecido. Anahí ainda está dormindo, de boca aberta, roncando de uma forma nada bonita. Decido esperar até descobrir uma forma de voltar para o campus antes de acordála.

Ponho os sapatos, pego minha bolsa e saio. Será melhor bater na porta de Christopher ou ir atrás de Eddy? Será que Eddy também faz parte da fraternidade? Eu jamais poderia imaginar que Christopher fizesse parte de um grupo social organizado, então tudo é possível.

Passando por cima de uma porção de corpos adormecidos no corredor, consigo descer.

— Eddy? — eu chamo, à espera de uma resposta.

Há pelo menos vinte pessoas dormindo só na sala. O chão está coberto de lixo e copos vermelhos, e é difícil passar bem no meio da bagunça, mas isso me faz pensar que o corredor lá de cima está limpo em comparação a isso, mesmo com tanta gente espalhada pelo chão. Quando chego à cozinha, tenho que me segurar para não começar a faxina.

Adoraria ver Christopher limpando todo aquele lixo, e esse pensamento me faz soltar uma risadinha.

— Qual é a graça?

Eu me viro e dou de cara com ele entrando na cozinha com um saco de lixo na mão. Christopher passa o braço pelo balcão, derrubando os copos dentro do saco.

— Nenhuma — minto. — Eddy mora aqui também?

Ele me ignora e continua limpando.

— Sim ou não? — pergunto de novo, com um tom mais impaciente dessa vez. — Quanto antes me disser, mas rápido vou embora daqui.

— Certo, agora você me convenceu. Mas não, ele não mora aqui. Por acaso ele parece um cara de fraternidade? — Christopher abre um sorrisinho irônico.

— Não, mas nem você — eu rebato, e Christopher cerra os dentes.

Ele passa por mim e abre um armário perto da minha cintura, de onde tira um rolo de papel toalha.

— Tem algum ônibus que passa aqui perto? — pergunto, apesar de não esperar uma resposta.

— A um quarteirão daqui.

Eu o sigo pela cozinha.

— Você pode me dizer onde fica o ponto?

— Claro. A um quarteirão daqui — ele responde, abrindo um meio sorriso de provocação.

Reviro os olhos e saio da cozinha. O lapso de civilidade de Christopher ontem foi claramente uma exceção, e hoje ele vai se voltar contra mim com toda a sua força. Depois da noite que tive, não quero nem pensar em ficar perto dele.

Subo para acordar Anahí, que desperta com uma facilidade surpreendente e sorri para mim. Fico feliz que já esteja bem o suficiente para sair daquela maldita república.

— Christopher disse que tem um ponto de ônibus a um quarteirão daqui — conto enquanto descemos a escada.

— Nem ferrando que vamos de ônibus. Um desses idiotas vai levar a gente de volta. Ele devia estar só provocando você — diz Anahí, pondo a mão no meu ombro.

Quando entramos na cozinha, Christopher está tirando latas vazias de cerveja de dentro do forno.

— Ucker, está pronto pra levar a gente embora? Minha cabeça está latejando — ela diz, com toda a autoridade.

— Sim, claro, só um minutinho — ele responde, como se estivesse à espera desse pedido desde o início.

No caminho de volta para o campus, Anahí canta junto o heavy metal que Christopher põe para tocar enquanto dirige com as janelas escancaradas, apesar do meu pedido educado para que ele as fechasse. Sem abrir a boca, Christopher batuca distraidamente com os dedos compridos no volante.

Não que eu esteja prestando atenção nele.

— Volto mais tarde, Any — Christopher diz quando ela desce do carro. Anahí responde com um aceno de cabeça e se despede com um gesto enquanto saio pela porta de trás. — Tchau, Dulce Maria — ele diz com um sorrisinho presunçoso.

Reviro os olhos e entro com Anahí no alojamento.

After Love (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora