17
Christopher me dá uma encarada agressiva, mas ao mesmo tempo insegura.
— Por que está me perguntando isso?
— Sei lá... porque sempre fui legal com você, e você só me trata mal. — Em seguida acrescento: — E achei que poderíamos ser amigos... — Essa frase soa tão idiota que aperto meu nariz com força com o indicador e o polegar enquanto espero sua resposta.
— Nós dois? Amigos? — Ele dá risada e joga as mãos para cima. — Não está na cara por que não podemos ser amigos?
— Pra mim, não.
— Bom, pra começar, você é certinha demais... Deve ter sido criada em uma daquelas famílias ideais, em uma casa igual a todas as outras do bairro. Seus pais deviam comprar tudo o que você queria e nunca deixaram faltar nada. E aquelas saias de prega... Fala sério, quem ainda usa isso aos dezoito? — Fico de queixo caído.
— Você não sabe nada sobre mim, seu babaca arrogante! Minha vida não é nada disso! Meu pai é um alcoólatra que foi embora de casa quando eu tinha dez anos, minha mãe teve que se matar de trabalhar para eu poder entrar na faculdade, e eu arrumei um emprego assim que fiz dezesseis anos para ajudar a pagar as contas. E eu gosto, sim, das minhas roupas... sinto muito se não me visto como uma piranha, como as outras meninas que você conhece! Para alguém que faz tanta questão de ser diferente, você é bem preconceituoso com pessoas que não são como você! — grito, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.
Eu me viro para que Christopher não tenha a satisfação de me ver assim, mas percebo que ele está com os punhos cerrados. Como se sentisse raiva.
— Quer saber, Christopher, não quero ser sua amiga — digo antes de pôr a mão na maçaneta da porta. A vodca, que me dá mais coragem, também torna mais aguda a tristeza de uma situação como essa.
— Aonde você vai? — ele pergunta. Tão imprevisível. Tão genioso...
— Pegar o ônibus pra voltar pro meu quarto e nunca mais pôr os pés aqui. Estou cansada de tentar ser amiga de vocês.
— Está muito tarde pra pegar ônibus sozinha. — Eu me viro para encará-lo.
— Por acaso faz diferença para você se vai ou não acontecer alguma coisa comigo? — Dou risada. Não consigo entender aquelas mudanças de tom.
— Não estou dizendo que faz... só estou avisando. Não é uma boa ideia.
— Bom, Christopher, não tenho outra opção. Está todo mundo bêbado... inclusive eu.
Nesse momento as lágrimas começam a rolar. Sinto-me mais humilhada do que nunca porque, de todas as pessoas no mundo, é Christopher quem está me vendo chorar.
— Você sempre chora em festas? — ele pergunta baixando um pouco a cabeça, com um sorrisinho no rosto.
— Pelo jeito, sim, ou pelo menos quando encontro você. Como estava nas duas únicas que fui... — respondo, já abrindo a porta.
— Dulce Maria — ele diz tão baixinho que quase nem ouço. A expressão em seu rosto é indecifrável. O quarto começa a girar, e eu me seguro em uma cômoda perto da porta. — Está tudo bem? — ele quer saber. Faço que sim com a cabeça, apesar de estar tonta. — Por que você não senta um pouco antes de ir pegar o ônibus?
— Pensei que ninguém podia ficar no seu quarto — digo antes de sentar no chão.
Solto um soluço, e ele me avisa imediatamente:
— Se você vomitar aqui...
— Acho que preciso beber água — falo, e começo a me levantar.
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After Love (Vondy)
FanfictionDulce, de 18 anos, sai de casa, onde mora com a mãe, para ir para a faculdade. Até então sua vida se resumia a estudar e ir ao cinema com o namorado doce que conheceu ainda criança. No primeiro dia na faculdade, onde ela passa a dividir um quarto...